Tarefa inadiável
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Tarefa inadiável

Para derrotar a extrema direita é necessário combater toda a amplitude do projeto fascista brasileiro

Israel Dutra 24 mar 2024, 08:35

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Temos a tarefa inadiável de enfrentar a extrema direita. Como já discutimos em outros editoriais, a presença da extrema direita na vida política é um processo permanente que tem como projeto destruir os direitos conquistados ao longo do século passado, legitimar as opressões e restringir as liberdades democráticas. Nessa semana podemos elencar quatro acontecimentos que indicam a necessidade do enfentamento à extrema direita: (a) a prisão de Mauro Cid; (b) o pronunciamento do Ministro Lewandovsky prometendo em breve novas revelações no caso Marielle; (c) a ida dos governadores Tarcisio e Caiado para Israel, em apoio ao genocídio de Netanyahu; (d) a discussão sobre a política de Lula de cancelar atos relativos aos 60 anos da ditadura.

Apesar de temas complexos, diversos, há um ponto comum entre eles: a extrema direita está organizada e atuando para construir sua agenda, disputando com política cada fato da conjuntura. Enquanto o governo atua para conciliar com os golpistas e o centrão, qual papel da esquerda que não quer baixar as suas bandeiras?

Um projeto integral

Não se pode pensar a política do bolsonarismo sem enxergar sua integralidade. As diversas frações que atuam em seu interior tem se expressado de forma unida nos temas centrais da conjuntura que referimos acima.

Quanto a prisão de Bolsonaro e de sua trupe, sabendo que a prisão de Mauro Cid é um passo adiante para o cerco se fechar, o bolsonarismo busca contestar nas ruas, com a manifestação da Paulista, o STF e as investigações. Para pressionar o governo a buscar um pacto que assinale a “borracha” no passado recente, anistiando os envolvidos no genocídio da Covid e os golpistas de 8 de janeiro. A abertura do sigilo dos 27 depoimentos à PF comprova que o 8 de Janeiro não foi uma “baderna improvisada” e sim um perigoso plano- frustrado, é verdade- onde tomaram parte figuras centrais do bolsonarismo e da cúpula das Força Armadas.

O bolsonarismo vai seguir polarizando, nas redes, parlamentos e nas ruas, para desacreditar as investigações acerca do crime que assassinou Marielle, para impor sua narrativa mentirosa que se tratou de um “crime mais”. A confirmação dos responsáveis deve levar à hipótese do envolvimento entre agentes políticos e grupos milicianos paramilitares. Mesmo que não tenha a digital imediata do clã Bolsonaro, é um erro estúpido desvincular as atividades das mílicias da representação política da extrema-direita. É não só um vínculo orgânico como são as mílicias – junto as forças de segurança estatais- os mais perigosos componentes do mosaico da extrema direita brasileira.

Caiado e Tarcisio aplaudem e legitimam o exterminio de Palestinos em Gaza – como contraponto ao papel de Lula- para respaldar o epicentro do neofascismo : a barnárie promovida por Benjamim Netanyahu. Tarcisio vai além: ele mesmo avança militarmente contra a juventude negra e periférica, vide a barbárie da Operação Escudo, na Baixada Santista. E abraça a pauta de restrição das liberdades democráticas e da linha dura do “hiperencarceramento” para imitar o salvadorenho Bukele, outro referente em ascensão na constelação dos bolsonaristas.

60 anos depois, tragédia e farsa

Do ponto de vista do governo e das correntes majoritárias do movimento de massas há uma desorientação. Isso é nítido na demora, hesitação e esvaziamento dos atos do dia 23 de março. O que poderiam ser uma resposta – se bem construída e articulada nas ruas- se tornaram atos protocolares e diminutos.

A política do governo de evitar atos sobre os 60 anos da ditadura é um erro histórico. É um recuo diante do bolsonarismo e da caserna, além de uma brecha para negociação de supostas anisitas.

A extrema-direita vai agitar sua narrativa negacionista, evocando a “revolução de 1964”. A Comissão da Verdade, extinta por Bolsonaro, fica mais longe de ser retomada, sob o argumento governista de que não há ‘relação de forças’.

Estamos dedicando a nova edição da Revista Movimento aos 60 anos da ditadura, com materiais inéditos com muita qualidade, como entrevistas com Vladimir Safatle, Bruno Paes Manso e Flavio Tavares.

Os sujeitos políticos ativos do golpe de 1964 estão resignificados com o bolsonarismo, mantendo a integra de seu programa e projeto de guerra contra o movimento de massas e de um regime fechado e autoritário. São os que querem desmoralizar Marielle e pressionar para a impunidade que lhes dê carta branca para seguir conspirando para um futuro golpe. São apologistas da morte e da tortura. Seja nos porões do DOPS ou nas periferias de Santos. Subornidados ao imperialismo, seja ao USAID ou ao sionismo em nova roupagem.

Há que recordar. Há que elaborar para não repetir. Assim podemos gritar, com consciência: Sem Anistia! Cadeia para os assassinos de Marielle, para Bolsonaro e sua clã golpista.


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Pedro Micussi