Bolsonaro recorre a Trump em manobra desesperada por anistia política
Inelegível até 2030, ex-presidente do Brasil conta com influência do americano para pressionar ministros do STF
Foto: Alan Santos/PR
O ex-presidente Jair Bolsonaro, mergulhado em um mar de acusações que vão desde a tentativa de golpe de Estado até o planejamento de atentados contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, busca no presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, uma tábua de salvação política. A tentativa, revelada em entrevista ao Wall Street Journal publicada na última quinta-feira (28), é um movimento de alto risco e de clara afronta às instituições democráticas brasileiras.
Bolsonaro, inelegível até 2030 por promover ataques infundados ao sistema eleitoral brasileiro, aposta no retorno de Trump à Casa Branca como uma oportunidade para reverter sua situação jurídica e pavimentar seu caminho de volta à política nas eleições de 2026. Segundo o jornal, o ex-presidente brasileiro espera que o magnata republicano utilize sua influência para pressionar ministros do STF e retardar a aplicação da decisão judicial que o impede de concorrer.
“Trump está de volta, e é um sinal de que nós também estaremos de volta”, declarou Bolsonaro, em um tom que mistura provocação e desespero.
Conforme apurado, os dois mantêm contato regular desde a vitória eleitoral de Trump no início de novembro, em um alinhamento que parece transcender fronteiras e valores democráticos.
A retórica de Bolsonaro ecoa as estratégias de Trump, que também atribui suas derrotas jurídicas a uma suposta perseguição política. No entanto, as acusações contra o ex-presidente brasileiro são graves e documentadas: a Polícia Federal apontou seu envolvimento direto em uma conspiração para impedir a posse de Lula, além de ter “pleno conhecimento” de um plano de assassinato que, segundo o relatório, tinha como objetivo desestabilizar o país. O relatório envolve Bolsonaro e outras 36 pessoas, e agora cabe ao procurador-geral da República decidir sobre o encaminhamento do caso.
Outra entrevista
O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a recorrer à retórica de vitimização para descredibilizar as investigações da PF e as ações do STF, particularmente as lideradas pelo ministro Alexandre de Moraes. Em entrevista às jornalistas Raquel Landim e Letícia Casado, do portal UOL, Bolsonaro classificou como “loucura” e “bravata” as evidências apresentadas pela PF que apontam seu envolvimento em um plano macabro para sequestrar e assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, derrotado por ele nas urnas em 2022.
Sem apresentar qualquer prova, o ex-presidente afirmou que é alvo de perseguição e sugeriu que poderia buscar refúgio em uma embaixada caso um mandado de prisão fosse expedido contra ele.
“Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá. Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”, declarou, em mais um esforço para pintar sua situação jurídica como resultado de um suposto complô político.
Bolsonaro direcionou seus ataques diretamente a Alexandre de Moraes, acusando-o de comandar uma cruzada arbitrária contra ele.
“Vivemos num mundo das arbitrariedades. Corro risco, sem dever nada. O STF vai fazer a arbitrariedade, vamos ver as consequências”, afirmou, ao minimizar as acusações de que estaria ligado a um plano articulado por seus aliados mais radicais para desestabilizar o governo e eliminar adversários.
O ex-presidente também ridicularizou o trabalho da PF, insinuando que as investigações são manipuladas pelo STF e dependem da “criatividade” dos investigadores para sustentar as acusações. “É uma grande história. A PF faz aquilo que o senhor ministro [Alexandre de Moraes] assim deseja. […] O que fazem são suposições.”
Com essas declarações, Bolsonaro adota a estratégia de desmoralizar as instituições responsáveis por garantir a legalidade e o Estado de Direito no Brasil, enquanto seus apoiadores, incluindo os filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, amplificam a narrativa de que as denúncias seriam exageros ou “invenções”.
Ao questionar as evidências detalhadas sobre o plano de golpe, que incluía figuras da reserva militar e agentes da PF, Bolsonaro tenta reduzir sua gravidade ao escárnio:
“Que plano era esse? Dar um golpe com um general da reserva, três ou quatro oficiais e um agente da PF? Que loucura é essa?”.
Essa retórica faz parte de um esforço calculado para deslegitimar as investigações e desviar o foco de suas próprias responsabilidades. Ao atacar instituições-chave, como o STF e a PF, Bolsonaro não apenas busca proteger a si mesmo, mas também pavimentar um caminho perigoso de desconfiança generalizada nas instituições democráticas.
O cenário expõe um ex-presidente isolado, mas ainda disposto a explorar seu alcance político para fragilizar o sistema que o colocou sob investigação. Cabe às autoridades brasileiras e à sociedade civil resistirem a essas tentativas de subversão, reafirmando o compromisso com a justiça e a preservação do Estado Democrático de Direito.