Sebastião Melo ‘privatiza’ reconstrução da Capital gaúcha
Sebastião Melo

Sebastião Melo ‘privatiza’ reconstrução da Capital gaúcha

Prefeito de Porto Alegre contratou consultoria da americana Alvarez & Marsal, empresa que contratou Sergio Moro e limpou a barra de firmas envolvidas na Lava Jato 

Tatiana Py Dutra 16 maio 2024, 14:00

Foto: Mateus Raugust/PMPA

Ainda que Porto Alegre conte com a qualidade de especialistas em meio ambiente, infraestrutura e gestão – contando, inclusive, com o celeiro de mentes da prestigiada Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) -, o prefeito Sebastião Melo (MDB), anunciou, na segunda-feira (13), a contratação da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal para fazer um plano de recuperação da capital. A parceria dispendiosa com uma empresa da outra ponta do continente foi firmada graças ao decreto de estado de calamidade pública que permite contratações sem licitação. Que bela oportunidade, não?

Segundo o prefeito, a Alvarez & Marsal trabalhará gratuitamente por 60 dias – tempo que, sabemos, não é suficiente para elaborar um plano detalhado de reconstrução. O que for desenvolvido após dois meses será pago (e muito bem pago) pelos contribuintes, que ainda nem sabem o tamanho da conta que virá.

“Um dos sócios dessa empresa é gaúcho, porto-alegrense. Ele se sensibilizou com o processo e nos procurou para ajudar”, explicou o prefeito Sebastião Melo. Conforme o prefeito, a Alvarez & Marsal “não vai cobrar nada” nos primeiros 60 dias de atuação. “No meio do caminho nós vamos estabelecer, se ela tiver que permanecer, vai ter custo”, disse o prefeito, sem projetar valores.

‘Limpadores de barra’

De seu histórico de serviços na terra do Tio Sam constam serviços orçados em mais de US$ 15 milhões. Mas este nem é o ponto mais controverso da “benesse” de contar com seu projeto. A empresa fez fama ao criar parcerias com a iniciativa privada, de forma a desonerar o poder público da responsabilidade de, por exemplo, gerir seu ensino público, como ocorreu em Saint Louis, no Estado do Missouri, há 20 anos, e em Nova Orleans, na Louisiana, após a passagem do furacão Katrina, em 2005. Em ambos os casos, a Alvarez & Marsal manipulou a opinião pública para aceitar um sem fim de transformações com um discurso de que o poder estatal é ineficiente. 

No Brasil, a Alvarez & Marsal se tornou conhecida após a empresa – que também é célebre por limpar a barra de firmas metidas em escândalos –  assumiu processos de recuperação judicial de empresas envolvidas na Operação Lava Jato. Convenientemente, após deixar a magistratura e o governo Bolsonaro, o “juiz verdugo” da vergonhosa operação, o hoje senador Sérgio Moro, passou uma temporada como consultor da empresa.

Do que se conclui que…

Não se pode dizer que Sebastião Melo “bate prego sem estopa” quando faz suas escolhas. A água nem baixou e a grita contra o prefeito já é grande na capital pela ineficiência de sua gestão. Boa parte do Estado está ciente que seu governo foi negligente na manutenção do sistema de proteção contra cheias na Capital – cujo efeito foi deixar boa parte da região metropolitana submersa.

A falta de água em boa parte da cidade, bem como o alagamento de bairros que tradicionalmente não eram reconhecidos como vulneráveis a cheias são responsabilidades agora colocadas na conta do Executivo e sua campanha sórdida de sucateamento do Dmae, empresa de água esgoto do município, que Melo tanto luta para ver nas mãos da iniciativa privada.

A barra da gestão Melo está tão suja que as promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e de Habitação e Ordem Urbanística e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) vão instaurar uma ampla  investigação relativa a essas e outras questões.

Ocorre que é ano eleitoral e Melo deseja a reeleição. Como uma enchente monumental não é cabo eleitoral adequado para seu projeto de poder, seria mesmo indicado contar com os conselhos de uma empresa cuja especialidade é usar a mídia para limpar a barra de gente graúda, e que seja useira e vezeira do discurso privatista para entregar o investimento público nas mãos da iniciativa privada.

Por essas e por outras, parlamentares de esquerda começam a se mobilizar para questionar a contratação junto ao Ministério Público de Contas. Afinal de contas, a conta virá. E será em dólar.


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