Porto Alegre mergulha em caos e primeiro pedido de impeachment de Melo chega à Câmara
União das Associações de Moradores de Porto Alegre responsabiliza prefeito por novo colapso da cidade. Ação deve ser votada na segunda-feira
Foto: Mateus Raugust/PMPA
Doze das 23 Estações de Bombeamento de Água Pluvial (Ebap) de Porto Alegre estão paradas; o nível do Rio Guaíba continua em elevação; moradores da região central da Capital evacuam às pressas. Notícias da semana passada? Não, são notícias recentes da maior cidade gaúcha, novamente castigada pelas chuvas desde quinta-feira (23), mas especialmente castigada pela incompetência do governo municipal.
O colapso se apresentou sob diferentes formas e todas apontam para o governo do prefeito Sebastião Melo (MDB). Água brotando dos bueiros, o lixo – de móveis e eletrodomésticos que a prefeitura mandou os moradores largarem no meio da rua, prometendo presteza na retirada – boiando em meio aos carros que tentavam atravessar zonas alagadas. Tudo isso contornado pelo cheiro de esgoto que o Guiba vomita de volta à cidade.
Eis algumas das razões que motivaram um pedido de impeachment contra Melo. Ele foi protocolado na Câmara Municipal na tarde desta quinta-feira, pelo secretário-geral da União das Associações de Moradores de Porto Alegre (Uampa), Brunno Mattos da Silva. A justificativa principal é a “ negligência da Prefeitura no cuidado das Estações de Bombeamento e do sistema de drenagem urbana da cidade, e que causaram o maior desastre ambiental e climático da história de Porto Alegre”.
O documento se baseia em um manifesto assinado por engenheiros que fizeram o primeiro alerta de que o sistema de proteção contra inundações é capaz de enfrentar eventos extremos como o que a cidade vive há 15 dias, mas que carecia de manutenção permanente, especialmente em relação às comportas e casas de bombas. O pedido ambém acrescenta uma denúncia feita pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSOL), de que o governo municipal tem ciência das deficiências desde 2018.
Por fim, aponta que mais uma vez, o governo municipal ignorou alertas meteorológicos que indicavam elevado volume de chuvas em temporais a partir de quarta-feira:
“Ainda, como se toda a situação até aqui exposta neste processo já não fosse calamitosa em demasia, no dia de hoje, 23 de maio de 2024, o que se desejava e esperava não ocorrer, ocorreu, novamente por negligência e omissão do poder público municipal, a cidade ALAGOU novamente, bairros e ruas que até o presente momento não tinham sido atingidas pelas águas, ficaram completamente intransitáveis, causando o maior transtorno aos cidadãos porto-alegrenses, que se encontram na fase de limpeza e reconstrução de suas residências, comércios, locais de trabalho, etc.”.
O pedido de impeachment deve ser levado a votação na próxima-segunda-feira. Com o presidente da Câmara, vereador Mauro Pinheiro (PL), sendo aliado de Melo, assim como dois terços dos parlamentares da Casa, a perspectiva é de que não dê em nada. Mas ainda assim deve colocar os vereadores contra a parede ante a uma cidade destruída e uma população que exige soluções eficazes e eficientes para retomar suas vidas com alguma normalidade