Assassinato de Kirk coloca esquerda em perigo
Nessa semana, nossa coluna traduz o texto “Assassinato de Kirk coloca esquerda em perigo”, do intelectual socialista estadunidense, Dan La Botz, publicado em 14 de setembro. No artigo, La Botz antevê o que agora já está em curso: o aumento da perseguição à esquerda e à liberdade de expressão nos Estados Unidos, por consequência do assassinato do influenciador de extrema-direita, Charlie Kirk
Estados Unidos Hoje da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
Nessa semana, nossa coluna traduz o texto “Assassinato de Kirk coloca esquerda em perigo”, do intelectual socialista estadunidense, Dan La Botz, publicado em 14 de setembro. No artigo, La Botz antevê o que agora já está em curso: o aumento da perseguição à esquerda e à liberdade de expressão nos Estados Unidos, por consequência do assassinato do influenciador de extrema-direita, Charlie Kirk.
Na quarta-feira (17), enquanto visitava o Reino Unido, Donald Trump anunciou em rede social que classificaria como terroristas as organizações “Antifa” no país. No mesmo dia, a rede de televisão ABC tirou do ar, por tempo indeterminado, o famoso apresentador de talk show, Jimmy Kimmel. A censura veio em resposta a uma exigência da Casa Branca, após Kimmel afirmar, no ar, que o movimento MAGA instrumentalizava politicamente o assassinato. Em diversas universidades, administrações, intimidadas pelo governo, estão vigiando e punindo estudantes e professores em decorrência de opiniões sobre o ex-influenciador e movimentos de extrema-direita.
Torna-se claro que o governo Trump quer avançar em direção a um quadro típico de ditaduras, em que só o governo e o próprio governante estipulam o que pode ser falado. Avançar nesse sentido é essencial para uma administração de extrema-direita que, para se manter no poder, precisa inverter os valores dos debates públicos, tornando normal o que é absurdo. É assim que o governo chama de “terrorismo” a denúncia do fascismo, bem como, em nome da “liberdade”, persegue organizações da sociedade civil, ataca a ciência, a justiça, a educação e a verdade.
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Assassinato de Kirk coloca esquerda em perigo
(Dan La Botz – Traduzido de International Viewpoint)
O assassinato de Charlie Kirk, o líder de 31 anos da organização juvenil de extrema-direita Turning Point USA, intensificou a polarização política nos Estados Unidos e gerou apelos do movimento Make America Great Again (MAGA) de Trump para a eliminação da esquerda da vida política americana.
Kirk foi assassinado por um único disparo de rifle enquanto fazia um discurso na Utah Valley University, em Orem, Utah. Em dois dias, Tyler Robinson, um estudante de 22 anos, se entregou à polícia e foi acusado pelo assassinato.
Após a morte de Kirk, o presidente Donald Trump fez um pronunciamento nacional, dizendo: “Por anos, a esquerda radical comparou americanos maravilhosos como o Charlie a nazistas e aos piores assassinos e criminosos em massa do mundo. Esse tipo de retórica é diretamente responsável pelo terrorismo que estamos vendo em nosso país hoje, e isso precisa parar agora.” Laura Loomer, que é influente no entorno de Trump, escreveu: “Precisamos calar esses lunáticos esquerdistas. De uma vez por todas. A esquerda é uma ameaça à segurança nacional.”
Kirk era um seguidor devoto e amigo do presidente Donald Trump, que via sua organização Turning Point USA como o grupo juvenil do movimento MAGA. Em 2024, o grupo mobilizou jovens para votar em Trump, ajudando-o a vencer as eleições presidenciais.
Kirk era um nacionalista cristão branco que frequentemente sugeria que as pessoas negras, especialmente as mulheres negras, eram intelectualmente inferiores. Ele argumentava que os judeus eram responsáveis pela “Grande Substituição” dos americanos brancos por pessoas racializadas. Ele dizia que as mulheres deveriam rejeitar o feminismo e se submeter aos seus maridos. Acreditava que as pessoas LGBT violavam a lei bíblica de Deus. Embora se proclamasse um defensor da liberdade de expressão, o Turning Point USA de Kirk mantinha uma “lista de vigilância de professores”, com o objetivo de expulsar professores progressistas do meio acadêmico. Ele afirmava que os muçulmanos matariam todos os judeus da terra. Dizia que a Palestina não existia e afirmava que as alegações de fome infantil em Gaza eram notícias falsas. Ele negava a mudança climática, alegando falsamente que não havia consenso científico sobre o tema.
Tyler Robinson cresceu em uma família cristã e republicana em Utah. Era um excelente aluno, gostava de videogames e começou a se interessar por política, mas aparentemente não era membro de nenhuma organização. Supostamente, ele confessou o assassinato, mas, se ele for o assassino, não sabemos por que matou Kirk.
No entanto, temos algumas pistas. Alguns cartuchos não disparados encontrados perto do rifle usado no tiroteio traziam recados. Um dizia: “Ei, fascista! Pegue essa.” Outro dizia: “Bella ciao”, menção a uma canção da resistência antifascista italiana da Segunda Guerra Mundial. Então, talvez Robinson tenha se tornado um antifascista que queria matar o principal organizador juvenil de um movimento fascista americano. Se for esse o caso, achamos que ele cometeu um erro terrível.
Nós, socialistas, sempre rejeitamos atos individuais de terrorismo, como assassinatos. Primeiro, grandes organizações ou movimentos sociais dificilmente mudam de direção ou são parados pela morte de uma pessoa. Pelo contrário, o assassinato de um líder carismático e popular como Kirk pode criar um mártir em torno do qual as pessoas se organizam.
Em segundo lugar, o assassinato leva à repressão, como estamos vendo agora, quando agressores de direita, políticos e o governo aproveitam o assassinato para pedir o expurgo da esquerda dos Estados Unidos.
Nós, da esquerda, assim como progressistas e liberais, estamos em perigo. Mesmo antes do assassinato de Kirk, Trump já estava enviando tropas para as cidades americanas. Vários direitistas nas redes sociais agora pedem uma guerra civil. Líderes de grupos armados e violentos, como os Oath Keepers e os Proud Boys, convocaram seus membros a se mobilizarem. Teremos que ser vigilantes e nos organizar para defender nossas organizações e nossos direitos, enquanto continuamos a nos opor a Trump, aos republicanos e à extrema-direita.