Para derrotar a extrema direita internacional é preciso derrotar Trump
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Para derrotar a extrema direita internacional é preciso derrotar Trump

Kamala é uma representante do capital e não se deve apoiá-la politicamente, mas sua eleição é uma necessidade para que a classe trabalhadora mundial tenha melhores condições de continuar enfrentando a burguesia

Victor Gorman e Victor Luccas 4 nov 2024, 14:56

Foto: Flickr/Reprodução

A crise atual do capitalismo em escala global tornou-se crônica, especialmente desde a crise de 2008. Trata-se de uma crise multidimensional, em que diferentes crises se combinam: climática, econômica, social, de ordem mundial e de regimes políticos baseados na democracia burguesa, que nos EUA garantia a dominação das elites com alternância de poder em um sistema bipartidário.

Os perigos mais graves para os trabalhadores e também para a humanidade são a crise climática, que ameaça a vida no planeta, e a extrema direita neofascista que se desenvolve como consequência dessa crise global, tendo como maiores expoentes Trump e Netanyahu, que está promovendo um genocídio em Gaza. Da mesma forma, Milei, Orbán, Bolsonaro e outros, lideram governos ou movimentos que promovem uma mudança nos regimes políticos, eliminando as liberdades democráticas conquistadas pelos trabalhadores dentro dos regimes democráticos burgueses. São movimentos de raízes xenófobas e racistas, negacionistas climáticos, que veem todos os seus oponentes como comunistas. Essa extrema direita neofascista se desenvolverá cada vez mais como uma ameaça à medida que a crise capitalista não encontra solução dentro de seu próprio sistema.

Em nível mundial, os imperialistas ocidentais estão divididos. Há um setor considerável que se opõe à saída proposta pela extrema direita. Os democratas dos EUA, a social-democracia europeia e até os partidos do chamado bloco popular (como Von der Leyen na UE) acreditam ser necessário manter os regimes democráticos burgueses, utilizando seus mecanismos para continuar com uma política de exploração da classe trabalhadora.

Por outro lado, os EUA com Trump são (junto com Netanyahu) o maior expoente e o maior perigo não apenas para os trabalhadores de seu país, mas também em escala mundial, pois está dentro do país imperialista mais importante. Desde Trump, o bipartidarismo clássico com as duas faces da administração da democracia burguesa estadunidense, os partidos Democrata e Republicano, foi extinto. Trump capturou o Partido Republicano para sua política de extrema direita. Uma nova administração dele será ainda mais extremista do que a anterior. Será mais implacável na redução de impostos para os ricos, na imigração, nos direitos ao aborto e na legislação trabalhista. Vance, seu vice, está alinhado com o Projeto 2025, que defende o fim das agências reguladoras, o enfraquecimento do Estado, amplo poder presidencial e outras agendas de extrema direita. Liberdades democráticas, que são importantes para permitir mobilizações e o desenvolvimento de uma consciência socialista, serão limitadas ao máximo possível. 

Ainda assim, é claro que há pontos em comum entre ambas as alas da burguesia como a defesa do capitalismo e o apoio a Israel, embora com diferenças. Enquanto a extrema direita é favorável à destruição completa de Gaza por meio da “solução final” baseada no extermínio dos palestinos guiada pelo “supremacismo branco”, a ala mais liberal promove a ideia de dois estados mesmo que um estado palestino seja bastante precário. É verdade que ambos os partidos representam a classe burguesa imperialista dominante. É verdade que a administração democrata de Biden favoreceu e apoiou a política genocida em Gaza. É verdade o que diz o movimento de apoio à Palestina e pela paz nos campi das universidade que os democratas, com seu apoio militar e logístico, são parte desse genocídio.

No entanto, eles representam uma burguesia tão ou mais dividida que a burguesia europeia. Kamala defende uma agenda mais progressista que Trump em relação a impostos, legislação trabalhista, aborto, direitos LGBTQI+. Apesar disso, por Harris ser uma representante do capital não se deve apoiá-la politicamente. Apenas é possível, para a esquerda socialista, defender um voto crítico e tático para derrotar o inimigo maior, que é Trump. Afinal, as eleições não são o objetivo final dos socialistas e, por isso, não constituem uma questão de princípios, podendo-se adotar posições flexíveis e táticas para o que permitir melhores condições de desenvolver as lutas da classe trabalhadora.

No período atual da luta de classes em que vivemos (com o avanço da extrema direita como principal perigo para os trabalhadores), os socialistas revolucionários precisam estar na linha de frente contra o neofascismo. A defesa das liberdades democráticas conquistadas, por sua vez, é uma parte inseparável da luta pelo socialismo. Portanto, derrotar Trump é uma tarefa fundamental para esse objetivo.

Sabemos que apenas a mobilização pode derrotar o fascismo de forma definitiva e as mobilizações nos EUA em defesa da Palestina e as fortes greves em setores industriais apontam o caminho a se seguir. Grandes setores da classe trabalhadora se colocam em movimento para enfrentar a ganância corporativa do grande capital. A greve dos trabalhadores da indústria automobilística foi tão forte que forçou Biden a ir presencialmente falar com os grevistas em um piquete. Mais recentemente, a greve dos portuários da costa leste gerou uma perda de bilhões de dólares, enquanto a burguesia atuava para que Biden acionasse a Talf-Hartley Act, uma lei de 1947, período de grande propaganda anticomunista nos EUA, que proíbe algumas práticas sindicais e enfraqueceria a greve. O presidente, também por pressões eleitorais, se recusou a utilizar essa lei e cumprir essa função. Esse é um exemplo das “condições mais favoráveis” que apontamos que seriam inexistentes com Trump na presidência.

Mais ainda, a direita mundial se coordenou na chamada CPAC (Conservative Political Action Conference). Como internacionalista entendemos que a derrota eleitoral de Trump será uma derrota de toda a extrema direita mundial que está buscando se reorganizar. Uma vitória de Trump seria um fortalecimento da extrema direita no Brasil, na Argentina e em todos os países do mundo. As eleições europeias acenderam o sinal de alerta, dados os fortes resultados da extrema direita em muitos países, como na França e na Alemanha, mas a vitória eleitoral da Nova Frente Popular na França foi um sopro de esperança. A eleição de Kamala Harris é, portanto, uma necessidade imediata para que a classe trabalhadora mundial esteja melhor posicionada para continuar enfrentando a burguesia no terreno econômico, social e político. O coração do capitalismo sente os impactos do levante de sua classe trabalhadora, e não se pode deixá-lo se recuperar. É preciso nocautear Trump imediatamente e fortalecer as mobilizações para golpear o capital permanentemente, fortalecendo a classe trabalhadora e viabilizando uma alternativa socialista ao sistema.


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