Complicado que no futebol tenha que decidir um homem
O recente ataque contra machismo contra a árbitra Daiane Muniz é mais um triste exemplo cotidiano do machismo no futebol
Foto: Conmebol
Imagine que seu ambiente de trabalho é estruturado em uma lógica que questiona, irredutivelmente, o seu trabalho. Essa é a realidade de trabalho machista de muitas mulheres que tem um tom mais escandaloso no ambiente do esporte, como foi divulgado recentemente pela TNT esportes. Como torcedora, obviamente fico revoltada com a incompetência da arbitragem brasileira. Mas nem se compara ao sentimento ao ouvir o áudio abaixo. É como um déjà vù da nossa própria experiência no trabalho e na política. Não precisa ser fã de futebol (ou do grêmio) para sentir indignação com a postura de Flávio Rodrigues de Souza no áudio divulgado pela CBF:
https://www.youtube.com/shorts/HJ-gjZMqbAk
Quando falamos sobre deslegitimação da palavra de uma mulher, esse vídeo é o exemplo mais pragmático. A árbitra explica pacientemente três vezes, enquanto Flávio está completamente sem paciência para o seu pedido de reavaliação. Mas não só isso, evidentemente para ela ser paciente e ‘’didática’’ é uma rotina. Como se não bastasse, o técnico do Vasco deu entrevista deslegitimando o trabalho de Daiane Muniz naquele jogo: ‘’Complicado que no VAR tenha que decidir uma mulher’’.
As imagens, o áudio e esse comentários parecem uma grande piada. Nesse caso, o machismo serve para encobrir a incompetência masculina. Para que assumir um erro se posso apenas dizer que uma mulher é incopetente por ser mulher? Aposto todas as minhas fichas que Daiane Muniz passou por isso muitas outras vezes. E também aposto no feminismo e na competência das trabalhadoras do esporte para mudar essa realidade, às vezes com paciência, mas sempre com firmeza, insistência e coragem. As jogadoras do Corinthians também deram sentido a essas palavras, na semana passada, em denúncia ao retorno de Kleiton Santos, acusado de assédio, ao posto de técnico do time do Santos.
Nós como feministas temos que seguir esses exemplos, apoiar as mulheres do esporte e denunciar o Machismo e o Racismo Estrutural. O futebol é parte da mente coletiva do povo brasileiro e revela seus melhores e piores sintomas. Por isso, devemos estar com as mulheres que vivem e lutam nesse ambiente todo dia: as árbitras, as jogadoras dos times femininos, as torcidas antifascistas e a nossa Seleção Feminina, que entregou muito mais esporte que a masculina, na minha opinião.
Vanessa Quadros, gremista, militante do Juntas e do MES/PSOL