5 desafios políticos para 2025
Para o ano que vem, deixamos cinco desafios que corroboram às reflexões que os socialistas fazem a respeito do “tempo de urgências”
O apagar das luzes de 2024 conduz às retrospectivas pessoais e políticas. O conjunto da classe trabalhadora e do ativismo aproveita os parcos momentos de descanso para ficar com família e/ou amigos, enquanto a mídia fomenta o retrospecto das notícias mais relevantes.
A permanência de um mundo em crise, marcada pela disposição dos polos neofascistas em levar adiante o seu programa (onde a vitória de Trump é seu ponto cardeal mais alto), pela profunda crise em múltiplas frentes (policrise ou convergência de crises), especialmente pela catástrofe ambiental em desenvolvimento, marcou as reflexões acerca de 2024. Alguns autores marxistas denominam o tempo presente de “era das catástrofes”.
Para o ano que vem, deixamos, esquematicamente, cinco desafios que corroboram às reflexões que os socialistas fazem a respeito do “tempo de urgências”.
1. Parar Trump e seu projeto de destruição civilizatória
A “mãe de toda as batalhas” será a luta contra os planos de Trump, apoiado em Musk e numa elite predatória que flerta com o neofascimo. A partir das primeiras semanas de janeiro, Trump retornará a cadeira política mais poderosa do mundo, a partir da qual sustentará seu plano de guerra não só contra o povo estadunidense, mas também contra os povos do mundo e, sem exageros, contra a própria civilização. Seu alvo primeiro serão os imigrantes.
Trump expressa a volúpia da extrema direita, que busca organizar a desesperança, a frustração e o ressentimento de milhões com as condições de vida e com a política como ela é feita hoje. Mas também expressa a enorme crise das relações políticas em geral, e nas relações internacionais e do próprio declínio do império americano, em particular. Estamos diante de riscos, de turbulências e de uma luta de vida e morte para que evitar que se imponha um novo padrão de capitalismo, ultraliberal, supremacista (racista) e violento contra as mediações conquistadas pelos trabalhadores nos últimos cem anos.
Para tanto, Trump, Musk, Milei e seus aliados precisam se impor pela força. Estes golpes têm potencial de desatar novas e antigas reservas do movimento de massas, passando para um cenário de “luta aberta”. Por agora, um cenário de incertezas nos aguarda. Porém, as greves ‘natalinas’ que os Estados Unidos acompanham, lideradas por trabalhadores da Amazon, indicam que o caminho será de acirramento da luta de classes e de uma maior necessidade de organização coletiva.
No terreno internacional, as ameaças contra o povo panamenho para usurpar novamente o canal despertam fúria e colocam em ação a vanguarda lutadora da América Central, evocando as melhores tradições de luta antiimperialistas. Assim como é preciso seguir combatendo e denunciando o genocídio contra o povo palestino, que se amplia, não só nas atrocidades em Gaza, como na ofensiva militar sobre o Líbano e a Cisjordânia.
A dinâmica internacional de crises, onde a instabilidade marca o cenário nacional de vários países relevantes para o capitalismo internacional – como nas revoltas ocorridas nos últimos anos em países como Sri Lanka, Bangladesh, Sudão e – agora – Coreia do Sul, completam o quadro da relação de forças. Muito menos definida pelo triunfo da extrema direita enquanto projeto (o que é um risco efetivo e perigoso) e mais pela crise de projetos burgueses, interestatais, da chamada ‘ordem mundial’.
Se para alguns Trump pode ser um “Calígula”, o mais cruel dos imperadores romanos, é verdade que também pode terminar como um “Nero”, cuja vontade destrutiva acabou por implodir Roma.
2. Puxar o freio de emergência diante da catastrofe ambiental
Em 2024, foi o Rio Grande do Sul e muitos pontos do Brasil. Se contaram em centenas os mortos, em dezenas de milhares os que tiveram suas vidas atingidas para sempre. A catástrofe climática bateu à porta, de forma desesperadora e impiedosa.
Em Valência, na Espanha, no centro do capitalismo europeu, as chuvas e enchentes deixaram marcas tão profundas quanto os desastres do primeiro semestre no Rio Grande do Sul, com um saldo mórbido de tantos mortes e desabrigados. Não se passa uma semana em que não se tenham notícias de fortes eventos climáticos que acabam com o mesmo enredo de morte e destruição. Mayotte, território francês na África do Sul, sofreu com a chegada do ciclone Chido, que destruiu parcialmente a ilha, vitimando 40 pessoas e desnudando a hipocrisia do colonialismo francês.
Nenhum tema é mais urgente do que tomar medidas concretas contra o “ecocídio” em curso.
A COP29, realizada em novembro no Azerbaijão, frustrou as expectativas em relação a uma maior regulação dos combustíveis-fósseis, tendo resultados decepcionantes até para os defensores do “capitalismo verde”.
Luiz Marques tem nos apontado para a necessidade de encarar o “decênio decisivo”, conceito que dá nome a um dos seus últimos livros, onde afirma que os próximos anos serão fundamentais para evitar um ‘ponto de não retorno’, causado pelo aquecimento global e suas consequências diretas sobre o ecossistema global.
O Brasil sediará a COP30 em novembro na região de um dos maiores patrimônios naturais do planeta, Amazônia. É tarefa do conjunto do movimento social, incluido aí o PSOL e diferentes atores na luta ecológica, pensar e organizar ao longo do ano uma intervenção consistente no bojo da COP30.
