A maior crise da história nas relações entre Brasil e Estados Unidos
images (37)

A maior crise da história nas relações entre Brasil e Estados Unidos

A guerra tarifária de Trump desmascara a extrema direita brasileira em um cenário ainda incerto

Israel Dutra 31 jul 2025, 17:12

O Itamaraty não deixou lugar a dúvidas ao definir como a maior crise de nossa história no que tange as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Trump oficializou ontem o decreto do tarifaço, para entrar em vigor em 6 de agosto. Aproveitou e conforme já se tinha noticiado, utilizou o mecanismo conhecido como Lei Magnitsky para retaliar Alexandre de Moraes e o STF.

A nova versão do tarifaço chega desidratada, motivando a linha do governo de seguir com altivez nos embates, buscando o isolamento da extrema direita nacional como traidores dos interesses do Brasil. A entrevista de Lula no New York Times e a declaração oficial do governo brasileiro enfatizou como “inegociável” a soberania nacional.

Os senadores brasileiros alertaram para novas restrições podem entrar em vigor- em noventa dias – como parte das retaliações aos Brics. Trump já ameaçou a Índia nos mesmos termos.

Moraes respondeu não se dobrando a Trump e tomando as sanções como elas são: mais um ataque frontal ao Brasil. E com Zambelli presa na Itália, o cerco fecha aos detratores que atentam contra a soberania brasileira.

Nessa maré convulsiva, é preciso entender e agir para defender os interesses do Brasil e do seu povo trabalhador.

A desidratação do tarifaço

Trump bradou e ameaçou abertamente, sem esconder o que queria quando elevou a linha do clã Bolsonaro à política de estado. Fez do caso brasileiro um capítulo especial da guerra tarifária que leva adiante no mundo inteiro. A Guerra é a política por outros meios, já disse o estrategista alemão Clausewitz. Ainda que não seja uma guerra militar, com armadas, exércitos e bombas, é uma guerra no sentido de escalar os conflitos de interesses opostos. Não é uma guerra militar, mas é tarifária.

Trump logrou acordos importantes, sobretudo com Japão e União Europeia – o que custou uma reclamação por parte de Macron. Os efeitos sobre o Brasil, com o decreto de 50% são graves, com empresas em pânico e algumas cogitando fechar plantas ou decretar férias coletivas. A queda de braço chegou num nível máximo, nunca visto.

Trump postergou em alguns dias a entrada em vigor do tarifaço, agora datado de 6 de agosto e abriu quase 700 casos de exceção. Entre os 694 itens estão pesos pesados da economia brasileira, como a indústria de aeronaves civis, a do suco de laranja, papel e celulose, castanhas-do-Pará, carvão, gás natural, petróleo e seus derivados, entre outros. O alívio, ainda que incerto, representa cerca de 45% das vendas brasileiras aos americanos, retirando da lista importantes empresas de ponta como o caso da Embraer.

De outra parte, seguem na “guilhotina” do tarifaço setores estratégicos, sobretudo ligados ao agro, como café, frutas, também carnes e pescados. E na espreita do processo todo, como questões transversais, o problema das bigtechs e dos minerais em terras raras. A disputa seguirá e não há uma definição no horizonte.

Trump não conseguiu impor totalmente o que queria e agora se dividem setores chave da economia nacional, fortalecendo os negociadores do governo, tanto entre a “frente institucional” quanto na opinião pública. A imprensa liberal atribuiu ao clã Bolsonaro e a intransigência de Trump a crise instalada. Moraes sai fortalecido. As pressões por uma “capitulação aberta” oriundas de alguma parte da burguesia, por agora diminuíram.

A volta da questão antiimperialista tomou a cena nacional. Um nível que há muito não se via de “coesão social” repôs a agenda política, tirou o governo da defensiva e gerou uma desorganização nas hostes da extrema direita.

A prisão de Zambelli colocou máxima pressão, uma semana depois de Bolsonaro ter sido, segundo as próprias palavras, humilhado ao ser obrigado a usar tornozeleira.

É possível vencer a chantagem

Algumas certezas já ficam evidentes na reação dos analistas políticos: o Brasil se saiu bem diante da pressão do 1 de agosto; Trump se converte cada vez mais num alvo dos povos do mundo, com sua prática opressora, como no símbolo de Gaza; a ação de Bolsonaro, ao menos em curto prazo, foi um verdadeiro tiro que saiu pela culatra.

Apenas 19% da população brasileira viu com “bons olhos” as medidas de Trump. O governo cresce quando afirma a soberania nacional.

O imperialismo, ao recuar em parte do decreto, mostra que é forte, mas pode ser parado. A questão dos Brics e do reconhecimento do Estado Palestino – que já teve eco na França, na Inglaterra e agora no Canadá – vai abrindo um novo caminho.

A “outra metade” do tarifaço aponta com toda força para o agro. O que farão esses setores, divididos, com uma parte que é base de apoio de Bolsonaro e do golpismo, mas que tem na China seu principal parceiro comercial, a grande responsável pela reprimarização da economia brasileira nas últimas décadas.

A crise vai seguir, mas o recuo de Trump indica que é possível vencer a chantagem, com duas condições: isolar e desmoralizar a extrema direita, com as prisões chegando ao Clã Bolsonaro e manter a coesão da sociedade, mobilizada nas ruas e nas redes. O ato convocado para 1 de agosto é um exemplo, ir às ruas pela soberania nacional unifica um amplo setor da população. O movimento estudantil está correto em tomar a dianteira dessa luta. Os atos não podem ser apenas convocados, mas construídos, de forma a se preparar para terem um verdadeiro sentido de pronunciamento unitário e comum, capaz de moverem dezenas de milhares em todo país.

Fortalecer a nossa agenda

Por isso, defendemos a unidade de ação, unidade dos movimentos sociais, as ações que o MST vem construindo. Trump é imprevisível, novas crises estão no horizonte, como a que antevê um novo colapso nas bolhas de IA.

É hora de fortalecer a nossa agenda, ao redor de tarefas concretas, que unem o PSOL e a esquerda como um todo: o plebiscito contra a escala 6×1, a defesa da taxação dos bilionários, a luta para que Lula vete todo o “PL da Devastação”, e a centralidade da agenda de soberania nacional, com mudanças na política econômica, com aprovação da regulação das bigtechs e a quebra das patentes americanas.

Junto a isso, por óbvio, é preciso prender os golpistas do 8 de janeiro, colocar Bolsonaro na prisão, e desbaratar a rede de apoio, financiamento e articulação política e comunicacional que atenta contra os interesses do Brasil.

As batalhas que virão exigiram tenacidade e combate do ativismo, que está se temperando e fazendo importantes experiências com a linha da extrema direita no mundo. Defender a soberania do Brasil e o reconhecimento do Estado Palestino é parte indissociável de luta que recém começa.


TV Movimento

A história das Internacionais Socialistas e o ingresso do MES na IV Internacional

Confira o debate realizado pelo Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL) em Porto Alegre no dia 12 de abril de 2025, com a presença de Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Roberto Robaina

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento
Editorial
Israel Dutra | 31 jul 2025

A maior crise da história nas relações entre Brasil e Estados Unidos

A guerra tarifária de Trump desmascara a extrema direita brasileira em um cenário ainda incerto
A maior crise da história nas relações entre Brasil e Estados Unidos
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
A ascensão da extrema direita e o freio de emergência
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!

Autores