Tupinambás reivindicam direito de recepcionar seu manto
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Tupinambás reivindicam direito de recepcionar seu manto

Em posse da Dinamarca há 350 anos, artefato roubado do Brasil foi devolvido ao Museu Nacional que impediu acolhimento conforme a tradição indígena

Tatiana Py Dutra 16 jul 2024, 09:00

Foto: Museu Nacional da Dinamarca

O Museu Nacional da Dinamarca acaba de devolver ao Brasil um tesouro ancestral do povo tupinambá, que habita o sul da Bahia: um manto feito com penas vermelhas de guará, que na cultura da etnia representa um ancião. O artefato estava na Dinamarca há 350 anos, e foi devolvido na semana passada, sob a guarda do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Seria um motivo de grande comemoração, não fosse a controvérsia gerada pelo descumprimeito de um acordo feito entre o Museu Nacional e os tupinambás para permitir que os indígenas recebessem o manto seguindo suas tradições culturais. No entanto, o item foi armazenado no acervo do museu sem o conhecimento dos donos originais da peça. O Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (Cito) divulgou uma nota no último dia 10, revelando a situação.

Conforme o comunicado, em reunião realizada em 8 de maio de 2024 – com a presença da cacique Jamopoty Tupinambá, representantes da etnia e membros do museu – foi estabelecido que haveria uma recepção coordenada pelos tupinambás ao manto, ‘como nossos anciões orientavam, para o bem espiritual do nosso povo e do próprio manto”. A promessa do Museu Nacional era de que “nenhuma decisão sobre este patrimônio material e imaterial do povo Tupinambá seria tomada sem nossa consulta”.

“Fomos profundamente surpreendidos quando Jamopoty foi informada, através de uma ligação via WhatsApp em 8 de julho de 2024, que o manto havia retornado e que já estava no Museu Nacional do Rio de Janeiro, e que seria inviável organizar uma recepção antes da abertura ao público. O manto retornou para nós, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com nossas tradições”, diz o texto.

Neste domingo (14), o diretor do museu, Alexander Kellner, usou as redes sociais para esclarecer a situação, mas suas justificativas não convenceram. Além de elogiar grandemente a bondade da Dinamarca em devolver o manto roubado,  ele atribuiu a impossibilidade da recepção tupinambá a questões financeiras e à fragilidade do material.

Os tupinambás, evidentemente, se sentem traídos e desrespeitados com o rompimento unilateral do acordo estabelecido.

“Solicitamos que o Museu Nacional do Rio de Janeiro retifique imediatamente sua postura, de acordo com o protocolo que será elaborado pelo Cito, em conformidade com o povo Tupinambá. É essencial que todas as decisões futuras sobre o manto e a cerimônia de abertura respeitem os acordos estabelecidos e reconheçam a importância cultural deste sagrado para nosso povo”, argumentam.

Outros mantos

Desde 2000, quando foi exposto na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, o povo tupinambá clama pelo retorno do manto ao Brasil. Mas somente em julho do ano passado a Dinamarca atendeu ao pedido. No entanto, outros dez mantos semelhantes, também feitos com penas de guará, permanecem em museus europeus, conforme levantamento da pesquisadora norte-americana Amy Buono, da Universidade de Chapman. Apenas no Museu Nacional da Dinamarca, existem quatro além do que foi devolvido ao Brasil.

No Museu de História Natural da Universidade de Florença, na Itália, há outros dois. Além disso, mantos tupinambás estão guardados no Museu das Culturas, em Basileia (Suíça); no Museu Real de Arte e História, em Bruxelas (Bélgica); no Museu du Quai Branly, em Paris (França); e na Biblioteca Ambrosiana de Milão (Itália). No entanto, conforme o Museu Nacional do Rio de Janeiro  não há negociações em andamento para trazer esses outros mantos de volta ao país.

Para a cacique Jamopoty, é essencial reaver os mantos que estão fora do país. 

“Acho que eles precisam devolver o que não é deles. Eles precisam devolver o que nos pertence. O pertencimento é o que faz a gente ser mais forte”, afirma a liderança indígena.


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