Deputados ‘põem a mão na consciência’ e pedem desculpas por votar a favor da PEC da Blindagem
Sob pressão popular e com as ruas tomadas contra a blindagem e a anistia, cresce a fila de parlamentares que tentam justificar seus votos a favor da PEC da Bandidagem
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
A aprovação da chamada PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados – ou, como as ruas batizaram, PEC da Bandidagem – rendeu não apenas indignação popular, mas também um desfile de arrependimentos públicos no Instagram e no X (antigo Twitter). Parlamentares que até dias atrás votaram com convicção agora parecem ter descoberto um súbito senso de responsabilidade democrática. Coincidência ou medo do desgaste eleitoral?
Entre os que pediram desculpas está a deputada Silvye Alves (União Brasil-GO), que classificou seu voto como “um erro gravíssimo”. Ela disse ter cedido a ameaças de “pessoas influentes do Congresso” e confessou ter sido “covarde” ao mudar seu posicionamento quase na calada da noite. O detalhe pitoresco: após a repercussão, anunciou até a desfiliação do partido.
No Piauí, o petista Merlong Solano também fez mea-culpa. Justificou que seu voto favorável teria sido parte de uma “estratégia” para manter diálogo com a presidência da Câmara e garantir pautas sociais. O problema é que, um dia depois, a urgência da anistia aos golpistas foi aprovada, mostrando que a tal negociação não passou de miragem. Em sua nota de retratação, Merlong reconheceu que se tratou de um “grave equívoco” e apelou ao STF para tentar anular a votação.
Pedro Campos (PSB-PE), irmão do prefeito do Recife, entrou na onda dos arrependidos e afirmou que sua intenção era impedir que a anistia avançasse e, ao mesmo tempo, proteger pautas do governo Lula. Só que, na prática, o resultado foi derrota dupla: a blindagem passou e a anistia avançou. Em vídeo, Campos reconheceu que não escolheu “o melhor caminho”.
Até no Centrão houve quem resolvesse vestir a túnica da humildade. O deputado Thiago de Joaldo (PP-SE), que havia defendido a PEC como forma de combater suposta “perseguição judicial” a parlamentares, mudou o tom. Após ouvir especialistas e eleitores, disse que a Câmara “errou na mão” e que o “remédio pode ter saído mais letal que a doença”. Promete agora trabalhar contra o texto no Senado.
Curiosamente, os pedidos de desculpas surgiram justamente após as gigantescas manifestações deste domingo em pelo menos 18 capitais e até no exterior. Com artistas, movimentos sociais e políticos de esquerda, os protestos deixaram claro que a população não aceita blindagem para parlamentares nem anistia para golpistas. Com o grito das ruas ecoando, não seria surpresa se mais deputados resolvessem aderir ao clube do arrependimento seletivo.
O problema é que, como bem sabem os manifestantes que carregavam cartazes de “Sem anistia” e “Congresso inimigo do povo”, desculpas tardias não apagam votos registrados. Se a pressão popular continuar nesse ritmo, pode ser que a fila de arrependidos aumente. E quem sabe, dessa vez, os parlamentares aprendam que democracia não se negocia nos bastidores — e que o eleitorado, definitivamente, não tem memória curta como eles gostariam.