A luta e os ataques contra os trabalhadores dos Correios
A categoria de trabalhadores e trabalhadoras dos Correios resistem à ataques do governo e da burocracia sindical
Foto: Trabalhadores dos Correios. (Reprodução/PI)
A CATEGORIA ECETISTA ENTRE A TRAIÇÃO BUROCRÁTICA E A NECESSIDADE DE UMA LUTA DE BASE
Há anos a categoria ecetista, formada pelos trabalhadores e trabalhadoras dos Correios, vem resistindo a sucessivos ataques. Esses ataques não vêm apenas da direção da empresa e do governo, que em última instância é o nosso patrão, mas também da própria burocracia sindical que, ao longo das últimas décadas, se consolidou como um freio nas lutas.
Hoje, o movimento sindical em Correios está dividido entre duas federações: a FENTECT, hegemonizada pelo campo da ARTSIND/CUT/PT, com setores minoritários como CSP-CONLUTAS, Intersindical Vermelha e outros; e a FINDECT, dirigida pela CTB/PCdoB/MDB. Embora a FENTECT concentre a maioria dos sindicatos, a FINDECT controla cerca de 60% do fluxo postal por ter sob sua base os dois maiores sindicatos do país: São Paulo e Rio de Janeiro.
Essa disputa entre CUT e CTB, que se arrasta desde antes da fundação da FINDECT, não passa de uma briga pela hegemonia sindical dentro da categoria. No fundo, são duas faces da mesma moeda: ambas governistas, ambas comprometidas em defender nosso patrão atual, o governo, em detrimento dos interesses da categoria ecetista.
A FARSA: DO “GOVERNO PROGRESSISTA” E A TRAIÇÃO EXPLÍCITA
O cenário atual escancara essa contradição. A burocracia sindical insiste em vender a ilusão de que vivemos sob um “governo progressista”, até mesmo chamado de “governo dos trabalhadores”. Mas a prática demonstra o oposto: o governo não negocia com a categoria, trata nossas reivindicações com descaso e coloca a defesa do empresariado acima das necessidades da Classe Trabalhadora.
Não podemos esquecer que o atual presidente da República vestiu a camisa de carteiro em duas ocasiões: no início dos anos 2000 e novamente durante a última campanha presidencial. Esse gesto foi recebido como sinal de compromisso com os trabalhadores dos Correios. Porém, uma vez na presidência, (de novo), esse compromisso foi abandonado. A camisa serviu apenas como peça de marketing eleitoral, não como garantia de direitos.
A contradição se torna ainda mais gritante quando observamos as prioridades orçamentárias do governo. Recentemente, foram liberados R$ 31 bilhões para salvar empresários exportadores prejudicados pelo tarifaço imposto pelo governo dos EUA. Ou seja: quando se trata de proteger lucros de grandes empresas, o dinheiro aparece. Mas quando se trata de salvar os Correios e garantir um acordo coletivo decente para seus trabalhadores, a resposta é sempre a mesma: “crise financeira”.
Se há dinheiro para salvar empresários, tem que haver dinheiro para salvar os Correios e a dignidade da nossa categoria.
A TRAIÇÃO NO PLANO DE SAÚDE: DE CORREIOS SAÚDE AO POSTAL SAÚDE
O exemplo mais escandaloso dessa traição ocorreu no desmonte do nosso plano de saúde.
A partir de 2008, sob o discurso de que “a empresa gastava demais” com o Correios Saúde, FENTECT/CUT e FINDECT/CTB/MDB ajudaram o governo a preparar o terreno para sua destruição. O golpe final veio em 2014, quando a base atropelou a burocracia e protagonizou uma greve histórica de 43 dias em defesa do plano de saúde. Porém, essa luta foi sabotada pela direção dos sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro, além de toda a base da FINDECT: sindicatos como São Paulo e Rio de Janeiro sequer convocaram assembleia, pois sabiam que a base iria obrigá-los a lutar.
Resultado: o Correios Saúde foi substituído pelo Postal Saúde, mesmo com a cláusula 28 do Acordo Coletivo garantindo que qualquer mudança só poderia ocorrer se aprovada em assembleia. CUT e CTB, lado a lado com o governo, traíram a categoria.
O Postal Saúde mostrou-se um desastre: descredenciamento constante de hospitais e clínicas, mensalidades e coparticipações abusivas, falta de cobertura durante a pandemia de COVID-19 — o que levou colegas à morte por ausência de atendimento.
