Estados Unidos: A espetacular vitória de Zohran Mamdani
A vitória do do socialista nas primárias democratas de Nova York é um marco na resistência contra Trump
Foto: Zohran Mandani. (Reprodução)
Via FLCMF
Na última terça-feira (24), em meio a uma onda de calor sufocante que cobria Nova York, milhares de ativistas se reuniam em diferentes pontos da cidade para acompanhar, em tempo real, a apuração das primárias do Partido Democrata. Quando, já perto das 23h, o candidato do establishment, Andrew Cuomo, admitiu a derrota, a reação foi arrebatadora: gritos, abraços, lágrimas. Um resultado até pouco tempo impensável se confirmava: Zohran Mamdani havia vencido.
A vitória de Zohran redesenha o cenário político da maior cidade dos Estados Unidos. Aos 33 anos, o deputado estadual de origem ugandense e indiana, muçulmano e militante do Democratic Socialists of America (DSA), superou forças poderosas dentro e fora do Partido Democrata. Cuomo, seu adversário, era ex-governador e figura central do aparato político tradicional, apoiado por grandes empresários, inclusive aliados de Donald Trump.
A campanha de Zohran mobilizou uma base ampla e engajada. Nas últimas semanas, era quase impossível cruzar uma avenida do Brooklyn ou do Bronx, de Manhattan, do Queens ou Staten Island, sem avistar voluntários da sua campanha, que bateram à porta de mais de 1 milhão de apartamentos e casas. Seu programa teve forte apelo popular: congelar os aluguéis, tarifa zero nos ônibus, creches gratuitas para todos e supermercados municipais com alimentos subsidiados. A base orçamentária para isso deve vir da taxação dos muitos ricos.
Em um momento difícil da conjuntura local e mundial, é evidente que a vitória de Zohran representa um revés para Trump, sua política neofascista de perseguição aos imigrantes e ainda para o sionismo, diante da posição de Zohran em defesa da causa palestina.
O resultado das primárias de Nova York também abala o corrupto Partido Democrata. Embora Zohran tenha vencido pela legenda, o DSA é conhecido por manter sua independência estratégica, inclusive com o horizonte de construção de um novo partido enraizado na classe trabalhadora. O emblema da campanha foi a mobilização popular direta, o que coloca em xeque os postulados da velha política. O protagonismo da juventude foi marcante, com recordes de comparecimento às urnas entre eleitores de 18 a 30 anos.
Agora, a batalha recomeça em um outro patamar. A desafio é vencer as eleições de novembro. Mas o horizonte não deve ser estritamente eleitoral. O movimento que levou Zohran à vitória nas primárias precisa continuar mobilizado e sustentar os inevitáveis confrontos de classe necessários para implementar um programa popular. Também é fundamental que Zohran mantenha e amplie seu compromisso com movimentos, sindicados e associações populares, resistindo às pressões de adaptação que, inevitavelmente, virão dos dirigentes do Partido Democrata.
Se a vitória nas primárias foi espetacular, o caminho à frente será ainda mais desafiador. No entanto, tão importante quanto prever os desafios, é saber reconhecer e celebrar as vitórias, nos raros momentos em que elas acontecem. E a vitória de Zohran foi, nesse sentido, enorme.
Não foi a vitória de um indivíduo, mas de um movimento. Não de uma candidatura, mas de toda a luta pela Palestina, pelos imigrantes, pela justiça social e pela construção de uma alternativa socialista.