Unidade antifascista ganha corpo rumo à Conferência Internacional de 2026
Em Porto Alegre, movimentos sociais, partidos e sindicatos defendem mobilização unificada contra a extrema direita; historiador Éric Toussaint alerta para ofensiva global do grande capital
Fotos: Tatiana Py Dutra/Esquerda em Movimento
Na última terça-feira (23), Porto Alegre recebeu a reunião do Comitê Organizador da Iª Conferência Internacional Antifascista, que ocorrerá em março de 2026. O encontro reuniu partidos, movimentos sociais, sindicatos e militantes comprometidos em barrar o avanço da extrema direita no Brasil e no mundo. A presença do historiador belga Éric Toussaint, referência do movimento altermundialista e incentivador direto da conferência, deu o tom internacional da iniciativa.
Em sua fala, Toussaint recuperou a trajetória do Fórum Social Mundial e fez um alerta sobre o cenário atual:
“É mais ou menos a opção do grande capital para derrotar a classe operária, que não constitui a mesma ameaça que nos anos 1930, mas que continua com conquistas sociais. O capital quer destruir definitivamente essas conquistas para impor um aumento brutal da acumulação de ganâncias”.
Para ele, a unidade da esquerda e do campo progressista é o único caminho capaz de resistir ao neofascismo. O historiador lembrou ainda vitórias recentes, como a eleição de Lula em 2022 e a conquista da nova Frente Popular na França em 2024, como exemplos de que a mobilização coletiva é capaz de frear a extrema-direita.
“Quando as forças de esquerda se unem, sim, há possibilidades de contra-atacar a ofensiva da extrema direita”, ressaltou.
O belga defendeu que a conferência em Porto Alegre seja um espaço plural, reunindo desde sindicatos e partidos de esquerda até movimentos feministas, antirracistas, ambientais, indígenas e pela diversidade sexual. Para ele, o antifascismo deve articular todas essas lutas.
“A luta antifascista inclui muitos temas: o rechaço ao genocídio em Gaza, a denúncia do negacionismo climático, a resistência aos ataques contra as conquistas das mulheres e da população LGBTQI+, a luta contra o racismo, contra a homofobia e contra o aumento dos gastos militares”, disse.
Unidade e resistência
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS) reforçou a importância de Porto Alegre como símbolo dessa articulação internacional.
“Estamos num momento em que o Brasil conseguiu colocar no banco dos réus e condenar pela primeira vez na sua história um ex-presidente da República por tentativa de golpe. Isso é uma vitória democrática importante, mas ao mesmo tempo vivemos ataques imperialistas, vindos de figuras como Trump, que tentam interferir até na nossa soberania jurídica. É por isso que precisamos renovar as forças da esquerda e dar respostas de massas, com mobilização e luta”, afirmou.
Para Fabiano, representante do Sindijus, a conjuntura internacional revela a gravidade do embate:
“Ontem, o Trump editou um ato considerando qualquer movimento antifa como terrorista. A gravidade do que estamos vivendo é gigantesca e isso exige uma capacidade de unidade, superando divergências, porque é o futuro da humanidade que está em jogo”.
Já Paula, militante da Coluna Vermelha Antifascista, defendeu que a luta antifascista precisa estar conectada às batalhas territoriais locais e à solidariedade internacionalista.
“Aqui em Porto Alegre, territórios como o Quilombo Kédi estão sob ataque direto de grandes empresas, como o Zaffari. Assim como em Gaza ou na Venezuela, o capital destrói vidas e territórios. O antifascismo tem que estar na linha de frente dessas lutas e da solidariedade de classe internacional”, defendeu.

Graziela Machado Palma, vice-presidente do Sindisaúde-RS, destacou que a resistência também se dá dentro dos locais de trabalho.
“Vivemos um período muito difícil no Grupo Hospitalar Conceição. A diretoria tem praticado ataques sistemáticos contra trabalhadores e entidades históricas como a SERG. É fundamental discutir o macro, mas também olhar para dentro das nossas bases, porque é nelas que sentimos os efeitos diretos do neoliberalismo e do fascismo”, apontou.
Porto Alegre como referência internacional
A reunião de preparação deixou claro que a Conferência Internacional Antifascista será um espaço plural e inclusivo, aberto a partidos, sindicatos, juventudes, movimentos feministas, antirracistas, ambientais, LGBTQIA+ e povos originários. Toussaint enfatizou que “a juventude deve ser protagonista” e que a conferência precisa combinar plenárias amplas com oficinas autogestionadas, além de mecanismos de participação online que permitam o engajamento de organizações de outros continentes.
Assim, Porto Alegre, que já foi palco do nascimento do Fórum Social Mundial, se prepara para voltar ao centro do mapa das lutas progressistas globais. O chamado é claro: construir uma contraofensiva capaz de frear o avanço do fascismo e abrir caminhos para um futuro de solidariedade, democracia e justiça social.