PF quer identificar o ‘pessoal do agronegócio’ citado por Cid
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PF quer identificar o ‘pessoal do agronegócio’ citado por Cid

Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro confirmou que empresários do agro financiaram tentativa de golpe

Redação da Revista Movimento 16 dez 2024, 10:58

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL)  trouxe à tona revelações alarmantes sobre o envolvimento de setores bilionários do agronegócio em uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. Em depoimento à Polícia Federal, Cid afirmou que o dinheiro entregue pelo general Braga Netto, em uma caixa de vinho, para financiar um plano de assassinato de autoridades, teria sido obtido “junto ao pessoal do agronegócio”.

As declarações de Mauro Cid sustentaram a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão do general Braga Netto no último sábado (14). Segundo o depoimento, em uma reunião no Palácio do Planalto ou na residência oficial da Alvorada, Braga Netto entregou os recursos necessários para viabilizar a operação golpista. De acordo com Cid, o general teria assegurado que o montante veio diretamente de empresários do agronegócio, setor conhecido por concentrar grande poder econômico no país.

A Polícia Federal (PF) agora segue o rastro do dinheiro a fim de identificar os financiadores da tentativa de golpe que também incluiria o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, além de ações para impedir a posse do novo governo. A articulação – chamada de operação “Punhal Verde e Amarelo” –  teria sido selada em uma reunião na casa do próprio Braga Netto, em Brasília, no dia 12 de novembro.

De acordo com a Polícia Federal, o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira, preso em fevereiro, discutiu com Mauro Cid o financiamento da mobilização de manifestantes em Brasília. Para viabilizar essa ação, foi solicitado um pagamento de R$ 100 mil, que teria sido transportado pelo general Braga Netto em uma sacola de vinho e entregue diretamente ao major.

Parte desse dinheiro foi usada na compra de aparelhos celulares, pagos em espécie para uso de integrantes das Forças Especiais do Exército conhecidos como “kids pretos”, grupo ao qual Oliveira pertence. Conforme revelado anteriormente pela corporação, esse grupo monitorou autoridades em 2022, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais.

Além disso, as investigações rastrearam cinco recargas de crédito para telefones ligados ao grupo denominado “Copa 2022”, que estava vinculado à operação “Punhal Verde e Amarelo”. As recargas, no valor de R$ 20 cada, foram realizadas de forma sequencial em uma drogaria localizada no Setor Sudoeste, em Brasília, também em dinheiro vivo.

Conteúdo de celulares pode identificar financiadores

A Polícia Federal realizou a extração do conteúdo dos celulares apreendidos na operação que culminou com a prisão do general Braga Netto. Além disso, os agentes irão examinar “dezenas de pen drives” encontrados com Flávio Botelho Peregrino, assessor do general. O foco das investigações agora é esclarecer quem são os integrantes do “pessoal do agronegócio”.

A participação de membros do agronegócio em ações antidemocráticas já havia sido identificada em outros momentos da crise política. Documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revelaram a atuação de produtores rurais na articulação de atos antidemocráticos e no bloqueio de rodovias logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas.

Em um relatório intitulado “Participação de lideranças do agronegócio em atos antidemocráticos e em ações de contestação do resultado eleitoral”, a Abin detalhou como o Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), composto por produtores rurais, esteve diretamente envolvido nesses atos. De acordo com o documento, integrantes do MBVA “lideraram” bloqueios de caminhoneiros em novembro de 2022 em estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Roraima. Essas ações, sem qualquer base probatória, visavam contestar o resultado das eleições que elegeram Lula.

O relatório ainda aponta que o grupo dispunha de significativos recursos econômicos para financiar o transporte de manifestantes e ações extremistas, incluindo os ataques de 8 de janeiro em Brasília. Novos diálogos obtidos pela PF corroboram essas informações. Uma das investigadas, que frequentava o Quartel-General do Exército, revelou o apoio de empresários do agronegócio para a logística de transporte de cerca de três mil ônibus, direcionados a Brasília às vésperas dos atos violentos contra as sedes dos Três Poderes.

O envolvimento de bilionários do agronegócio no financiamento de um plano para desestabilizar a democracia brasileira expõe uma dimensão preocupante: a utilização de recursos oriundos de um dos setores mais influentes da economia nacional para subverter o Estado de Direito e promover atos de violência política. Essas revelações reforçam a urgência de aprofundar as investigações, identificar os financiadores e responsabilizá-los judicialmente por sua participação em um dos episódios mais sombrios da história recente do Brasil.


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