Venezuela: manifesto por uma outra campanha 
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Venezuela: manifesto por uma outra campanha 

Com os candidatos postos, as eleições de 28 de julho trarão mais do mesmo para a sofrida população do país. Movimento sugere, então, uma outra campanha, que inclua as principais demandas e lutas do povo

Foto: RS/Fotospublicas

O povo é sábio. Resiste quando o poder econômico e político age contra ele e, a partir daí, se organiza e acumula forças. Ele tem razão em se rebelar contra a destruição de seus direitos. Essa resistência e rebelião são formas de proteger suas vidas e sua dignidade.

As eleições na Venezuela ocorrem em um momento no qual seu povo está enfrentando um de seus momentos mais sombrios. A grande maioria está ficando mais pobre, enquanto alguns poucos estão ficando cada vez mais ricos; nossos filhos e filhas, a geração de referência, são obrigados a migrar para sobreviver, deixando-nos a solidão e a tristeza; a crise dos serviços públicos nos condena a ficar horas e horas sem luz, sem água, sem gás para cozinhar; ir a um hospital público torna-se quase uma sentença de morte e nossas crianças mal veem algumas horas de aula por semana; os trabalhadores ganham salários de fome; As conquistas trabalhistas não são respeitadas nem pelo Estado nem pelos patrões privados; os protestos em massa de trabalhadores, camponeses e todos aqueles que se mobilizam em defesa de nossos direitos são criminalizados; nosso direito democrático de decidir em quem votar é violado quando os partidos são judicializados ou os candidatos inabilitados, ou quando grupos violentos tentam se impor no país pela força ou com o apoio de potências estrangeiras. 

A corrupção é desenfreada e impune, e as instituições estão cada vez mais podres e de costas para o povo. A pilhagem de nossos recursos, por meio de roubo descarado e da entrega a países estrangeiros ou bloqueio, agravou o empobrecimento do povo. Nossos direitos estão sendo liquidados para o benefício dos ricos, sem distinção entre os que governam e os que se dizem oposição, e o país está sendo leiloado para quem der o maior lance. Ambos são responsáveis por esse estado de coisas, ambos pretendem continuar com a destruição do país e a espoliação dos trabalhadores. 

Uns e outros assassinam a constituição

Essa situação desesperadora à qual condenam nosso povo é consequência da crise estrutural do capitalismo venezuelano, das políticas neoliberais e do bloqueio dos EUA. Ninguém nega o efeito das sanções, mas, sem dúvida, elas recaíram principalmente sobre os ombros dos pobres, daqueles de nós que vivem do nosso trabalho, conforme demonstrado pelo enriquecimento grosseiro de alguns, pelos atos contínuos de corrupção e pela forma como o capital cresce e cresce à sombra da miséria do povo. Nesses anos de sanções, houve a maior transferência de recursos da nação para as mãos de novos e antigos grupos econômicos, tanto nacionais quanto transnacionais, e nenhum dos candidatos à presidência expressa as aspirações e os interesses dos trabalhadores. Todos mantêm como fórmula mais do mesmo: sair da crise com o sacrifício do povo, aplicando políticas que promovem a miséria e a exploração, tendo o austericídio como solução. Que o custo da crise deve ser pago por aqueles que menos têm. 

Mais do mesmo. Aconteça o que acontecer nas eleições de 28 de julho, a situação dos trabalhadores e dos despossuídos não mudará substancialmente, porque, embora os principais candidatos pareçam se odiar, eles realmente compartilham a mesma política econômica que favorece os privilegiados. E é por isso que propomos essa outra campanha, a campanha necessária. A campanha dos que estão no chão, dos silenciados, dos que não contam para nenhum dos candidatos: os empobrecidos de todas as cores, os trabalhadores, pensionistas, aposentados, membros da comunidade, mulheres, os milhões de trabalhadores autônomos, os jovens que não conseguem encontrar um emprego decente e que são perseguidos e maltratados pelas forças de segurança, de todos os setores discriminados, oprimidos e excluídos. A outra campanha é uma campanha de baixo para cima. Das lutas, dos anseios, das esperanças que os traficantes do desânimo e do conformismo (aqueles cuja melhor oferta é dizer que os outros são piores do que eles) não conseguirão matar.

A outra campanha não tem outro candidato a não ser as lutas do povo. Não seguiremos aqueles que só tem a oferecer mas mais do mesmo. Seguiremos  um programa popular que atenda aos anseios e às lutas por nossos direitos, dos quais nenhum candidato fala. Um programa popular que se proponha a limpar o país em meio à corrupção e ao grande desperdício da riqueza da nação por todas as elites. Um programa popular que mostre que há uma saída para esse labirinto sem que os pobres paguem o preço. Que é possível sair da crise devolvendo ao povo seu protagonismo, seus direitos, aos trabalhadores, seus salários, convocando os milhões de jovens que tiveram de deixar o país para reconstruir juntos a pátria que nos foi tirada. Que possamos recuperar os direitos que nos foram tirados nos últimos anos. Que outra economia seja possível, sem exploração e dominação, baseada na justiça e na solidariedade. A outra campanha tem como objetivo contribuir para nossa própria agenda, que inclui nossas principais demandas e lutas para resistir ao ataque das políticas regressivas dos governantes e daquelas defendidas pela direita tradicional.

