Deputadas do PSOL recorrem à Procuradoria de SP contra censura de livros
Prefeitura de São José dos Campos recolheu das escolas livros sobre histórias de mulheres cientistas
Foto: Reprodução
Que o obscurantismo da extrema direita trabalha contra a cultura, contra a educação e contra as mulheres, todos sabemos. Mas nem por isso deixamos de ficar surpresos com as bizarrices que eles promovem sob qualquer pretexto.
Exemplo disso é a retirada de dois livros infantojuvenis sobre cientistas mulheres das escolas da rede municipal de São José dos Campos, há cerca de duas semanas. A gestão do prefeito Anderson Farias Ferreira (PSD) acatou a queixa do vereador Thomaz Henrique (PL) contra o box “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas” porque uma das personagens retratadas na obra é a antropóloga Débora Diniz. O motivo? Seu histórico de pesquisa sobre aborto.
“Este livro está nas bibliotecas das escolas públicas municipais para crianças, para meninas da 5ª série. Com uma linguagem simples, infantil, até pueril, mas estimulando elas a ter como referência uma mulher que é a principal apologista da legalização e da descriminalização do aborto no Brasil”, disse o vereador em plenário. “Porque quem permitiu isso precisa ser punido. Porque eu não acredito que o prefeito concorde com isso. Esse livro tem que ser recolhido das escolas públicas municipais. Ou nós vamos colocar crianças, meninas de 5ª série tendo como referência uma senhora que defende há décadas o aborto aqui no Brasil? Lendo esse conteúdo e depois entrando no Instagram para ver o que ela defende”, afirmou.
A despeito de os livros não mencionarem o tema aborto, nem sequer na parte referente a Débora Diniz, as obras foram recolhidas. A medida levou as deputadas federais Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) a entrarem com representação na Procuradoria de São Paulo contra a prefeitura para suspender a censura.
“O recolhimento constitui um ato ilegal, lesivo ao patrimônio público e contrário aos princípios constitucionais. Não aceitaremos que os fundamentalistas avancem com a censura de conteúdos educativos. Contem com nosso mandato e com Frente Parlamentar em Defesa do Livro, Leitura e Escrita, que presido. Sigamos por mais mulheres e meninas na ciência e contra a censura”, diz Fernanda, que também é bibliotecária.
As obras
Os livros “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas” (Editora Mostarda) foram escritos pela juíza no Tribunal de Justiça de São Paulo e juíza-ouvidora do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávia Martins de Carvalho. As obras contém ilustrações e versos que contam um pouco da história de mulheres de destaque em diversos campos das ciências, como Lélia Gonzalez, Ruth Bader Ginsburg, Jaqueline Góes de Jesus, Nise da Silveira e Marielle Franco.
O livro é indicado para crianças a partir de três anos. Em nota, a Editora Mostarda se disse surpresa com o recolhimento dos livros:
“Repudiamos qualquer tipo de censura e defendemos que obras que promovem o pensamento crítico e o exercício da cidadania devem permanecer nas escolas, sem quaisquer impedimentos de ordem autoritária”.