77 anos da Nakba: leia os editoriais da Revista Movimento e da FEPAL
Tragicamente inaugurada em 1948, a Nakba completa 77 anos no curso da “solução final” levada adiante por Netanyahu e Trump
Palestina, 77 anos da Tragédia – Editorial da Revista Movimento
15 de maio de 1948. Nessa data, para o povo palestino, se considera o marco inicial dos massacres, que agora são revividos da pior forma possível. Nakba. O termo que em árabe designa “Tragédia”.
A expulsão do povo palestino de seus territórios perdurou ao longo do século XX, numa história de genocídio, mas também de resistência heroicas. Não há qualquer canto do planeta onde o nome do povo palestino não atenda pela característica de coragem e resistência.
O que está em jogo agora, pelas mãos de Netanyahu e Trump, com o apoio da extrema direita e omissão de grande parte da burguesia mundial, é uma “segunda Nakba”, que ensejaria a chamada “Solução final”, transformado Gaza em um resort de luxo, expulsando definitivamente seus moradores. Um genocídio de caráter histórico.
Gaza em horas decisivas
Em meio ao terremoto do ascenso do neofascismo, representado na figura de Trump e do seu círculo mais direto- a coalizão entre BigMoney, BigOil e Bigtechs- Gaza é o ponto central. É um laboratório de até onde pode ir a sanha neofascista, mas também da resistência e solidariedade internacional. Trump quer introduzir mudanças no regime estadunidense, começando por perseguir imigrantes, sobretudo ativistas, numa ofensiva contra as universidades que se levantaram em apoio à Palestina. A detenção de Mahmoud Kalil e a da ativista turca (agora libertada) é parte dessa orientação repressiva.
A ruptura unilateral e selvagem dos acordos de trégua, por parte do estado de Israel, prenunciam uma nova fase na ofensiva para a limpeza étnica. Enquanto há um cerco, que envolve Israel e Estados Unidos, contra o Iêmen, se discute no núcleo duro do regime sionista, propostas que imponham o deslocamento terrestre de milhões, em Gaza, consumando o maior genocídio étnico da história recente.
Dentro do quadro de tormenta, é preciso atuar de toda forma para seguir denunciando e pressionando. Gaza é uma causa da humanidade. A derrota de Gaza seria uma derrota para a humanidade.
A geopolítica da omissão
Além da extrema direita que sustenta a limpeza étnica, o mundo caminha entre novos conflitos, uma militarização da Europa e a cumplicidade da maior parte dos governos.
A tensão oriunda pelos anúncios de guerra tarifária – que por agora parece estar pausada, com os acordos em curso entre China e Estados Unidos- é um sintoma de conflitos geopolíticos ainda maiores. A recente troca de agressões entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares acenderam o sinal de alerta. O desfecho da agressão Russa na Ucrânia está próximo, com Trump forçando uma capitulação para dividir a Ucrânia com Putin.
Nesse tenso quadro geopolítico, com elementos perigosos e caóticos, mesmo os governos liberais- alguns deles eleitos sob a lógica do “cordão sanitário” contra o neofascismo- são cúmplices com o genocídio palestino. Vide a postura da Alemanha, antes de Biden e de Macron na França. Este último ilegalizou e dissolveu uma importante organização de apoio à luta palestina na semana passada.
Não menos omissos, podemos referir a dois “pesos pesados” emergentes, como a China e a Rússia(do ponto de vista militar, ao menos), que mesmo não somando diretamente no front sionista, não se colocaram como Estados proativos na denúncia do genocídio, fazendo proclamações genéricas na linha que é majoritária na ONU.
O que se pode dizer, como exemplo, para falar dos BRICS, é que a África do Sul foi vanguarda para denunciar o sionismo, inclusive levando para o Tribunal Penal Internacional. O preço pago, como retaliação imperialista, foi o asilo diplomático aos dirigentes do apartheid e seus familiares, patrocinado por Trump e Musk.
O Brasil condenou corretamente como genocídio, porém, teria muito mais o que fazer, começando por romper de fato as relações diplomáticas e comerciais com o regime sionista.
Defender Gaza, incondicionalmente
Além de seguir exigindo do governo brasileiro, medidas mais efetivas e contundentes, queremos aproveitar a data do Nakba, para chamar atenção, no parlamento, nos sindicatos e universidades.
Precisamos também lutar para freira a ofensiva da extrema direita, que acusa e persegue setores de esquerda que denunciam o genocídio, como fizeram contra Luciana Genro, Monica Seixas, Professora Angela no Brasil, com ativistas na França e com figuras políticas na Argentina como Alejandro Bodart e Vanina Biasi, da Frente de Esquerda Unidade.
E oferecer nossa total solidariedade, com os palestinos, em Gaza, na Cisjordânia, nos territórios ocupados, nos ativistas que organizam protestos e marchas nos cinco continentes; à juventude que se levanta em apoio, tendo na figura da ambientalista Greta Thumberg um exemplo a ser seguido.
Viva a luta do povo Palestino!
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Há 77 anos que o dia 15 de maio, tragicamente inaugurado em 1948, integra o calendário nacional palestino como o DIA DA CATÁSTROFE, expressão que no árabe é designada pela palavra Nakba. Nestes 77 anos não lembramos apenas de uma data pretérita pela 77ª vez, como se lembrássemos de um fato histórico isolado, mas de quase oito décadas de um processo continuado, metódico, no qual cada ato não é isolado ou acidental, porque o sionismo, a ideologia colonial, racista e genocidária que orienta seu executor em forma estatal, “israel”, persegue cotidianamente uma limpeza étnica que precisa ser total, uma solução final em toda a Palestina, para torná-la uma terra sem o povo palestino e, em seu lugar, instalar-se uma nova demografia, estrangeira e crente na supremacia judaica, logo, somente para judeus.
Sem entender que o objetivo é, a cada segundo da existência do sionismo, a extinção dos palestinos na Palestina, não se entenderá a Nakba, processo inaugurado entre 17 e 28 de dezembro de 1947, menos de 20 dias após a aprovação da Resolução 181 da ONU, em 29 de novembro de 1947, recomendando a Partilha da Palestina. Foi nestes 11 dias que as gangues sionistas armadas limparam etnicamente as localidades palestinas de Deir Ayub, Beit Affa e Lifta. Este processo de limpeza étnica seguiu até 14 de maio de 1948, dia em que o sionismo se autoproclama estado sobre escombros e cadáveres palestinos, dando sequência à buscada solução final a partir de 15 de maio, já como estado/governo e exército que unificava as gangues armadas.
É por isso que 15 de maio foi escolhido como a data para lembrarmos, anualmente, a Nakba, a maior limpeza étnica da história, da qual resultou o nascimento ilegal do mais atroz experimento social genocida, “israel”. Poderia, perfeitamente, ser 17 de dezembro de 1947, claro, mas fixou-se 15 de maio. Ainda assim estamos obrigados a posicionar o início do processo seis meses antes, pois no dia da Nakba já estavam em curso seis meses de limpeza étnica, com mais de 250 mil palestinos mortos ou expulsos, um terço do total final da Grande Catástrofe.
Até final de 1951, término deste primeiro round genocidário, o sionismo já “israelense” ocupou 774 localidades palestinas, totalizando 78% da Palestina Histórica. Delas, 531 (69%) foram destruídas. Com 70 massacres que produziram ao menos 15 mil exterminados e expulsão de pelo menos 750 mil palestinos, a parte tornada “israel” viu 88% de sua população originária limpada etnicamente. Não há notícia de limpeza étnica de tal monta na história.
Mas esta 77ª recordação da Nakba traz uma excepcionalidade: o segundo ano do extermínio televisionado em curso em Gaza, genocídio que já é, em números, o maior de todos os tempos, superando o período nazista em todos os quesitos mensuráveis, bem como os catastróficos da própria Nakba.
A começar pelos mortos, que em Gaza já são 65.081, considerando 11,2 mil desaparecidos sob escombros, ou 2,92% da demografia de Gaza. Supera em 430% os 15 mil assassinados durante a Nakba. Os mortos e deslocados em Gaza totalizam 93%, contra os 88% registrados na Nakba. A destruição total em Gaza beira os 80%, atingindo 92% das residências, frente a 69% na Nakba. E os massacres hoje em Gaza são mais de 2 mil, contra 70 na Nakba. E tudo isso em um ano e meio, contra os quatro anos da Nakba. E mais: ao vivo!
Assim como a Nakba foi a maior limpeza étnica da história, para Gaza 2023 é inescapável cravar que trata-se do maior genocídio conhecido. E os dados concretos o asseguram.
A matança em Gaza equivale a 6,2 milhões no Brasil e 22 milhões na Europa da 2ª Guerra Mundial por sua demografia atual (seriam quase 100 milhões em eventual repetição dos seis anos daquela guerra). E para a Revista The Lancet, este número pode chegar a 269,4 mil, isto é, 12,1% da demografia de Gaza – seriam 25,8 milhões no Brasil e 91,2 milhões na Europa da 2ª GM (342 milhões, nesta escala “israelense”, nos eventuais 6 anos que durou a 2ª GM).
O extermínio de crianças palestinas em Gaza é de 9.997 por milhão de habitantes, 3,55 vezes mais que as 2.813 por milhão nos seis anos da 2ª GM, ou 4 mil vezes mais que as 2,5 por milhão na guerra Rússia-Ucrânia. Neste caso, é a diferença de uma guerra entre dois estados e seus exércitos e uma guerra de extermínio, a travada por “israel” conta o povo palestino em Gaza.
EUA, o grande promotor do extermínio palestino em Gaza, com seu executor colonial, o regime racista de “israel”, respondem pelas maiores matanças de todos os tempos de profissionais de saúde, da ONU e da defesa civil, de jornalistas, professores e estudantes, bem como produzem o maior contingente de gravemente feridos e mutilados da história – 126.461, ou 5,68% da população de Gaza –, equivalentes a 12,1 milhões no Brasil e 42,8 milhões na Europa da 2ª GM hoje , dos quais 70% são mulheres (mães) e crianças. Além do extermínio, é a construção metódica de uma sociedade de inválidos.
A Nakba continuada e agora televisionada em Gaza é a prova cabal de que “israel” e os sionistas de todo o mundo perseguem o extermínio do povo palestino. Mas também é a tragédia dos judeus, que veem sequestrados seu credo religioso e sua cultura para justificar uma solução final na Palestina, tornada o maior campo de concentração e extermínio da história, gerido por “israel”, o maior gueto de todos os tempos, inventado pelos estrangeiros que um dia se disseram “eleitos” de algo que denominam “deus”, étnico e não o do monoteísmo, que os teria mandado “retornar” a uma terra da qual jamais saíram porque nela jamais estiveram.
O experimento em curso na Palestina é, também, um precedente genocidário e totalitário que pretende virar modelo para o mundo, o que torna o sionismo inimigo existencial da raça humana, tal qual foram todas as formas fascistas ocidentais, dentre elas o nazismo, a mais conhecida e referida. Se “israel” e o sionismo alcançarem seus objetivos macabros para a Palestina, todos os fascismos, o nazismo especialmente, terão triunfado.
Por isso é preciso dizer NÃO AO GENOCÍDIO NA PALESTINA. É preciso que a Palestina seja livre do sionismo, do apartheid, do colonialismo e do extermínio genocidário do Rio ao Mar e de Gaza à Galileia. Só assim palestinos e judeus de todo o mundo estarão livres e o mundo seguro.
Palestina Livre a Partir do Brasil, 15 de maio de 2025, 78º ano da Nakba