Moção de congratulações a Israel gera tensão na Câmara de São Caetano
Ao criticar a proposta de homenagear o Estado israelense durante o genocídio em Gaza, vereadora Bruna Biondi sofre censura durante sessão
Foto: CMSCS/Divulgação
Na sessão da Câmara Municipal de São Caetano do Sul, realizada na última terça-feira, a vereadora Bruna Biondi (PSOL) protagonizou um momento simbólico de resistência: ao questionar a pertinência de conceder uma moção de congratulações ao Estado de Israel enquanto o massacre em Gaza se intensifica. Ela foi abruptamente interrompida pelo presidente da sessão com a frase “corta o microfone da vereadora, por favor”.
“Podem até cortar meu microfone, mas não impedir que uma voz em defesa do povo palestino ecoe nesta casa”, reagiu Biondi diante da tentativa de silenciá-la. Ela prosseguiu: “Hoje gente está aqui com a presença do Comitê Regional Unificado em Defesa do Povo Palestino, esse importante comitê que eu saúdo a presença e apoio a iniciativa de ter vindo com uma nota, aqui nesta casa e ter entregue nos gabinetes dos vereadores no momento de maior escalada do genocídio do povo palestino.”
O momento de tensão se deu exatamente no ápice da intervenção da vereadora, quando ela denunciava: “Uma Câmara, um poder Legislativo, aprovar uma congratulação com essa, num momento como esse é de um nível de barbaridade tremendo. A gente está falando de um Estado que há 77 anos comete práticas de genocídio e de tentativa de extermínio e de apartheid de um povo… Congratular um Estado terrorista num momento como esse não tem outra justificativa a não ser se colocar ao lado daqueles que querem acabar com o povo palestino.”
Contexto político e repercussão
O episódio ocorre em momento de escalada do conflito entre Israel e Gaza, com denúncias internacionais de crimes de guerra, bombardeios sobre civis e uma crise humanitária que mobiliza protestos globais. Para setores da esquerda e dos movimentos de solidariedade internacional, aprovar moções que enaltecem Israel nesse contexto seria uma postura de aliança simbólica com a violência sistemática exercida contra a população palestina.
Internacionalmente, organizações como a Human Rights Watch, Anistia Internacional e o próprio Relator Especial das Nações Unidas para a Palestina têm reiterado que ataques indiscriminados contra civis violam o direito internacional humanitário. Em 2025, o relator especial da ONU para os direitos dos palestinos denunciou que Gaza vive “uma das piores crises humanitárias contemporâneas”, com falta de água, luz, remédios e abrigos, agravada por bloqueios e bombardeios contínuos.
No âmbito local, o acontecimento reverbera politicamente: tentações institucionais de alinhar legislativos municipais a agendas diplomáticas ou simbólicas devem sofrer escrutínio mais aguçado, especialmente diante de conflitos geopolíticos cujo impacto se reflete no discurso público e no senso de justiça social.
A moção e seus patrocinadores
A proposta de moção de congratulações foi formalizada pelo vereador Marcos Sérgio G. Fontes (PP), que requereu que conste em ata e nos anais um voto de congratulações ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, à Confederação Israelita do Brasil (Conib), à Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e à Congregação Israelita Paulista (CIP), pelos atos em memória às vítimas do Holocausto e ataques contra Israel em 7 de outubro.
Há pelo menos três semanas a proposta volta à pauta, mas a votação é embargada e empurrada para a semana seguinte. Se a moção retornar à pauta, o embate tende a ganhar ainda mais visibilidade – e já coloca São Caetano do Sul no mapa dos parlamentos que, localmente, são convocados a se posicionar em relação ao genocídio em Gaza. Afinal, não basta não silenciar: é preciso usar a tribuna para denunciar, conscientizar e construir alianças contra a barbárie.