Nunca os ricos foram tão ricos
Pesquisa mostra que número de milionários e suas fortunas bateram recorde. E que é preciso taxá-los logo
Foto: Gimphy
Um estudo da consultoria Capgemeni publicado na semana passada revelou que nunca como hoje o mundo teve tantas pessoas ricas e sua fortuna nunca foi tão grande. A pesquisa “World Wealth Report”, realizada em 71 países, considera ricos aqueles cujo e capital disponível ultrapassa US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões).
Essa parcela da população cresceu 5,1% em um ano, chegando a 22,8 milhões de pessoas em 2023. Já a fortuna desta categoria aumentou 4,7% no período, e seu patrimônio total avaliado em US$ 86,8 trilhões (R$ 454,5 trilhões). É um recorde da série histórica da pesquisa, iniciada em 1997, catapultada pelo crescimento das Bolsas de todo o mundo.
No Brasil
Artigo de Livi Gerbr, Pesquisadora do Centre for International Corporate Tax Accountability and Research (Cictar), e Nathalie Beghin, do Colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) publicado na Folha de S.Paulo destaca a posição do Brasil nesse cenário.
Conforme o trabalho, nos últimos cinco anos, cinco famílias bilionárias brasileiras acumularam R$ 22 bilhões em dividendos recebidos de suas empresas. E como o Brasil não taxa esse rendimento, os valores entraram “limpinhos” em suas contas. As pesquisadoras fizeram um rápido exercício imaginativo para projetar os benefícios aos cofres públicos caso fossem cobrados impostos apenas dessas mesmas cinco famílias. Aplicada uma alíquota de 24%, como na média europeia, o governo federal poderia ter arrecadado ao menos R$ 5,3 bilhões. Daria para custear o Programa Nacional de Alimentação Escolar para mais de 40 milhões de alunos de escolas públicas com refeições diárias por um ano.
“Esse exemplo ilustra uma questão estrutural das desigualdades no Brasil: 60% da renda do 1% mais rico é composta apenas por dividendos, o que significa que, no geral, os muito ricos pagam, proporcionalmente, poucos impostos. Portanto, a tributação dos dividendos deve aparecer como uma medida urgente na reforma tributária em curso no país”, dizem as pesquisadoras..
Imposto sobre a riqueza
O economista francês Gabriel Zucman defende um imposto global sobre a riqueza. Ele analisa que se fosse implementada uma taxa de apenas 2% sobre a riqueza de um grupo de 3 mil bilionários, a medida liberaria US$ 250 bilhões adicionais em receitas com imposto – contribuindo na redução das desigualdades.
“Ao imposto global sobre a riqueza devem somar-se outros mecanismos de contenção da enorme drenagem de recursos praticada pelos muitos ricos e pelas grandes empresas privadas. As multinacionais e os bilionários possuem uma série de ferramentas a seu dispor – inalcançáveis para a maioria das pessoas e empresas – para fugir dos impostos e que levam os países a perderem cerca de US$ 480 bilhões por ano. A não taxação de dividendos no Brasil é só um exemplo de um emaranhado de brechas legais e ilegais construído pelos muitos ricos para pagar pouco ou nenhum imposto”, finalizam Gerbr e Beghin.