Mesmo diante disso, a atual direção do nosso sindicato optou por dividir a luta em regiões, jogando água fria nos ativistas. No ABC, quando o hospital Cristóvão da Gama suspendeu atendimentos, a direção fez uma reunião “secreta” com poucos militantes, já sabendo que o hospital havia retomado parcialmente os serviços. Em Guarulhos repetiram a farsa. Hoje seguem tentando apagar incêndios isolados em vez de organizar uma luta nacional, unificada, em defesa de um plano de saúde decente.
RETROCESSOS ACUMULADOS: DA PLR À DESTRUIÇÃO DE DIREITOS HISTÓRICOS
- O desmonte não se restringiu ao plano de saúde. A categoria viu, ao longo dos últimos anos, retrocessos profundos:
- O fim da Participação nos Lucros e Resultados (PLR);
- A redução do step de 5% para 2,4%;
- A eliminação de cláusulas históricas do nosso Acordo Coletivo, que chegaram a 52 conquistas arrancadas com luta, greve, demissões e prisões.
Tudo isso aconteceu com a conivência da burocracia sindical. Durante os governos Temer e Bolsonaro, repetiam a desculpa de que “vivíamos um governo de exceção” e por isso não organizavam lutas sérias. Delegados sindicais, cipeiros e ativistas que ousavam enfrentar esse cenário foram perseguidos, transferidos e muitas vezes abandonados pela própria direção do sindicato.
A CAMPANHA SALARIAL 2025/2026: A FARSA SE REPETE
Chegamos agora à campanha salarial 2025/2026 em condições ainda mais adversas. Desde o primeiro semestre, as duas federações iniciaram seus rituais burocráticos: a FENTECT com seu CONREP, a FINDECT com reuniões de dirigentes. Ambas prometeram uma pauta unificada e um calendário de lutas conjuntas. Na prática, salvo raríssimas exceções, nenhuma prepara a base de fato.
A data-base de 31 de julho passou sem nenhum acordo coletivo assinado. O governo e a direção da empresa mandaram negociadores treinados para falar de “crise financeira”, se dispuseram a discutir apenas cláusulas sociais e suspenderam as negociações quando o tema foi salário.
Enquanto isso, as direções sindicais não convocam reuniões de delegados, cipeiros e ativistas, não apresentam calendário de greve, não mobilizam a categoria. Em São Paulo, a direção vai a alguns setores apenas para semear medo, repetindo o discurso da “crise” como se os trabalhadores fossem os culpados.
Essa postura só é possível porque os sindicatos se dedicam mais a blindar o governo “progressista” do que a defender nossa categoria.
O CAMINHO: ROMPER COM A BUROCRACIA, ORGANIZAR A BASE
Diante desse quadro, não basta apenas denunciar. É preciso apontar um caminho.
O futuro da nossa categoria não pode ser decidido por burocratas que vivem de discursos em redes sociais, reuniões fechadas e acordos de gabinete. Precisamos reconstruir a luta de baixo para cima, retomando o protagonismo que já demonstramos desde 1985, e em tantas outras greves históricas.
Isso significa:
- Unificar as lutas, em vez de fragmentá-las em pequenas ações regionais;
- Reorganizar a base, chamando assembleias reais, abertas e democráticas em todos os setores;
- Confiar nos delegados, cipeiros e ativistas combativos, que estão no chão de fábrica e sabem as reais condições de trabalho;
- Romper com a burocracia governista, que tem como prioridade proteger o patrão e não a categoria.
A história da nossa categoria mostra que quando confiamos em nossas próprias forças, conseguimos arrancar conquistas. Quando deixamos a luta nas mãos da burocracia, perdemos direitos.
A campanha salarial 2025/2026 não pode ser mais uma farsa. É hora de delegados, cipeiros e ativistas comprometidos com a luta se unirem em torno de um eixo simples: enfrentar a direção da empresa e o governo, que são o nosso patrão, e derrotar a burocracia sindical que só nos divide e sabota.
Ou nos organizamos pela base, com independência e coragem, ou continuaremos a pagar com salários rebaixados, direitos destruídos e saúde precarizada.
Se o governo tem bilhões para salvar empresários, tem que ter recursos para salvar os Correios e respeitar quem veste de verdade a camisa de carteiro e dos demais ecetistas todos os dias.