Seja qual for o seu voto em 28 de julho, votando ou não, pouca coisa mudará. Nesse dia, cabe a todos decidir como exercerão seu direito. Mas as esperanças não devem ser depositadas no resultado dessa eleição. Somente as lutas do povo e a organização dos despossuídos serão capazes de mudar o país, como tem acontecido ao longo da história. Não vamos nos apoiar em soluções vindas de cima. Somente o povo salva o povo. A outra campanha não é para o dia 28 de julho, mas para ir além, para mudar o país. É por isso que pretendemos nos encontrar nas lutas, nas ideias, nos debates, com os homens e mulheres que lutam todos os dias por um país melhor, a fim de nos prepararmos para os tempos que virão. É por isso que a outra campanha acompanha as lutas e a organização popular e classista, a unidade do povo para defender seus direitos. A outra campanha tem o objetivo de contribuir para o horizonte emancipatório em direção a uma sociedade sem exploração e dominação. A outra campanha deve servir para nos unir, na direção da formação de um agrupamento político, independente e democrático do povo trabalhador, que promova a construção de uma alternativa dos explorados, um polo de resistência à investida neoliberal, para defender nossas condições materiais de vida e os interesses da nação.

Nossa campanha é para lutar!

Não às sanções dos EUA que empobrecem o povo e enriquecem os corruptos!

Que aqueles que têm mais paguem pela crise!

Sem luta e organização, não haverá recuperação salarial, nem resgate de nossos trabalhadores!

Pensões e aposentadorias dignas!

Pelo retorno de nossos migrantes!

Vamos nos livrar das ilusões, vamos nos preparar para lutar!

Quem quer que vença, os direitos do povo serão defendidos!

Contato: laotracampana2024@gmail.com

PLATAFORMA POPULAR PARA A OUTRA CAMPANHA 

Organizações

– Coordenação Autônoma Independente dos Trabalhadores (Cait) 

– SINATRA-UCV

– Luta de classes / Corrente marxista internacional

– Esquerda Revolucionária

– Corrente Revolucionária David Hernández Oduber (CREDAHO)

– Vozes Anti-imperialistas

– Bloco Histórico Popular

– Movimento Nacional do Petróleo. 

– Vanguardia Obrera Socialista VOS (Vanguarda Operária Socialista)

– Comitê de Familiares e Amigos pela Liberdade dos Trabalhadores Presos (Committee of Familiares and Amigxs por la Libertad de los Trabajadores Presos)

– Surgentes, Coletivo de Direitos Humanos

– Patriotic Salvation Patriotic Board (Conselho Patriótico de Salvação)

– Fundação Exército Emancipador

– La Garganta Poderosa – Venezuela – Comitê de Defesa Laboral e Legal dos Trabalhadores de Anzoátegui (CDLLT)

– Outra Voz – Anzoátegui

– Movimiento Independiente Revolucionario de Aragua (MIRA) (Movimento Revolucionário Independente de Aragua)

– PSDC Agropecuaria 13 de Abril -Cumanacoa/Es￾tado Sucre

– Movimento 21 de Janeiro Petrolero

– Ateneu Popular

– Movimento 21 de Janeiro Petrolífero

– Associação Civil Comunitária “Negra Matea, RL ”Pessoas físicas

– Luis Bonilla-Molina, professor e pesquisador em ciências sociais e educação 

– Oscar Feo, professor universitário

– María Alejandra Díaz, advogada constitucional

– Carlos Dürich, ativista e pesquisador independente

– Andrés Antillano, professor universitário

– Juan Carlos Rodríguez, ativista e pesquisador independente

– Juan Carlos Rodríguez, ativista revolucionário 

– Emilio Guerrero Gutiérrez, jornalista

– Luis Duno, professor universitário

– Antonio González Plessmann, ativista de direitos humanos

– Miguel Ángel Contreras, professor universitário

– Livia Vargas González, professora universitária

– José Luis Fernández-Shaw . Sociólogo

– Virginia King. Defensora de direitos humanos

– Elena Gonzalez, educadora popular

– Juan Ramón Guzmán, poeta, editor e colunista

– Thaís Rodríguez, comunicadora social

– William Toro, Vanguardia Obrera Socialista (Vanguarda dos Trabalhadores Socialistas)

– Edicso Tales, Vanguarda dos Trabalhadores Socialistas

– Ana Contreras, Vanguarda dos Trabalhadores Socialistas

– Oswaldo Aldana, Vanguardia Obrera Socialista

– Lesman Tejeras, Vanguardia Obrera Socialista

– Zuleika Matamoros. Ativista política. Comunicadora alternativa e popular. Membro da Aporrea. Educadora

– Alejandro Bruzual. Pesquisador e escritor

– José Luis Ibrahim Esté, Bloque Histórico Popular (Bloco Histórico Popular)

– Aldemaro Sanoja Barinas, Bloque Histórico Popular (Bloco Histórico Popular)

– Cesar Hernández Zulia, Bloco Histórico Popular (Bloco Histórico Popular)

– Inyerbert Gutiérrez, Bloco Histórico Popular (Bloco Histórico Popular)

– Sergio Giménez, Bloco Histórico Popular

– Henry Sánchez, Movimento 21 de Janeiro Petrolero

– Derwis Arias, Movimiento 21 de enero petrolero (Movimento 21 de janeiro petrolífero)

– Carlos Márquez, Movimiento 21 de enero petrolero (Movimento do Petróleo 21 de Janeiro)

– Jorge Vergara, cientista político

– José Mendoza, advogado trabalhista do observatório Giussepe Raspa

– Telêmaco Figueroa, professor

– Antonio Rubio

– José Félix Valera, lutador social


TV Movimento

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A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 06 dez 2024

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Autores

Pedro Micussi