Violência contra a mulher cresce em todas as modalidades
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre 2011 e 2023 o número de estupros teve alta de 91,5%. Casos de violência doméstica aumentaram quase 10% só no ano passado
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Divulgado nesta quinta-feira (18), a 18ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública trouxe alguns dados positivos. É o caso da queda de 3,4% no número de mortes violentas em 2023 em relação ao ano anterior. No entanto, no recorte de gênero, as notícias são preocupantes. As estatísticas mostram alta na violência contra a mulher em todas as modalidades.
Houve 258.941 registros de agressões decorrentes de violência doméstica no ano passado, um crescimento de 9,8% em relação a 2022. As tentativas de homicídio chegaram a 8.372 casos (+9,2%) e as tentativas de feminicídio foram 2.797 (+7,1%). Já o número de medidas protetivas solicitadas foram quase um terço a mais em comparação ao período anterior: um acréscimo de 26,7%
Os feminicídios aceleraram um pouco menos. Foram registradas 1.467 mortes (+0,8). As mulheres negras seguem sendo maioria entre as vítimas (63,6%). Conforme o perfil, 71,1% delas tinham entre 18 e 44 anos, e 64,3% foram mortas dentro de casa. Em 90% dos casos, o assassino era homem – e em 63% deles, era um parceiro íntimo.
O estudo aponta ainda que entre 2011 e 2023 o número de estupros teve alta de 91,5%. Só no ano passado, houve 83.988 casos, num avanço de 6,5% em relação a 2022. Isso equivale a um estupro a cada 6 minutos. A maioria (76%) das vítimas é considerada “vulnerável” (menores de 14 anos).
Violência não é piada
A divulgação do anuário ocorreu um dia após um infeliz episódio em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma piada sobre violência doméstica em um evento com empresários do ramo alimentício no Palácio do Planalto. Na tentativa de elogiar a presença feminina na atividade, ele declarou:
“Hoje eu fiquei sabendo uma notícia triste. Tem pesquisa, [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda], que mostra que depois de um jogo de futebol aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, tudo bem, como eu. Mas eu não fico nervoso quando perde, eu lamento profundamente”, disse o petista.
Em nota, o Palácio do Planalto, o governo afirmou que “em nenhum momento o presidente Lula endossa ou endossou” a violência contra as mulheres. Ainda assim, o comentário foi repudiado por entidades de defesa da mulher. A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), autora do livro “Tudo isso é feminismo?”, qualificou como uma “‘piada’ lamentável” e acrescentou que violência de gênero é “gravíssima e não pode ser naturalizada”.