No Ceará, docentes lutam por direito de se mobilizar
Sindicato concilia com governo e assembleia de professores termina em confusão
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O incompreensível entendimento de parte da militância de que servidores públicos não podem fazer justas reivindicações por valorização da carreira durante governos de esquerda pode gerar indesejadas crateras políticas. Prova disso é o desfecho da assembleia dos professores estaduais da educação básica do Ceará, que terminou com o presidente do sindicato da categoria (Apeoc) expulso a cadeiradas.
A assembleia, realizada na quinta-feira (4), foi convocada para decidir sobre uma possível greve da categoria. A maioria dos mais de 3 mil profissionais presentes se posicionaram a favor da paralisação. Porém, a direção da Apeoc – dirigida pela burocracia PT e do PC do B – se recusou a colocar a pauta em votação.
Ao jornal O Povo, o professor Alan Lima afirma que “a pauta foi modificada unilateralmente” para votar a aceitação da proposta do governo Elmano de Freitas (PT), dentre elas o reajuste de 7,3% para profissionais temporários, 10% a 15% para efetivos estáveis e 12% a 17% para professores com doutorado.
A situação causou revolta em parte dos professores que, aos gritos de “Ih, fora”, expulsaram o presidente do sindicato, Anízio Melo, do recinto. Alguns chegam a atirar cadeiras e papeis contra ele. Mais tarde, o dirigente justificaria a decisão dizendo que “não era legalmente permitido votar greve com mesa de negociação em andamento”. Os vídeos do episódio viralizaram nas redes sociais.
Batalha nas universidades
Os professores universitários do Ceará também estão mobilizados. As universidades Estadual do Ceará (Uece) e Regional do Cariri (Urca) entraram em greve na quinta-feira (4, reivindicando aumento de 35,7%, melhores condições de trabalho, realização de concursos públicos e convocação do cadastro reserva, melhorias e reformas na infraestrutura das universidades, garantia do direito do restaurante universitário (RU) às e aos estudantes, entre outros pontos.
Porém o governo do estado propôs reajuste de apenas 5,62% para todas as servidoras e os servidores, a partir de julho, sem considerar o pagamento retroativo, o que é ilegal. Como se não bastasse, o governador Elmano Freitas recorreu à Justiça para decretar a ilegalidade da greve. O petista ainda pediu que as lideranças sindicais fossem multadas caso o movimento prosseguisse.
É, no mínimo, curiosa essa perseguição aos docentes e seus representantes no Estado que se vende como a “melhor educação do país”. A contradição também é expressa pelo governo Lula (PT) diante da paralisação das universidades federais. Onde está a propalada valorização dos servidores? Teriam perdido a liberdade de lutar por melhorias?
Os fatos indicam que sim. Nesta sexta-feira (5), os servidores da Educação do Ceará e do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), também em greve, planejaram um protesto Elmano de Freitas durante a visita do presidente Lula ao Estado, porém, tiveram suas faixas e cartazes retidos pela segurança.
“Não estamos aqui para tumultuar, como dito, estamos aqui para chamar a atenção e sensibilizar o governador e, quem sabe, até o presidente da República, se for o caso, para que eles vejam de fato a nossa luta, que não é só por nós, mas é por nós, por nossos familiares e também pela população cearense, que merece um trabalho de qualidade”, disse um servidor do Detran.
Decepcionantes decisões de governos que conciliam com a burguesia, mas não com a classe trabalhadora.