Esquerda venezuelana denuncia fraude eleitoral e repressão contra manifestações
Diversas organizações da esquerda e de trabalhadores venezuelanos não reconhecem a vitória de Maduro e exigem recontagem dos votos
Foto: Tribuna Popular/Reprodução
Via Aporrea
A recém formada Frente Democrática Popular, coalização de organizações sociais e políticas venezuelanas, e a Frente Ampla de Aposentados e Pensionistas do país denunciram as graves suspeitas de fraude nas recentes eleições presidenciais e pedem o fim da repressão policial aos protestos que atingem o país, exigindo a contagem de votos e o respeito à soberania popular. Leia abaixo informações do site venezuelano Aporrea detalhando as declarações.
Frente Democrática Popular exige contagem de votos e fim da repressão
Nesta segunda-feira, 12 de agosto, um grupo de organizações políticas, sociais e de trabalhadores anunciou a constituição da Frente Democrática Popular; uma iniciativa em defesa dos direitos e garantias constitucionais, que surge após a grave crise política deixada pelo processo eleitoral do dia 28 de julho.
A Frente Democrática Popular é impulsionada pela plataforma La Otra Campaña, pelo Partido Comunista da Venezuela, pelo partido Centrados en la Gente, pelas Vozes Antiimperialistas, pelo Movimento Popular Alternativo, pelo Bloco Histórico Popular, pelo Frente Nacional de Luta da Classe Trabalhadora, pelo coletivo EnComún e pelo PPT-APR.
Trata-se de “um esforço aberto e em processo de construção”, explicaram em coletiva de imprensa seus porta-vozes.
Em um documento apresentado à opinião pública, especificaram que sua ação
parte da defesa irrestrita da Constituição da República Bolivariana da Venezuela; sua carta de direitos humanos; suas garantias para o exercício da autodeterminação e da soberania nacional; seu modelo econômico que busca uma justa distribuição da riqueza; e seu modelo político, profundamente democrático, que estimula a participação e o protagonismo do povo.
No texto, os impulsionadores deste novo espaço afirmaram que “existem diversos fatos que geram dúvidas razoáveis sobre o resultado oficial da eleição presidencial”.
Os apoiadores chamaram a atenção para “a não realização de três auditorias posteriores ao ato de votação, entre elas, a de Telecomunicações, prevista para o dia 29 de julho” e que, se realizada oportunamente, “teria permitido esclarecer dúvidas sobre o suposto ataque informático”, denunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Na declaração, asseguraram que as organizações que fazem parte deste frente puderam constatar “em mesas eleitorais de diferentes territórios do país, onde o chavismo foi maioria no passado recente, a derrota do presidente Maduro”.
Além disso, afirmaram que uma prova dessa derrota foi “a mobilização massiva, popular e espontânea de indignação pelos resultados anunciados, que ocorreu em cidades e vilarejos do país”.
A Frente Democrática Popular expressou sua preocupação com o recurso contencioso eleitoral, apresentado pelo presidente Maduro à Sala Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). E acrescentaram
Alertamos sobre o risco de que a judicialização do processo eleitoral vise a reduzir a responsabilidade do Poder Eleitoral e rejeitamos veementemente a possibilidade de que o TSJ faça uma proclamação sem que sejam realizadas as auditorias, abertas todas as caixas e publicados os dados mesa por mesa. acrescentaram.
Os ativistas rejeitaram a repressão contra as mobilizações populares e denunciaram os processos de criminalização executados pelo Governo.
É evidente que a indignação gerada nos setores populares pelo anúncio oficial dos resultados da eleição presidencial não desaparecerá com a repressão, mas, pelo contrário, essa nova forma de violência sobre os manifestantes aumentará a ira e deslegitimará ainda mais o sistema de justiça penal e o Estado em geral
Frente Ampla de Aposentados e Pensionistas exige ao CNE a publicação das atas emitidas nas eleições de 28 de julho
O Frente Ampla Unido em Defesa dos Aposentados e Pensionistas (Ufajup) expressou nesta segunda-feira seu “profundo repúdio” ao que percebe como uma “recusa em publicar as atas” emitidas nas eleições presidenciais de 28 de julho, e exigiu sua “imediata” divulgação, a fim de garantir a “legitimidade” desses pleitos, nos quais o presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor.
Em um comunicado, manifestaram sua preocupação com o “desrespeito à vontade do povo e, em especial, aos idosos, que fizeram enormes esforços para votar”.
Na sua opinião, a “recusa em publicar as atas” e “reconhecer a verdade que todo o país e o mundo conhecem” condena os “idosos a continuar sobrevivendo com pensões de fome e miséria” e à “ausência de filhos e netos que tiveram que emigrar em busca de um futuro melhor”.
“Não respeitar a vontade de todo um país e de mais de cinco milhões de aposentados, pensionistas e idosos que votaram no dia 28 de julho também os tornará responsáveis por que (…) hoje estejamos em estado de indigência”, afirmou o Ufajup, que pediu ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a “todas as instituições” que “atuem com honestidade e responsabilidade”.
Além disso, solicitaram a implementação de “medidas urgentes para assegurar que os direitos e necessidades dos idosos sejam atendidos adequadamente”.
A vitória anunciada de Maduro pelo CNE é rejeitada pela maior coalizão de oposição – a Plataforma Unitária Democrática (PUD) – que insiste na vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia.
O órgão eleitoral, que afirma ter sofrido um ataque cibernético no dia das votações, ainda não publicou os resultados desagregados que confirmem a vitória de Maduro – contrariando seu próprio regulamento – um silêncio que tem sido questionado por várias organizações no país e por inúmeras nações.
Por sua vez, a aliança antichavista publicou em uma página web – investigada pela Promotoria – o “83,5%” das atas que confirmam, segundo a coalizão, que González Urrutia venceu por uma ampla margem.