A I Conferência Internacional Antifascista
A conferencia que se realizará em março de 2026 abre a possibilidade concreta da unidade de ação daquelas e daqueles que querem lutar e da possibilidade da constituição de uma frente única antifascista
Se os cadáveres não são bons para a luta, são bastante bons para impedir de lutar
(Leon Trotsky em Revolução e Contrarrevolução na Alemanha)
De 26 a 29 de março de 2026 estará acontecendo a I Conferência Internacional Antifascista em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
A primeira pergunta que as pessoas fazem é por quê uma Conferência Internacional Antifascista? Primeiro pelo ineditismo. Será a primeira Conferência Internacional Antifascista do século XXI. O avanço da extrema direita neofascista é uma realidade no sistema capitalista.
A I Conferência Internacional Antifascista será um momento que estarão reunidos ativistas, militantes, organizações políticas e sindicais, movimentos sociais, partidos políticos, de vários países, da América Latina, dos EUA, Europa, da Ásia e da África, a luta do movimento antifascista é internacional e a reação da classe trabalhadora também terá que ser internacional contra a extrema direita.
O fascismo foi oficialmente fundado na Itália em 1919, mas a política antiliberal e antimarxista que ele representava surgiu simultaneamente em todo o mundo. Em 1919, no dia 23 de março, a convite de Mussolini, cerca de trezentas pessoas se reuniram num imóvel da praça San Sepolcro, em Milão, para lançar as bases do movimento nacional fascista.
De acordo com o pesquisador italiano Emilio Gentile em ‘Qu’Este-ce que le Fascisme?: Histoire et interprétation’, é necessário levar em conta três dimensões da implantação do fascismo na vida pública de um país, para entender o processo de substituição da democracia por um partido único. A primeira dimensão é a organização nacional. Ela implica na existência de um movimento de massas, guiados por líderes altamente motivados, em geral oriundos da classe média. Militantes que se reúnem ao redor de um partido miliciano e se consideram “investidos de uma missão de regeneração social”, em guerra contra os adversários políticos que devem ser eliminados da cena pública.
A segunda dimensão é cultural. Trata-se, sobretudo, da dimensão ideológica, que está na origem dos discursos e das práticas de intimidação (acabamos de ver recentemente as ameaças de morte contra a deputada Luciana Genro do PSOL/RS e o deputado Adão Pretto Filho que compõe a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul), dos inimigos, que se recusam a compartilhar das ideias pela extrema direita. Em terceiro lugar está a dimensão institucional.
Trata-se do lugar que ocupa o em um regime fascista de um “aparato policial”, que previne, controla e reprime, inclusive recorrendo ao terror organizado, a toda forma de dissenção e oposição. Nesta dimensão se encontra especialmente “ um partido único, cuja função é garantir, através de sua milícia, a defesa armada do regime, entendido como o conjunto de novas instituições públicas criadas pelo movimento contrarrevolucionário.
De acordo com Isaac Deutscher, o revolucionário Leon Trotsky foi o primeiro teórico marxista, a compreender o potencial destrutivo com que o nacional-socialismo explodiria no mundo. A Alemanha estava especial e imediatamente margeada por antagonismo políticos e econômicos quando da instalação do nazismo. Contradições de um capitalismo aparentemente em declínio, agravadas por uma enorme crise comercial, industrial e financeira assolavam o país. De outro lado, uma grave crise social, agudizada pela fraqueza revolucionária do proletariado, fortalecia as bases nascentes do fenômeno nazifascista.
Para Trotsky, as crises que permeiam o desenvolvimento capitalista só ensejaram o fascismo em territórios italiano e alemão porque os proletários não foram conduzidos à revolução com a velocidade e o rigor necessários.
A inação do Partido Comunista cederia espaço à ascensão nazifascista na medida em que deixaria de ganhar as classes médias, a pequena burguesia ainda indecisa e parcelas consideráveis do operariado.
Nos escritos de Trotsky em A luta contra o fascismo (Revolução e Contrarrevolução na Alemanha) : “O dever revolucionário elementar do KPD é dizer: fascismo só pode chegar ao poder por meio de uma guerra civil , implacável, sem tréguas. É o que devem saber, antes de tudo, os operários comunistas. É o que devem saber os operários socialdemocratas, os sem partido, o proletariado em geral. É o que deve saber o proletário mundial. É o que deve saber antes de tudo o exército vermelho.
Ernest Mandel, em Trotsky como alternativa, faz uma caracterização importante a respeito da ascensão do fascismo: “ O fascismo seria, em primeira instância, um movimento de massas da pequena burguesia enfurecida. Neste movimento, encontramos uma combinação de extremo nacionalismo e uma manifestação verbal demagógica anticapitalista com uma hostilidade ainda maior contra o movimento proletário organizado (“contra o marxismo”, “contra o bolchevismo”, “contra os patrões sindicais”).
Do Japão ao Brasil e à Alemanha, da Argentina à Índia , da Nicarágua à França, as mais conhecidas contrarrevoluções antidemocráticas foram a italiana com Mussolini, o nacional-socialismo alemão de Hitler, o franquismo espanhol e o corporativismo português de Salazar.
De acordo com o Dicionário Político Marxista, a palavra fascismo de origem italiana, deriva de ‘fascio’ – o feixe de varas, distintivo dos cônsules da Roma antiga. Do ponto de vista do seu conteúdo, o fascismo é a forma mais reacionária, abertamente terrorista, da ditadura do capital financeiro. Esta ditadura é evidentemente instaurada pela burguesia imperialista para prolongar o seu domínio.
O recurso ao fascismo, prova que a burguesia já não confia muito no conservar o poder político através da utilização dos meios burgueses ordinários – isto é, através dos meios da democracia parlamentar. Precisamente por isso, o fascismo foge ao diálogo e à polêmica com as forças adversas e antes reprime pela força do domínio ideológico e do obscurantismo. Ele significa irracionalidade, chauvinismo, racismo extremo.
O Fascismo, significa interdição das liberdades cívicas, a eliminação dos direitos dos trabalhadores , combate às organizações intelectuais progressistas.No texto o Fascismo e sua Política, o marxista sardo, vítima do fascismo e encarcerado por Mussolini, Antonio Gramsci, caracteriza “ o fascismo, como movimento de reação armada que se propõe o objetivo de desagregar e de desorganizar a classe trabalhadora para a imobiliza-la , enquadra-se no plano da política tradicional das classes dirigentes e na luta do capitalismo contra a classe operária”.
A respeito do neofascismo italiano do século XXI, Roberto Robaina destaca em seu livro “A Ascensão da Extrema Direita e o Freio de Emergência” afirma que, “ pela primeira vez, depois de 1945, um partido de linha neofascista chegou ao poder. Agora, esse bloco de extrema direita tem como centro o ataque aos trabalhadores, às classes populares, às mulheres, às pessoas LGBTQIA+ e aos imigrantes que são os grupos oprimidos”. Fazendo referência aos herdeiros do fascismo de Mussolini, que obtiveram 26% dos votos , e o partido da extrema direita de Giorgia Meloni que começou a governar a Itália em setembro de 2022. Essa coalizão reuniu a liga de Matteo Salvini e os liberais conservadores da Força Itália de Silvio Berlusconi.
Conforme Cas Mudde em “ A Extrema Direita Hoje”, existiram três ondas da extrema direita pós-guerra, entre 1945 e 2000, a partir da análise do cientista político alemão Klaus von Beyme. O neofascismo de 1945 a 1955, o Populismo de direita, de 1955-1980, a Direita radical de 1980-2000.
Chama a atenção o período de 1980-2000, o avanço da direita radical. De acordo com o autor, a primeira onda significativa de extrema direita na Europa ocidental mostrou seus primeiros sinais já no início dos anos 1980, mas ganhou força somente na década seguinte. Alimentados pela imigração em massa e pelo desemprego, e, com uma década de atraso, os partidos de direita radical começaram a ocupar de forma lenta, porém constante ,os parlamentos.
Ainda de acordo com Cas Mudde, surgiu uma quarta onda a partir dos anos 2000. A extrema direita ingressou numa quarta onda no século XXI, capitalizando política e eleitoralmente a partir de três crises: os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e posteriores, a recessão econômica de 2008 e a crise dos refugiados de 2015.
Segundo Mudde, todas as democracias ocidentais foram afetadas, ainda que de maneira diferentes, pelo surgimento de uma onda nunca vista de política islamofóbica e populista, a qual abalou as estruturas do status quo político internacional e dos próprios países.
O neofascismo do século XXI, com a ascensão da extrema direita, em vários países e inclusive no Brasil, tem uma nova face. Como Donald Trump nos EUA, Milei na Argentina, Benjamin Netanyahu em Israel (aque promove o genocídio em massa contra o povo palestino), Victor Orban na Hungria, Jair Bolsonaro no Brasil (que tentou liderar a intentona de golpe de Estado no Brasil e promoveu o 08 de janeiro de 2023 com o ataque e quebra-quebra dos prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto e planejou o assassinato do então eleito presidente Lula, de seu vice Geraldo Alkimim e do ministro STF Alexandre de Moraes e foi condenado pelo STF a 27 anos de prisão) , Meloni na Itália, são os novos expoentes da extrema direita internacional, representam da mesma forma o capital financeiro e frações das burguesias nacionais e frações da classe média e operárias, de seus respectivos países e são os agentes da necropolítica.
O combate ao neofascismo é a tarefa mais urgente neste período que atravessamos. Não somente a classe trabalhadora, mas para todos que anseiam e reivindicam a emancipação da humanidade, devem travar uma luta sem tréguas contra a extrema direita, sem repetir os erros do passado.
Nesse sentido a iniciativa da I Conferencia Internacional Antifascista em Porto Alegre, que se realizará no mês de março de 2026, abre a possibilidade concreta da unidade de ação daquelas e daqueles que querem lutar e da possibilidade da constituição de uma frente-única antifascista, de todas as organizações, que vão desde a esquerda democrática até a extrema esquerda marxista, agregando, os partidos políticos, o movimento sindical e as organizações da sociedade civil, comprometidas com a defesa dos interesses imediatos e históricos dos de baixo, e da classe trabalhadora.
Os marxistas revolucionários sob a bandeira da IV Internacional, estão imbuídos desta tarefa, conjuntamente com os setores progressistas e com a comunidade internacional, de impedir a ascensão e o avanço da extrema direita no mundo, e do ataque permanente contra os regimes democráticos, numa perspectiva de avançar para uma democracia socialista onde a destruição do meio ambiente, a desigualdade entre a riqueza e a pobreza terá que ser suprimida!