Experienciar estas eleições aos lados dos/das camaradas que constroem o Movimento Esquerda Socialista em toda Minas Gerais resultaram em um acúmulo político-revolucionário sem igual. Como diria o velho Engels, as eleições são o termômetro para medir em qual patamar se encontra a luta de Classe, mas independente do resultado nas urnas, redigimos este breve texto fazendo um balanço organizacional de nosso Partido Revolucionário (leia-se MES) nas eleições do município de Betim-MG.

Campanha sem Verba

Os processos de boicote gerenciados pelo aglomerado de grupos internos dentro do PSOL – intitulado Psol de Todas as Lutas (destacamos dentre eles a “Revolução” Solidária), resultaram na ausência de verbas destinadas ao município de Betim. Infelizmente, Betim não foi uma exceção no estado. Todos os candidatos e candidatas ficaram sem receber recursos suficientes para construir uma campanha minimamente digna. Apenas foram oferecidas as questões burocráticas, como a prestação de contas, e a disponibilização de R$ 2.000 em materiais, que chegaram à cidade com menos de duas semanas para o término das eleições.

É importante ressaltar que o material oferecido não era sequer útil para ser descartado, quiçá para realizar uma campanha. Foi uma situação simplesmente vergonhosa. Optamos, em conjunto, por incinerar o material, mas guardaremos alguns itens para levar ao próximo congresso do PSOL. Contudo, não se deve pensar que tudo isso foi mera coincidência.

Dentre os inúmeros problemas (seria extenso enumerá-los todos), entendemos que os escândalos envolvendo a RS, o caos na condução dos assuntos relacionados à federação PSOL-REDE, o afastamento de grupos próximos devido à falta de cuidado e o monopólio de informações (que nós do MES as recebíamos por meio de terceiros) impediram que a RS pudesse construir e preparar, ao longo dos meses, um candidato de peso. Sem dúvida, essa foi uma das principais razões para que não houvesse a destinação de recursos para Betim.

Em outras palavras, a solidariedade para com o povo em luta não existe entre aqueles oportunistas que pensam apenas em si mesmos e não possuem, como diria Nahuel Moreno, paixão pela classe trabalhadora. É evidente que não era do interesse do PTL ter alguém de Betim com reais chances de ocupar a Câmara de Vereadores da cidade. Uma observação importante: assim como no Diretório estadual, a maioria do diretório do PSOL-Betim, inclusive as presidências, é ocupada por membros da RS. A incompetência, o oportunismo e o boicote (talvez os três) caracterizam algumas das razões pelas quais nenhum candidato recebeu verba para construir sua campanha. Nós, do MES, lutamos em nível estadual para reverter essa injustiça na redistribuição do fundo eleitoral, mas sem sucesso.

Não Somos Socialistas Apenas em Dias de Festas

Inspirados pela tradição leninista-trotskista, dedicamo-nos, ao longo dos últimos anos, a recrutar novos militantes para construir uma organização cujo objetivo é unificar toda a diversa classe trabalhadora da cidade. Conseguimos formar valorosos e valorosas camaradas que se empenharam de maneira exemplar em dirigir nossa candidatura, representada pelo camarada Ruan Debian.

Todos contribuíram de alguma forma, seja como militantes da nossa organização, seja como pessoas próximas. Seremos eternamente gratos a cada um de vocês que doaram para a campanha (seria impossível produzir materiais sem esse apoio financeiro) e que ofereceram espaços para a realização de nossos eventos (Saloon e bar Underground). No que diz respeito à organização dos eventos, a família Guill foi crucial, pois, além de se apresentarem artisticamente com shows incríveis, garantiram toda a infraestrutura necessária.

Mesmo com os transtornos da vida cotidiana e as limitações impostas pelo capitalismo, mencionamos alguns camaradas como Ailton Enfermeiro, Maria Clara, Eliseu, Francine, Washington, Emily, Grazy e Ari (esta última sempre ágil nas correções dos textos tanto para as redes sociais quanto para a Revista Movimento), que sempre buscaram somar à campanha. Destacamos na equipe de panfletagem a companheira Isabeli Guedes e o companheiro Bruno (ninguém entregou mais panfletos que esses dois).

Entretanto, surpreendente foi a disciplina bolchevique demonstrada pela camarada Cecília e pelos companheiros Thiago, Robson e Marcelo, que foram incansáveis desde o início da campanha. Realizamos reuniões organizativas após às 23h, comparecemos praticamente a todas as panfletagens, fizemos deslocamentos para conversar com apoiadores, ajudamos a garantir doações para assegurar os materiais que distribuímos ao longo de toda a campanha e divulgamos as artes nas redes sociais, entre outras atividades. Esses momentos foram bastante desgastantes. Contudo, nunca é demais lembrar que todos e todas estavam sem receber um centavo, e que o tempo livre após o trabalho era direcionado quase exclusivamente para a campanha, o que significou deixar de lado momentos com a família, filhos e qualquer atividade de lazer.

Ora, fica evidente, como criticou Trotsky nos anos 1930, que não somos socialistas apenas em dias de festividade. Pelo contrário! Fazemos o que fazemos porque acreditamos na construção de um outro mundo (regenerado e socialista), onde não existirá mais exploração.

Apesar de todo o desgaste, nossa atuação lembrou as memoráveis ações de nossos ancestrais revolucionários, que construíram, sem ajuda financeira do fundo eleitoral ou de qualquer mandato, entre tantas realizações, a Comuna de Paris, a Revolução Russa e a resistência na clandestinidade nos sombrios tempos da Ditadura. Literalmente, foi Nós por Nós!

E foi em uma dessas reuniões de final de semana que surgiu a ideia de fundar a Casa Marx-Engels.

Casa Marx-Engels

Se conseguimos manter toda campanha através da cooperação camarada, estamos profundamente convencidos que nós do MES-Betim somos capazes de abrir e gerenciar um espaço cultural e de formação política marxista, intitulado Casa Marx-Engels. Após as eleições, continuaremos atuando na formação de uma nova geração de marxistas oriundos dos movimentos de ruas, populares, estudantis, sindicais, universitários etc. na cidade de Betim. Porém, com espaço físico próprio. O marxismo engloba um conjunto cultural próprio que deve ser preservado, divulgado dialeticamente com o tempo presente. Busquemos fomentar a formação de novas gerações de marxistas inseridos no conjunto da construção da luta de classe objetivando construir o sujeito da revolução, ou seja, o Partido Revolucionário. Em breve, traremos mais informações sobre este espaço que servirá, com toda certeza, como espaço não apenas para formação da nova geração de marxistas na cidade, mas igualmente para o reagrupamento de toda esquerda revolucionária betinense.

Sigamos, camaradas, em Mobilização Permanente!