Extrema direita: conhecer, estudar, para melhor combater
Sobre “A Ascensão da Extrema Direita e o Freio de Emergência”, novo livro de Roberto Robaina
O julgamento de Bolsonaro que o colocou na defensiva em rede nacional. O sequestro de ativistas da flotilha de Liberdade por parte do Estado de Israel, incluindo o brasileiro Thiago Avila e Greta Thumberg. As cenas de enfrentamento nas ruas de Los Angeles, entre o ICE e os manifestantes, contra a política de deportação de Trump. A semana foi marcada por esses fatos. O elemento comum é, que todos a seu modo, são expressões da política da extrema direita.
A ação contra a extrema direita exige uma postura resoluta e sem tréguas ou hesitações. Tanto no âmbito internacional, quanto no Brasil, estamos na primeira fileira para criar cordões que isolem e desmoralizem essa corrente que cresce no desencanto com a democracia liberal. Entretanto, mais que apenas reproduzir essa “obrigação”, precisamos estudar e aprofundar o que significa, em pleno século XXI, esse fenômeno, que não é passageiro ou efêmero e que, junto ao caos climático, é a maior ameaça aos povos do mundo.
E a serviço desse entendimento, na lógica que Marx nos ensinou, de conhecer para transformar o mundo, Roberto Robaina, dirigente nacional do MES e do PSOL, traz a luz A Ascensão da Extrema Direita e o Freio de Emergência.
Uma necessidade, a luz do marxismo revolucionário
Robaina tem longa trajetória na luta política e militante, iniciada no ascenso do começo dos anos 1980. Fundador do PSOL, deu uma batalha germinal no seu livro de estreia Uma Visão pela Esquerda para demonstrar tanto a falência do PT como um projeto estrategicamente transformador, como as teses que deram bases para a necessidade de um novo partido que seria encarnado após a expulsão dos radicais, no movimento que resultaria na fundação do PSOL em 2004. Estando atualmente como vereador em terceiro mandato em Porto Alegre, Roberto escreveu outras obras importantes como A Falência do PT (em parceria com Luciana Genro), Marx e o Núcleo Racional da Dialética de Hegel, Uma Filosofia Racional – Estudo do Pensamento Político de Alain Badiou, além da edição e participação em outras obras marxistas e coletâneas.
O livro tem prefácio de Michael Lowy e aborda três seções acerca do fenômeno da extrema direita, relacionando com o pensamento marxista. A primeira seção trata da categorização dos aspectos constituintes, elementos motrizes e sociais do fenômeno da emergência atual da extrema direita. Dialoga com as experiências históricas acerca do fascismo, bebendo em autores que vão desde Marx e Adorno, até os estudos contemporâneos do fascismo em Enzo Traverso, assinalando elementos de continuidade e ruptura. A segunda seção é bastante inovadora, buscando dialogar com os clássicos da psicanálise de forma a demonstrar a natureza autoritária do fascismo, em suas versões históricas e contemporâneas.
Como dirigente e militante, o capítulo final é uma síntese e um chamado para ação; desenvolve a partir das lições de Trotsky e Mandel a necessidade do combate presente às formas da extrema direita como expressões da própria decadência e violência do capitalismo. E conclui com 15 importantes teses que orientam o fazer político concreto para a defesa dos interesses dos trabalhadores e povo todo como forma de enfrentar a extrema direita e o capitalismo.
Ao longo do livro, reside um elemento importante presente já no título, tomado de forma poética de um dos escritos de Walter Benjamim: “puxar o freio de emergência” diante da barbárie e do colapso da civilização. A presente crise ambiental não só não é alheia, como é dinamizada pela influência do pensamento e da prática das extremas direitas no mundo. A aliança política que a extrema direita reúne está composta pela defesa dos interesses dos grandes devastadores do meio ambiente, interessados em, como querem os bolsonaristas brasileiros, “passar a boiada”, para acabar com a Amazônia e as áreas de proteção ambiental. Ou como na consigna de Trump, “Perfurar, baby, perfurar” que nada mais é do que a chamada para acelerar o aquecimento global e o caos climático.
É um livro que, como um quadro militante comentou em reunião, “arma todo um período”.
Uma batalha que merece ser dada no âmbito das ideias e da ação
Se é certo que a batalha contra a extrema direita será longa, também é certo que o desfecho é imprevisível. Contra os céticos que prognosticam uma força maior aos nossos inimigos, oferecemos as imagens da semana: disposição de luta dos imigrantes nas lutas de Los Angeles que se nacionalizaram, ou a coragem da flotilha que rompeu o cerco midiático e político contra Gaza, denunciando a real natureza dos crimes do sionismo.
Pior que os céticos, são os que se aferram à conciliação de classes por confiança nas instituições liberais e delegam aos governos de centro-esquerda o papel de protagonistas nessas batalhas; esses acabam por organizar novas derrotas, como já assistimos em muitos lugares. O livro de Robaina resgata a necessidade da unidade de ação e mesmo eleitoral quando está em risco a disputa contra um setor neofascista, sem deixar de colocar a debilidade da estratégia institucional que desarma o principal campo de combate: o das ruas, o da ação direita e o da organização da classe trabalhadora, migrante, racializada, das mulheres e da juventude.
Estudar a partir do livro de Robaina nos deixa em melhor condições para disputar a estratégia mais eficaz contra a extrema direita: apelar à frente única e as unidade de ação, sem menosprezá-las, contando com a necessidade de construir uma força anticapitalista capaz de gerar confiança na independência da classe para lutar outro futuro, que seja ecossocialista.
O “momento Greta” é um bom exemplo. Uma jovem ambientalista de um país rico do norte global se radicaliza a ponto de enfrentar cara a cara o exército sionista, num exemplo mundial de unidade entre a luta ambiental e a luta anticolonial. É com a coragem de Greta que vamos disputar as melhores camadas da juventude que não quer aceitar o fim do mundo e usar o freio de emergência contra a extrema direita.
O MES irá fomentar uma jornada de debates, com o autor, junto a aliados e parceiros, em várias regionais, para seguir a politização da militância, do ativismo e da intelectualidade para nominar qual a melhor forma de lutar e vencer contra a extrema direita. Para adquiri um exemplar, organizar um debate ou dar sua opinião, acesse e entre em contato com as redes da Revista e Editora Movimento.