Ricardo Nunes é investigado por desvio de verbas em creches de SP
Polícia Federal já indiciou 111 pessoas por esquema criminoso iniciado em 2018
Foto: Divulgação
Investigação da Polícia Federal (PF) encontrou indícios de desvio de dinheiro público na gestão de creches da Prefeitura de São Paulo. Ao todo, 111 pessoas são suspeitas de envolvimento no esquema – entre elas o atual prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), que segue sob investigação.
O relatório da PF, assinado pelo delegado Adalto Machado, foi concluído na terça-feira (30). No documento, ele afirma que “é suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuantes no esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo”.
A suspeita é de que o prefeito tenha recebido repasses ilegais por meio de uma empresa “noteira” que fazia a contabilidade de várias entidades que têm convênios com a prefeitura para administrar creches municipais. Entre elas, a organização social Associação Amigo da Criança e do Adolescente (Acria), que foi presidida por Eliana Targino, ex-funcionária da Nikkey Serviços Ltda., empresa de Nunes.
Segundo a investigação, entre 2018 e 2020, a Acria fez compras e contratou serviços que totalizaram R$ 2,5 milhões de uma empresa chamada Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli. Essa empresa, contudo, devolveu R$ 1,3 milhão à Acria, em transações que são alvo de investigação.
A empresa de Francisca também fez uma transferência de R$ 20 mil para a conta da Nikkey e Nunes depositou em sua própria conta dois cheques da firma, totalizando R$ 11,6 mil, segundo a PF.
Nikkey estava registrada em nome da esposa do prefeito, Regina Carnovale Nunes, e da filha do casal. Em depoimento à PF, tanto ela quanto Nunes afirmaram que era o prefeito quem comandava a empresa de fato. No relatório, o delegado da PF afirma que “faz-se necessária a continuidade das investigações em relação aos fatos envolvendo a OSC ACRIA e o então vereador Ricardo Luis Reis Nunes”.
A assessoria de Nunes divulgou uma nota em que nega que ele tenha cometido qualquer irregularidade.
“O prefeito Ricardo Nunes não foi indiciado. No procedimento, nunca houve nenhuma acusação contra Ricardo Nunes e a empresa Nikkey. Reforçamos: nenhuma acusação, nenhuma irregularidade”, afirma.
Suspeitas
Desde 2020, a Polícia Federal (PF) possui informações de que a Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria), então presidida por Eliana Targino, ex-funcionária de Nunes, realizou repasses em dinheiro para a empresa da família do prefeito, a dedetizadora Nikkey.
As investigações revelaram que a Acria desviava os recursos destinados à administração das creches por meio de compras fraudulentas, em um esquema intermediado pelo escritório de contabilidade de Rosângela, que passou a ser alvo das investigações.
Uma mulher investigada pela PF alega que Nunes recebeu dinheiro desviado das creches durante seu mandato como vereador. Rosângela Crepaldi, funcionária de um escritório de contabilidade suspeito de articular um esquema de emissão de notas fiscais falsas, afirma em uma gravação em vídeo obtida pelo Metrópoles que a empresa do prefeito recebeu dinheiro das creches sem ter prestado qualquer serviço.
“Esse repasse era todo contabilizado. Esse dinheiro entrava na conta dos fornecedores e os fornecedores repassavam o que não era de compras em devolução à empresa”, diz Rosângela. “Era repasse. Nunca prestaram nenhum tipo de serviço para mim”, disse a investigada, em depoimento revelado pela Folha de S. Paulo.
A assessoria de Nunes afirma que ele “jamais constou do inquérito e será alvo de medidas criminais pelo prefeito”, por calúnia e outras infrações penais, e “para identificar quem encomendou esse ‘depoimento’ e a auxiliou”.
Relações perigosas
A deputada estadual Sâmia Bomfim (PSOL-SP) relaciona o novo escândalo à absurda terceirização das creches na cidade de São Paulo e a manutenção de “acordos, no mínimo, suspeitos, através desses contratos”.
“Em agosto do ano passado, por exemplo, a prefeitura decidiu indenizar em R$7 milhões uma OS que administra 15 creches na cidade, mesmo após decisão judicial que isentava o pagamento. O dono? Um amigo próximo de Nunes, Benjamin Ribeiro. Agora mais um escândalo para a conta”, disse a deputada em suas redes sociais.
“Derrotar Nunes é tarefa para ontem, para colocar na ordem do dia a administração direta da educação infantil, combater a privatização da educação e os esquemas das máfias que dominam a cidade. Que a investigação vá até o fim e que o povo de SP se mobilize para tirar a cidade das mãos dessa gente!”, acrescenta Sâmia.