Por que os antifascistas comemoram a volta do St. Pauli à Bundesliga? 
st-pauli-especial

Por que os antifascistas comemoram a volta do St. Pauli à Bundesliga? 

Para comemoração dos antifascistas no mundo, o St. Pauli volta a Bundesliga treze anos depois

Júlio Pontes 13 maio 2024, 20:40

Trezes anos depois, o time de Hamburgo volta a primeira prateleira do futebol alemão. O último jogo em casa válido pela Bundesliga, no icônico Millerntor-Stadion, aconteceu em 2011 contra o Bayern de Munique e terminou 8×1 para os visitantes. A distância no placar era um presságio, que “condenou” o todo-poderoso às glórias e o modesto ao fracasso: o Bayern emplacou incríveis 11 títulos na Bundesliga, enquanto o St. Pauli amargou 13 anos na segunda divisão alemã. Mas em tempos de sociedades anônimas de futebol, de príncipes ditadores sauditas e de oligarcas russos donos de clubes da Premier League, o St. Pauli resolveu construir sua identidade e força ao lado da torcida, reconhecida ao redor do mundo por tremular a bandeira contra o fascismo. 

Há mais clubes e torcidas na Alemanha que podem se orgulhar do seu passado. Em Dortmund, cidade de origem proletária, o Borussia viu seu presidente perder o cargo quando se recusou a ingressar no Partido Nazista. O Bayern de Munique teve um presidente judeu perseguido e exilado pelo nazismo, para o qual a principal torcida organizada rende homenagens até hoje. No subúrbio da capital alemã, o Union Berlin resistiu com as próprias forças à restauração capitalista sob a Guerra Fria, elegendo como seu rival não um clube de futebol mas o próprio governo alemão-oriental. Mas nada se compara ao rebelde e – ao menos agora – indomesticável St. Pauli, para quem a cantilena neoliberal do futebol moderno jamais reservaria um lugar ao sol na Bundesliga.

A radicalização do St. Pauli é relativamente recente se posta em comparação a sua história centenária. O clube do distrito da Luz Vermelha começou a ser contagiado pelas ideias de esquerda nos anos 1980, quando tomavam espaço as convulsões sociais em Hamburgo. Muitos trabalhadores da indústria naval foram jogados a própria sorte com o processo de automação desse setor. Os trabalhadores sem teto que ocupavam prédios públicos e enfrentavam as ações da polícia contaram com o apoio e a resistência dos moradores de St. Pauli. Do lado oposto, a Frente de Ação Nacionalista infiltrava grupos neonazistas na torcida do seu maior rival: o Hamburgo. Essa combinação convulsiva posicionou o St. Pauli ao lado da luta antifascista, pela qual passou a ser reconhecido internacionalmente como mais que um clube.

Nos anos que se seguiram, entre 1980 e 1990, símbolos, saudações e cânticos nazistas passaram a ter lugar nas arquibancadas alemãs. Em 1991, o St. Pauli tornou-se o primeiro clube a proibir manifestações racistas e nazistas no Millerntor. Não por acaso até hoje o clássico St. Pauli e Hamburgo é considerado um dos mais violentos do futebol alemão. 

O St. Pauli passou à prova da mercantilização do futebol acumulando 11 milhões de torcedores e simpatizantes, tornando-se o clube com mais torcedoras da Alemanha. Como afirmou Gerd Wenzel em sua coluna ao DW, o St. Pauli passou a personificar os valores que defende e compartilhá-los com seus muitos torcedores. Não como “um movimento político por acaso vinculado ao futebol […] mas como um clube de futebol por acaso vinculado a um movimento político”, como na brilhante síntese de Leandro Vignoli em “À Sombra de Gigantes”. 

No último domingo (12), quando o St. Pauli enfim consagrou seu retorno a Bundesliga, não parecia haver distinção entre o futebol e o movimento político. As ruas Hamburgo foram tomadas pelos torcedores, com as bandeiras de pirata (símbolo da torcida cujo ativismo fez a política britânica associá-lo ao terrorismo), com bandeiras LGBTQIAPN+ (que estampa a braçadeira do capitão Jackson Irvine), com faixas de apoio aos refugiados e, por óbvio, cantos antifascistas. 

Não sabemos se e até quando o St. Pauli resistirá à mercantilização, ao futebol moderno. Até aqui, não sem contradições, resistiu. Sobreviveu. Agora passa de sobrevivente a integrante da primeira divisão do futebol alemão, uma das três ligas mais importantes da Europa. Sua simples presença ali é um manifesto, que inquieta a extrema-direita. Há treze anos, quando participou da Bundesliga pela última vez, sequer existia a AfD (partido de extrema-direita). Hoje não só existe, como ocupa 10% do parlamento. No inicio deste ano, mais de um milhão de pessoas foram às ruas contra esse partido. Sinal de que os piratas não estarão sozinhos na sua empreitada dentro e fora de campo. 

Parte 2 – Salvar o mundo e o St. Pauli do sionismo


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 12 nov 2024

A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!

Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6x1
A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi