Se aproximam as eleições municipais: colocar o programa no centro da atividade política
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Se aproximam as eleições municipais: colocar o programa no centro da atividade política

As próximas eleições municipais brasileiras serão uma etapa importante da luta contra a extrema direita

Israel Dutra e Roberto Robaina 17 jul 2024, 09:59

Foto: Stefano Figalo/BdF

Nos próximos três meses, vamos mergulhar numa forma intensa de luta política para conquistar votos e apoio do povo nas eleições municipais de outubro. Nosso país tem como característica a repetição de eleições de dois em dois anos – ora gerais, ora municipais – legando a essa atividade um caráter relevante para a esquerda que tem como ambição chegar ao movimento de massas. A partir da próxima semana, já teremos as convenções partidárias, selando acordos com candidaturas, programas e alianças, ainda que a campanha oficial comece apenas em agosto.

A eleição se dará no marco de uma crescente polarização com a extrema direita, que é mundial e aqui se expressa na luta do setor golpista para voltar à presidência em 2026. O outro tema civilizatório que deve pautar com uma força inédita é a questão socioambiental, após a catástrofe do Rio Grande do Sul.

Vamos nos empenhar na disputa eleitoral, via o PSOL e suas diversas táticas para barrar a extrema direita, mas colocar a centralidade da necessidade da defesa de um programa.

O quadro eleitoral

A derrota da extrema direita, através da unidade e da mobilização da esquerda junto às direções do movimento operário e social, chamou a atenção e foi celebrada. É um sopro de esperança, diante das incertezas sobre a disputa estadunidense, na qual Trump vai se consolidando como favorito. O atentado do último sábado, quando Trump saiu ferido, corrobora essa tendência trágica.

No Brasil, a eleição municipal começa a tomar forma no debate na imprensa, seja nacional, seja nos meios locais; será um pleito bastante nacionalizado, pela presença maior e mais organizada da extrema direita localizada ao redor do bolsonarismo. A revelação do papel do aparelhamento da Abin, tendo como personagem central, Alexandre Ramagem, representante eleitoral do bolsonarismo no Rio, é parte dessa polarização. Outra peça da equação é a bolsonarização de prefeitos como Nunes, eleito na chapa de Covas, que agora gira à direita para polarizar e angariar votos da extrema direita.

Dentro desse quadro, o PSOL se organiza para a disputa, levando em conta as determinações gerais combinadas com as nacionais. São diferentes composições. Além das disputas de São Paulo – acirrada entre Nunes e Boulos -, e da reeleição em Belém, o PSOL pode ocupar um espaço expressivo em capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Vitória, Recife, Florianópolis e Curitiba. Em boa parte delas, o PT não apresenta candidato e prefere coligações ao centro. E, por óbvio, o caso de Porto Alegre, única capital do país onde a frente popular de esquerda – com Rosário e Tamyres – desponta à frente nas pesquisas. Lembrando que em Porto Alegre, o PSOL tem a bancada municipal mais votada da cidade, colocando importantes desafios para a disputa da hegemonia à esquerda.

Além disso, o PSOL disputará encabeçando a chapa em cidades médias importantes como Niterói e São Gonçalo, além de defender os postos de nossos vereadores em todo país.

A força do programa

Uma das lições do recente processo francês foi a de insistir com um programa capaz de mobilizar e disputar maioria social. Isso é oposto de entender o programa como uma abstração – seja ela maximalista em relação às tarefas – seja apenas um apanhado de contribuições de acadêmicos incapazes de ganhar corpo.

Para tanto é necessário discutir nas diferentes esferas quais elementos podem ser pontes de mobilização real, não apenas “promessas eleitorais”, inclusive incidindo na nacionalização da campanha. Isso se dá pela luta contra a extrema direita, contra qualquer tentativa de anistia e nacionalizando a crítica econômica ao arcabouço fiscal e suas nefastas consequências.

Do ponto de vista dos eixos, podemos listar algumas medidas simples, que podem e devem ser desenvolvidas: a) em relação ao eixo econômico/social: Tarifa Zero, controle público e estatal das empresas de saneamento, luz, água e esgoto, denúncia do endividamento das cidades e dos estados, fim da isenção de impostos para as grandes empresas; b) temas estruturais das cidades: reforma urbana, medidas a serem efetivadas quanto ao acúmulo das cidades feministas; câmeras e ouvidorias para as guardas municipais; c) questões socioambientais: a partir da reconstrução do Rio Grande do Sul, defesa das bandeiras ambientais centrais, sejam urbanas seja de relação com a produção da reforma agrária para merendas escolares e outros espaços públicos; d) Democráticos: corte dos privilégios, altos, salários e cargos de confiança; resgate de mecanismos de controle e participação popular; definições orçamentárias e políticas através de mecanismos de democracia direta e consultas públicas e plebiscitárias

Essas tarefas são a fonte de nossa luta e o sentido de nossa vitória, para que possamos não apenas acumular forças no presente como construir outro futuro, questionando os pilares do projeto neoliberal e transitando para uma alternativa a serviço da maioria. Só podem ser realizadas se apoiadas na luta dos trabalhadores e de todo povo, amparado no ascenso das mulheres e na negritude, com vistas a inverter a relação de forças.


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Pedro Micussi