Dez anos sem Plinio
Uma crônica sobre o militante histórico que construiu o PSOL nos últimos anos de vida
Domingo de sol. Linda manhã. Não poderia ser um melhor cenário para celebrar a memória daquele que dedicou sua vida consciente a serviço da transformação social. A missa em homenagem a Plínio de Arruda Sampaio, na ocasião de dez anos de sua partida, foi uma bela celebração.
Em 8 de Julho de 2014, Plinio nos deixou, aos 83 anos. No último dia 7 de julho, a missa realizada na Capela São Judas Tadeu, na Mooca, serviu como ato político, contando também com a pauta em defesa da população em situação de rua. A missa foi celebrada por Padre Júlio Lancelotti, contando com mais de 300 presentes, além de uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. Sendo perseguido pela extrema-direita, que lançou uma cruzada abjeta, com fake News e montagens circulando em grupos, Padre Júlio usou seu espaço para defender a causa dos mais pobres. Justo na semana, onde o polêmico projeto de um vereador da capital paulistana que multava qualquer tipo de doação de comida para pessoas em situação de rua foi objeto de intenso debate. Lancelloti basicamente defendeu a necessidade de seguir com as ações em defesa dos que estão mais vulneráveis, com coragem e solidariedade e lembrou a obra e caminhada de Plinio de Arruda.
Como ateu, mantive a postura que adoto nos espaços religiosos que participo, em virtude de tarefas políticas. Uma posição de respeito à fé e religiosidade dos presentes, mas sem participar diretamente do cerimonial e dos ritos, o que sempre foi muito comum na relação com Plinio e seus apoiadores mais diretos ligados à Igreja.
O público era diverso, com um forte acento em lideranças do movimento social e pastoral. Militantes e quadros do PT, do PSOL, da velha guarda da esquerda e da ala crítica da Igreja se fizeram presentes. O ápice foi a fala dos dois filhos de Plinio, ao final, mencionando a trajetória do pai, seu legado, o papel de Marieta e convocando ao futuro. Plininho, filho mais conhecido de Plinio encerrou as homenagens contando a alegria e combatividade com que o pai abraçou o projeto de transformação, seu papel na história recente do país. Concluiu com um “Viva a Revolução Brasileira”.
As recordações de Plinio são essenciais na história do PSOL. Candidato derrotado às eleições internas no PT, em 2005, liderou a ala esquerda desse partido que veio a se somar no PSOL, meses depois. A campanha de 2010 para presidência foi outro marco importante, resgatando programa e sendo firme nos embates ideológicos. De alguma forma antecipou o que viriam a ser figuras como Sanders e Corbyn(ainda que sem o peso de massas dessas mesmas lideranças), despertando simpatia entre os jovens, utilizando a autoridade de sua idade avançada para defender a coerência.
Recordo pessoalmente de dois grandes momentos: nas jornadas de Junho de 2013, Plinio esteve em nossa coluna, entre os jovens, emprestando seu prestígio para aquele protesto, que estava sendo acusado de “radical” pela imprensa; e depois, quando foi um dos primeiros a assumir a ideia do nome de Luciana Genro para ser a candidata à presidência da República pelo PSOL em 2014, naquela eleição marcante.
Termino essa “crônica” recordando as palavras de Plinio de Arruda Sampaio no último debate da eleição presidencial de 2010, um verdadeiro libelo contra o pragmatismo corrosivo que assola a esquerda: “é preciso tenacidade, é preciso força; é preciso não esconder a realidade, falar as coisas como elas são”.
Plinio de Arruda Sampaio vive na história da esquerda brasileira.