Programa imposto pela gestão Nunes pune diretores com assédio institucional
“Formação” Aprimorando Saberes não tem justificativa pedagógica, esvazia funções e se revela instrumento de perseguição política e humilhação
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Diretores de escolas municipais de São Paulo estão sendo vítimas de um programa que escancara a perversidade da gestão Ricardo Nunes (MDB) contra profissionais comprometidos com a educação pública e com as comunidades periféricas. Sob a justificativa de uma suposta “formação”, o programa Aprimorando Saberes retira educadores experientes de suas escolas sem nomear substitutos, e os isola em salas vazias das Diretorias Regionais de Ensino (DREs), sem plano pedagógico, mentoria ou objetivo educacional real.
“Estamos vivendo uma situação de cárcere. Fomos retirados de nossas escolas para cumprir uma jornada inútil de oito horas e meia, sozinhos, olhando para as paredes. Essa é a ‘formação’ que nos oferecem: salas vazias e papéis aleatórios”, denunciou a diretora Rute Rodrigues Reis, em vídeo registrado às 22h20 em uma DRE totalmente deserta. Doutora em Educação pela USP, Rute não está sozinha. Ao menos 25 diretores relatam o mesmo padrão de assédio institucional – afastados sem critério objetivo, com impacto direto sobre a comunidade escolar.
O programa é denunciado por professores e especialistas como uma retaliação política a diretores que têm posição crítica ao projeto de mercantilização da educação pública promovido pela gestão Nunes.
“Criei programas antirracistas, trabalho com mães solteiras e sou contra a mercantilização da educação. Não é esse tipo de atuação que agrada à atual gestão”, declarou ao G1 Alessandra Messias, diretora da EMEF CEU Paraisópolis.
A SME alega que os critérios de afastamento foram técnicos, baseados nos indicadores do Ideb e Idep. No entanto, uma análise técnica da Rede Escola Pública e Universidade (Repu) – composta por pesquisadores de instituições como USP, Unicamp, Unifesp e IFSP – demonstrou que os critérios foram arbitrários e inconsistentes. A escolha dos indicadores foi aleatória: algumas escolas foram avaliadas pelos Anos Iniciais, outras pelos Finais; algumas pelo Ideb, outras pelo Idep. O estudo mostrou ainda que várias escolas afastadas estavam, na verdade, com desempenho acima da média da rede.
“Fazer uso sistemático de indicadores já seria questionável, mas selecionar índices aleatórios para justificar a intervenção é ainda mais grave. É uma ação arbitrária e incompatível com qualquer princípio de gestão pública minimamente sério”, avaliou Leonardo Crochik, professor do IFSP e um dos autores da nota técnica da Repu.
O que se vê na prática, segundo os relatos, é uma política de humilhação planejada. Carlos Roberto Cardoso, diretor da EMEF Caio Sérgio Pompeu de Toledo, relata que o instrutor entrega um material qualquer, sem conexão com o cotidiano escolar, e vai embora.
“Estamos sendo submetidos a um processo de humilhação pública e de perversidade sem precedentes. Nossas escolas estão abandonadas e os estudantes, desamparados”, afirmou.
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) classificou o programa como “assédio institucional disfarçado de formação” e acionou o Ministério Público e o Ministério da Educação.
A perversidade do programa vai além do afastamento: ele destrói vínculos, afeta alunos e famílias, e impõe um castigo silencioso a educadores que ousam não se curvar. Ao tentar esconder seu projeto autoritário atrás de relatórios e promessas vagas, a gestão Nunes expõe não só o desrespeito à democracia nas escolas, mas também o medo de uma educação crítica, engajada e comprometida com os direitos sociais. O que está em curso não é formação – é perseguição.