Ex-deputado que ameaçou ‘colocar cabresto na boca’de deputada é condenado
welington-moura

Ex-deputado que ameaçou ‘colocar cabresto na boca’de deputada é condenado

Em decisão inédita da Justiça Eleitoral, o bolsonarista Wellington Moura terá que pagar indenização à Monica Seixas (PSOL) e está proibido de acessar locais onde a parlamentar esteja exercendo seu mandato

6 jun 2024, 11:00

Foto: Divulgação

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), em decisão inédita, condenou o ex-deputado estadual Wellington Moura (Republicanos) pelo crime de violência política de gênero. Em maio de 2022, o político agrediu verbalmente a colega Monica Seixas (PSOL), dizendo que “sempre colocaria um cabresto na boca” da parlamentar, numa tentativa de impedir que ela usasse seu direito de falar durante a votação da cassação do mandato de Arthur do Val (União), em sessão na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

A atitude do então deputado – que não concorreu à reeleição para coordenar a campanha do seu correligionário e atual governador, Tarcísio de Freitas – chocou pelo cunho racista e sexista. Após o ocorrido, Monica protocolou um pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar, todavia, em novo ato omisso e misógino, o Conselho de Ética da Alesp sequer admitiu a abertura do processo e julgamento do mérito.

Contrariando a decisão do colegiado, na última sexta (31), o TRE-SP condenou Wellington Moura. A Corte determinou que o ex-parlamentar pague R$ 44 mil de reparação por danos à deputada, além de ter impedido seu acesso à Assembleia Legislativa e qualquer outro local onde Monica esteja exercendo as funções de seu mandato, num prazo de dois anos e oito meses. Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, o bolsonarista ainda foi proibido de deixar a cidade de São Paulo sem aviso e justificativa prévia, terá que comprovar frequência em curso sobre letramento em gênero e deverá se apresentar mensalmente ao cartório eleitoral para relatar suas atividades.

Sancionada em 2021, a Lei nº 14.192 incluiu no Código Eleitoral o artigo 326-B, tipificando o crime de violência política de gênero. Desde que o dispositivo entrou em vigência, essa é a primeira decisão no país que condenou o agressor a reparar financeiramente a vítima, imputando penas que não foram convertidas em prestação de serviço comunitário.

A advogada Renata Cezar, que fez a defesa de Monica, explica a importância da sentença:

“É a primeira no estado de São Paulo por violência política de gênero e a primeira no Brasil que, além de condenar efetivamente o réu, repara o dano moral sofrido pela vítima e impede que o réu retorne ao local que cometeu o crime”. Rosana Rufino, co-responsável pela ação jurídica em nome do mandato, completou que “a condenação tem um caráter pedagógico ao demonstrar que serão punidas essas condutas até então aceitáveis, e que ainda reproduzem a discriminação racial, reforçando que as parlamentares estão protegidas pela legislação em vigor”. 

Monica Seixas comemorou a determinação no TRE-SP, mas destacou que o arquivamento de pedido de cassação feito pelo Conselho de Ética da ALESP, à época, representou um apoio institucional sobre a atitude de Moura por seus pares.

“A condenação é muito simbólica. Ainda que estejamos num país que registra sete queixas de violência política de gênero a cada 30 dias, são milhares de parlamentares afetadas no exercício da política, o que atinge também nossa democracia. Essa decisão servirá para mostrar que nenhuma mulher eleita será calada. Expressar opiniões ou ponto de vista deve ser garantido a todas as parlamentares em qualquer casa legislativa”, declarou.

A deputada estadual espera que Justiça Eleitoral adote medidas parecidas nos demais estados, garantindo que as mulheres –  ainda minoria nas Câmaras e Assembleias – possam “ser ouvidas e respeitadas, sem medo de que algum homem ameace calar suas bocas, cortar microfone, negar a fala ou constrangê-las sob qualquer justificativa ou argumento”.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi