Cartilha do Povo de Terreiro: educação, memória e resistência contra o racismo religioso
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Cartilha do Povo de Terreiro: educação, memória e resistência contra o racismo religioso

Lançamento da 2ª edição da cartilha do mandato de Luciana Genro (PSOL) reforça a aliança entre Parlamento e povos de terreiro na defesa da liberdade religiosa e da cultura afro-gaúcha

Tatiana Py Dutra 14 nov 2025, 12:05

Foto: Tatiana Py Dutra/Esquerda em Movimento

O lançamento da 2ª edição da Cartilha do Povo de Terreiro, conduzido pela deputada estadual Luciana Genro (PSOL) na Câmara Municipal de Porto Alegre, reafirmou o compromisso do mandato com a luta antirracista e com a valorização das religiões de matriz africana no Rio Grande do Sul. Elaborado em parceria com mães e pais de santo, o material se consolida como uma ferramenta de educação popular e de enfrentamento ao racismo religioso, uma iniciativa que parte do mandato, mas nasce das vozes e demandas do próprio povo de axé.

Luciana relembrou que a primeira edição já havia sido “um sucesso gigantesco”, com “mais de 150 mil exemplares distribuídos”, e destacou que o objetivo central permanece:

“A cartilha foi criada com o intuito de ensinar aos que não são de religião […] a respeitar, a admirar e a valorizar o Povo de Axé e as religiões de matrizes africanas como uma expressão genuína da cultura brasileira.”

A nova edição, ampliada, traz glossário, canais de denúncia, orientações sobre direitos e explicações sobre o sagrado, inclusive reafirmando que “o tambor é um instrumento sagrado”, e não barulho, conforme orientação recente da Defensoria Pública. Para Luciana, reconhecer esse sagrado é essencial para enfrentar práticas discriminatórias:

“Não se pode, em hipótese nenhuma, tratar o som do tambor como barulho ou poluição sonora. […] O preconceito contra o povo de Axé é parte de um racismo estrutural.”

A fala da Yalorixá Carmen de Hollanda deu profundidade espiritual e histórica ao ato, celebrando o papel dos terreiros como espaços de vida, cura e resistência:

“Religião afr o-brasileira simplesmente é vida. O ar, a água, a terra, o fogo — tudo nos conecta. […] Terreiro não é só acolhimento: é educação, é assistência social, é psicologia, é sabedoria ancestral.”

Em homenagem a Luciana, ela completou:

“Ela diz que não tem religião, mas ela é a própria religião. Ela defende a vida — e defendendo a vida, ela nos defende.”

A presença do vereador Roberto Robaina reforçou o compromisso do PSOL com essa luta. Ele lembrou que o mandato de Luciana tem sido ponto de apoio para o povo de terreiro justamente por estar comprometido com a igualdade e com a defesa de todas as formas de espiritualidade:

“A força do mandato da Luciana está no vínculo com ideias ligadas à igualdade e à liberdade. Por isso é o melhor tipo de mandato para defender todas as religiões.”

Robaina também destacou como o racismo religioso decorre da própria estrutura social brasileira:

“Há uma associação histórica entre a igreja oficial e a classe dominante. Por isso é tão importante fortalecer quem luta por um estado realmente laico, que respeite todas as crenças — sobretudo as que sempre foram perseguidas.”

O evento também marcou a entrega do Troféu Guardião da Ancestralidade, homenagem a 70 mães e pais de santo que, com coragem e generosidade, sustentam terreiros como territórios de memória, solidariedade e resistência. Como destacou Luciana, “É uma homenagem a quem carrega o axé nos ombros e no coração, a quem mantém as portas abertas mesmo nas dificuldades, a quem transmite saberes sem esperar nada em troca.”

Ao consolidar esse material educativo e ao celebrar as lideranças que mantêm viva a tradição afro-gaúcha, a cartilha cumpre um papel político fundamental: democratiza conhecimento, fortalece comunidades, combate as bases culturais do racismo e afirma a liberdade religiosa como direito inegociável.

Assim, a segunda edição da Cartilha do Povo de Terreiro não é apenas um material de divulgação — é um instrumento de luta, memória e afirmação da identidade negra no Rio Grande do Sul. É um passo indispensável para que, como disse Luciana,

“Que a gente não escute mais ninguém dizer que a religião do Axé é coisa do demônio”

e para que cada terreiro siga sendo o que sempre foi: lugar de fé, de cuidado, de cultura e de resistência. 

Para solicitar o envio gratuito do material para a sua região, preencha o formulário: https://encurtador.com.br/oFOr

Sem perseguição e com visibilidade

Comprometida com a pauta há anos, Luciana Genro vem realizando uma série de encontros em diversas cidades do Rio Grande do Sul para dar voz e visibilidade ao Povo de Terreiro, que constantemente é ameaçado e vítima de perseguição política e institucional. Os debates já ocorreram em Porto Alegre, Região Metropolitana, Cachoeirinha, Viamão, Alvorada, Canoas, São Leopoldo, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, Pelotas, Passo Fundo, Marau, Lajeado, Carazinho, Charqueadas e Feliz, reunindo milhares de pessoas. Como resultado de toda essa mobilização, recentemente a Defensoria Pública do Estado e a Defensoria da União publicaram um documento oficial reconhecendo o direito das religiões de matriz africana de realizarem seus rituais com liberdade e respeito, sem perseguições ou interrupções por conta dos sons sagrados.


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