3. Combater, desmoralizar e lutar para esmagar o bolsonarismo
A prisão de Braga Netto foi um alento. Uma notícia que foi celebrada por milhões, dando um alívio num final de ano tão complexo e duro para a maioria do povo. Mais que isso: a detenção de Braga Netto recolocou na ordem do dia a luta pela prisão de Bolsonaro, bem como amplificou a luta pelo “Sem Anistia”.
É vital para inverter a relação de forças política e social, isolar e derrotar a extrema direita e seu programa. Não é qualquer coisa impedir que Bolsonaro seja candidato e desmoralizar o bolsonarismo como expressão majoritária no Brasil do golpismo. A desorganização do campo bolsonarista, que vai se engalfinhar nos próximos meses para buscar um substituto, caso se confirme a hipótese mais provável do impedimento de Jair, é um fato que ajuda ao movimento de massas.
A revelação dos planos de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, além de demonstrar um improviso irracional, indica até onde esse setor pode ir para atacar a democracia liberal e o pacto que sustenta a Nova República. Isso exige que o centro da luta – unitária, por suposto – para barrar a extrema direita mire no “núcleo duro” dos agentes políticos e econômicos do 8 de janeiro. Minar e atacar a rede subterrânea que viabilizou o “capitólio brasileiro” é parte central da luta mais ampla, convocando aos ativistas estarem presentes na primeira linha. As diferentes entidades e setores devem encampar a luta contra a anistia aos golpistas.
Tal luta ampla deve ser conectada à luta programática contra a militarização da vida política e social que está em curso, sobretudo no estado de São Paulo. Passa por não renunciar às tarefas que foram interditadas durante o período de transição e que dão bases materiais para a ação consciente da extrema direita, dentro das forças de repressão, nas milícias paraestatais e nas representações políticas.
Devemos enfrentar a violência militar de Tarcisio, que reforça a linha dura na PM, buscando naturalizar na opinião pública o genocidio contra a juventude negra na periferia e avança com a militarização das escolas.
4. Defender e organizar a luta por direitos, articulando a maioria social
Não existe passe de mágica para garantir uma maioria social a favor de mudanças e contra a falácia do discurso da extrema direita. Apenas com a confiança na força dos trabalhadores e na defesa dos seus direitos poderemos arrastar amplas camadas do povo para um projeto que combata o autoritarismo e o neoliberalismo.
Para tanto, devemos construir um calendário e um plano de lutas que mobilize parcelas importantes da classe. E a luta contra a escala 6×1 indica que a classe trabalhadora pode estar voltando a cena, ao redor de uma bandeira concreta, dando centralidade para sua condição enquanto classe. Depois do sucesso do abaixo assinado virtual e do apoio ao VAT, com a força de Rick Azevedo se multiplicando como referência, novas mobilizações demonstraram a força dessa pauta.
A greve da Pepsico e as recentes mobilizações dos comerciários do supermercado Matheus em São Luis do Maranhão e do Zaffari, no Rio Grande do Sul, mostram que estamos apenas no começo de uma longa luta. Essa luta tem um enorme potencial para acessar amplas parcelas de trabalhadores, abandonados por seus sindicatos, sem tradição associativa ou canais de participação democrática na vida política.
Para sermos coerentes, precisamos também seguir nos posicionando contrários ao ajuste que o governo promove, quando acaba de votar um pacote de maldades contra os mais pobres. A posição do PSOL, seguida por alguns poucos deputados do PT com posição correta na matéria, contra o pacote, indicou que austeridade é um caminho para organizar derrotas para classe trabalhadora. O manifesto articulado por setores da intelectualidade, da assistência social, lideranças políticas e sindicais e impulsionado pela Revista Movimento foi um ponto de apoio importante para essa luta
Essas lutas devem ser articuladas com outras importantes batalhas que tiveram lugar em 2024, como a luta que o movimento de mulheres travou contra o PL1904 ou a denúncia que está sendo feito da escalada repressiva da PM de Tarcisio, para que ano que vem possamos construir uma agenda política comum, alicerçada num plano coerente de lutas, que envolva os setores combativos do movimento social e sindical.
5. Construir uma esquerda que afirme o seu nome
Uma das lições de 2024, diante do resultado fraco de onde a esquerda disputou com chances o processo eleitoral, foi a de que abrir mão do programa não garante votos. E mais, a desfiguração das bandeiras e da identidade da própria esquerda leva a uma derrota política ainda maior que a derrota eleitoral.
Estamos na direção oposta dos pragmáticos. Queremos uma esquerda independente, anticapitalista e militante. Independente para enfrentar a extrema direita, mas sem deixar de lutar contra as medidas de ajuste do governo Lula; anticapitalista para defender as liberdades democráticas, mas também para articular um projeto alternativo de sociedade fora dos marcos da propriedade privada, da opressão e da exploração; e militante, para engajar milhares de novos camaradas que compartilham do nosso programa, votam em nossas parlamentares, nos apoiam nas eleições, para organizar uma força social capaz de combater no terreno da ação direta.
Nossos mandatos parlamentares, nossas frentes de atuação, nossa presença junto ao PSOL, nossa solidariedade internacional estão à serviço desse projeto.
Concluímos aqui o editorial de Movimento desejando boas festas para o conjunto dos leitores, exigindo o fim do genocidio na Palestina e informando que teremos boas novidades, tanto para o site quanto para nossa revista impressa, para o primeiro trimestre de 2025.