996, 6×1 e a luta de classes
É preciso mover a classe para bloquear a extrema-direita, construindo pontes entre as batalhas políticas e sociais
“Tempo é dinheiro”. O dito popular é de uma verdade impactante. Em pleno 2025, a luta de classes se impõe da sua forma mais essencial: trabalhadores lutando em defesa de seu precioso tempo, patrões e seus representantes buscando os expropriar cada vez mais.
Duas discussões estão na mesa: a questão da jornada de trabalho e o uso das novas ferramentas tecnológicas como a Inteligência Artificial.
No Brasil, avança a consciência a favor da redução da jornada de trabalho, impulsionada pela mobilização contra a escala 6×1. A partir do VAT e das lutas, ganhou peso de massas, na opinião pública, nas redes e nos locais de trabalho, sobretudo entre as camadas mais jovens.
O Vale do Silício, na era Trump, está adotando e saudando a jornada 996, de outra parte. Os patrões modernos, de Bigtechs, Startups e afins, não se constrangeram em copiar a iniciativa chinesa. Uma jornada exaustiva que naturaliza doze horas de trabalho diárias – das 9 às 21, seis dias por semana.
Essas são as formas contemporâneas da “velha” Luta de Classes. O fato de a batalha contra a 6×1 ser incorporada como parte do eixo político da esquerda no país, com ecos em setores de massa, é decisivo e estratégico.
A coalizão do capitalismo do fim do mundo
Há um vínculo direto entre as várias formas que se manifesta a luta pela superexploração da classe trabalhadora atualmente. Por um lado, a necessidade dos grandes bilionários de impor um regime de trabalho que intensifique a exploração; para tanto, sua forma política é a extrema direita, com seus traços neofascistas, que se organiza mundialmente com Trump, Milei, Bolsonaro e outros, como forma de quebrar a resistência do movimento de massas, ampliando o controle dos recursos naturais e da soberania dos países, tema que há meses marca a política brasileira.
A unidade entre esses interesses – das BigTechs, dos Bancos, dos Bilionários, dos que exploram petróleo e minerais – é uma verdadeira coalizão do capitalismo do fim do mundo. De um só golpe, atuam para destruir e degradar as condições de trabalho, a natureza e a soberania dos povos.
Junto a isso, a epidemia da uberização – sob a ideologia falsa do empreendedorismo – e a utilização da IA para reduzir o trabalho humano, a partir da ferramentas da Indústria 4.0. Ao invés de servir de uma ferramenta de libertação da atividade humana, o capital, tal qual o vampiro descrito já nos escritos de Marx, suga o trabalho vivo (sangue, suor e talento dos trabalhadores) para sobreviver.
Essa é uma das bases da presente luta política geral. Junto ao antiimperialismo, a defesa do trabalho e dos trabalhadores é central, apenas com uma pauta de “maioria social” vamos reverter a relação de forças. Isso inclui a articulação internacional e a defesa dos direitos dos imigrantes, ainda mais explorados e sem direitos, em todas as partes do mundo.
A opção do neofascismo passa por degradar as condições de vida da classe trabalhadora. Por isso a burguesia brasileira, em sua maioria, prepara as condições para um plano “Milei”.
Uma pauta universal e ampla
Do lado de cá, a potência da pauta pela redução da jornada, na sua forma mais simples e popular, contra a escala 6×1, animou o ativismo e assustou os patrões. Como um rastilho de pólvora, a pauta entrou nas bases dos setores bolsonaristas, nos grupos de whatsapp, em locais de trabalho como shoppings, farmácias, praças de alimentação, virando comentário nos metrôs e trens das grandes cidades brasileiras.
A eleição de Rick Azevedo, o abaixo-assinado virtual que contou com a adesão de milhões foram sintomas nítidos. Depois, as lutas vitoriosas como a da Pepsico em São Paulo, greves espontâneas como a do supermercado Matheus no Maranhão, conflitos contra uma patronal dura como a do Zaffari, mantiveram em pauta a discussão sobre a redução, o que fez com que Lula tivesse que fazer um pronunciamento no 1º de Maio com esse conteúdo. Essa dinâmica perdeu força, tirando a redução da jornada do centro da agenda.
Apesar de ter “arrefecido”, a pauta segue ganhando volume de força. O plebiscito popular é uma ferramenta que alcança centenas de cidades do país, com apoio de deputados, sindicatos, movimentos populares e sociais, como relata um dos dirigentes do MST que está à frente da iniciativa. Categorias começam a lutar dando sua própria assinatura à pauta, como a oposição unificada de condutores de SP que já anunciou a adesão à luta.
Esse “arrefecimento” é preocupante porque retrata dificuldades na relação de forças. Seja por dificuldades estruturais em reunir gente, visto que os últimos atos foram menores do que deveriam, e poucas greves estão no horizonte; seja porque Lula e o PT, apesar de pronunciarem a favor, não querem que essa pauta seja central ao ponto de entravar negociações com setores da burguesia que exigem mais ajuste. Também a dinâmica do aquecimento da conjuntura política, com as ameaças de Trump e o cerco fechando ao clã Bolsonaro ganhou a prioridade na cena geral.
Mesmo não sendo a única, é a pauta mais dinâmica e capaz de agregar o maior apoio entre a classe trabalhadora. Precisamos lograr unidade e persistência para arrancar mais mobilizações e ações exemplares, como parte de um plano de luta que mobilize o país, em direção à uma luta nacional unificada ao redor do fim da escala 6×1.
Mover a classe
A melhor forma de bloquear a extrema direita é mover a classe, construindo pontes entre as batalhas políticas (prisão de Bolsonaro, contra a ingerência de Trump, sem anistia) com as reinvindicações sociais, onde a luta contra a 6×1 é o centro. Junto a isso, é fundamental seguir a agitação pela taxação dos ricos, além de bandeiras de toda a classe, como a luta contra a reforma administrativa e a exigência que Lula revogue a contrarreforma trabalhista de Temer, bem como lutar contra as medidas do supremo que liquidam direitos do trabalho e da CLT. Sem abrir mão de saudar medidas progressivas, como a isenção do imposto de renda em até 5 mil reais, cuja aprovação da urgência aconteceu hoje.
O chamado para as ruas no dia 7, a participação no plebiscito e o apoio às lutas em curso são essenciais para um coerente e verdadeiro plano de lutas.
Estamos em horas decisivas, a pesquisa Quaest coloca que a combinação entre a polarização e a revelação do caráter autoritário e vende-pátria dos Bolsonaro impulsiona a popularidade de Lula. A revelação do plano de fuga para Argentina e a troca de insultos entre Eduardo, Jair e Malafaia colocam mais lenha na fogueira.
A classe trabalhadora precisa confiar em suas forças para defender seus interesses, que são os mais universais, portanto, interesses de uma esmagadora maioria social.