Lobby do agro quer alterar livros didáticos 
Livro didático

Lobby do agro quer alterar livros didáticos 

Deputada Sâmia Bomfim vai pedir esclarecimentos sobre influência da associação De Olho No Material Escolar em órgãos públicos e até na Comissão de Educação do Congresso

Tatiana Py Dutra 16 jan 2025, 11:46

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Do ponto de vista da expansão e reconhecimento das altas classes sociais, a associação De Olho No Material Escolar (Donme) – que se autointitula um grupo de “pais e mães apartidários preocupados com o ensino dos filhos” – é um sucesso. Em apenas três anos, fechou parceria com a Universidade de São Paulo (USP), tem trânsito por secretarias de Estado, como Educação e Agricultura, e mantém diálogos com a cúpula do Congresso, em Brasília, na tentativa de influenciar o novo Plano Nacional de Educação (PNE).

Contudo, uma reportagem do Repórter Brasil revela que a Donme é financiada por empresários e grandes corporações do agronegócio, como JBS e Cargill, com o objetivo de alterar materiais didáticos para retratar o setor de forma mais positiva.

Em um evento do Lide, grupo criado pelo ex-governador de São Paulo, João Doria, Christian Lohbauer, vice-presidente da associação, justificou a intenção.

“O que as crianças e os adolescentes estão aprendendo que vai ser bom para o mundo do trabalho?”, perguntou. “Elas não podem aprender, todos os dias, em todos os materiais, há 30 anos, que tem trabalho escravo na cana-de-açúcar. Ela não pode aprender que o alimento brasileiro está envenenado com agrotóxicos. Ela não pode aprender que a pecuária é responsável pela destruição da Amazônia, porque não é verdade”, disse Lohbauer, que é ex-presidente da Croplife Brasil, representante das maiores fabricantes multinacionais de agrotóxicos, que também financia a Donme. 

E graças a parceria com a USP, nasceu a  “Agroteca”, biblioteca virtual com publicações sobre o agronegócio onde há  conteúdos que negam que o Brasil seja o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, por exemplo – embora dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), desmintam essa informação. 

A estratégia do Donme também inclui negar a responsabilidade da pecuária pelo desmatamento na Amazônia e a existência de trabalho escravo na produção de cana-de-açúcar (ainda que mais de 1,1 mil trabalhadores tenham sido resgatadas de lavouras de cana nos último quatro anos, em condições análogas à escravidão).

A situação indignou a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que vai enviar requerimentos de informação a diversos órgãos para apurar e obter esclarecimentos desse lobby.

“O agronegócio não quer só destruir biomas e explorar trabalhadores – ele quer controlar o que crianças e adolescentes aprendem nas escolas!”, diz.

Os tentáculos do Donme estão bem fincados em Brasília, onde o grupo espera influenciar a Comissão de Educação do Congresso, que vai votar o PNE este ano. A meta é que a lei que estabelece as diretrizes da educação por uma década, apague do material escolar temas como desmatamento, violência no campo e envenenamento por agrotóxicos. Em 2024, a organização se reuniu mais de uma vez com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), entre outros parlamentares, para debater o PNE, que deve ser votado este ano. A associação criticou o documento de referência para a legislação, ao qual classificou como “refratária à iniciativa privada”.

“O objetivo principal do grupo é influenciar no Plano Nacional da Educação para impor uma narrativa que protege seus lucros enquanto invisibiliza suas destruições. O agro tenta, com a força da grana, limpar sua imagem atuando para influenciar políticos e conglomerados de educação”, diz Sâmia.


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