Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na manhã de quinta-feira (9), 13 ativistas brasileiros que integraram a Flotilha Global Sumud desembarcaram no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, após serem presos por Israel em águas internacionais durante missão humanitária. A recepção foi marcada por emoção, bandeiras da Palestina, abraços e aplausos – centenas de pessoas de movimentos populares, entre elas militantes do MES-PSOL, formaram uma homenagem coletiva para saudar os brasileiros de volta.

A delegação incluia a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), a vereadora Mariana Conti (PSOL-SP), Gabriele Tolotti, Thiago Ávila, Bruno Gilga, Lisiane Proença, Magno Costa, Ariadne Telles, Mansur Peixoto, Mohamad El Kadri, Lucas Gusmão, João Aguiar e Miguel Castro. Eles haviam sido libertados por Israel, conduzidos até a fronteira da Jordânia, com apoio dos consulados brasileiros, e retornaram ao Brasil por voo comercial via Doha.

“Dor e firmeza: fala de Gabi Tolotti

Em Porto Alegre, Gabi Tolotti, presidente do PSOL no Rio Grande do Sul, foi calorosamente recebida por familiares, amigos e camaradas do partido. Ela avaliou a missão com clareza e emoção. Tolotti afirmou:

“Desde os primeiros dias da flotilha eu tenho falado que o sucesso da missão ia depender do apoio dos barcos. Não dependeria só dos barcos. Obviamente que é uma flotilha com 500 pessoas, 44 barcos, e isso teve uma mudança qualitativa na história das flotilhas, que acontecem desde 2008. Mas a gente sabia que não teria tanto efeito se o apoio externo não fosse muito grande. Eu falo isso porque obviamente nossa missão era chegar a Gaza, abrir o corredor humanitário, mas mais do que isso, levar os olhos do mundo a Gaza. E a gente conseguiu romper o cerco, um dos nossos barcos chegou a 26 milhas náuticas de Gaza, mas foi interceptado. Vi no JN eles falando que a gente foi interceptado com água, não. A gente foi interceptado com metralhadoras e lasers na testa.”

Tolotti concluiu, com convicção:

“Mas eles não nos quebraram. Se tiver uma nova flotilha, pode ter certeza eu vou estar lá.”

Thiago Ávila, ao desembarcar em Guarulhos, disse que a delegação saiu com “o mesmo senso de justiça e dignidade”, apesar de terem sido “atacados e presos por sete dias”. Ele denunciou também que seis ativistas continuam presos em Israel.

Importância política e simbólica

O retorno dos ativistas reforça uma série de realidades:

Solidariedade mobilizada: o calor da recepção em Guarulhos e Porto Alegre evidencia a força dos movimentos populares e da militância de esquerda, que vinculam internacionalismo, direitos humanos e luta anticolonialista como prioridade política.

Visibilidade global da causa palestina: como disse Tolotti, a missão não se limitava a entrar em Gaza, mas a “levar os olhos do mundo” para a situação da população sob cerco. O caráter simbólico da flotilha – com ativistas de várias nacionalidades, cobertura da mídia internacional, denúncia de violações – reforça a pressão diplomática e moral sobre governos que apoiam ou toleram o bloqueio.

Desafio legal e de justiça internacional: interceptar embarcações em águas internacionais, deter civis e negar assistência legal ou médica são práticas que multifacetadas organizações de direitos humanos condenam como violações do direito internacional humanitário. Se essas denúncias forem comprovadas em instâncias competentes, poderão configurar responsabilidade de Israel em tribunais internacionais ou organismos multilaterais.

Resistência persistente: o fato de ativistas declararem estar dispostos a repetir a missão reflete que, para muitos, a experiência da Global Sumud não é apenas uma ação pontual, mas parte de uma tradição de solidariedade internacional que mobiliza populações e constrói memória política de oposição às políticas de ocupação e cerco.

Valores

O retorno dos ativistas brasileiros da Global Sumud Flotilla é motivo de esperança e reafirmação de valores: dignidade, justiça e solidariedade internacional. Também serve como alerta para que os mecanismos diplomáticos do Estado respondam com firmeza às violações dos direitos humanos. É preciso se manter mobilizado, para que casos dessa natureza não sejam considerados meramente simbólicos, mas cobrem reparações, responsabilização e políticas efetivas de solidariedade.

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