LGB sem T é transfobia!
A ofensiva antitrans da extrema-direita é parte do mesmo projeto que destrói direitos e aprofunda opressões
Foto: Antra/Divulgação
Tem surgido, no Brasil e no mundo, um movimento que tenta separar lésbicas, gays e bissexuais das pessoas transexuais, travestis e não-binárias. Intitulando-se “movimento LGB”, que nada mais é do que uma pequena parcela de pessoas vinculadas à direita e extrema-direita que têm se organizado em grupos como LGB Alliance, LGB International e Aliança LGB Brasil.
Buscam, com isso, descolar as lutas por orientação sexual daquelas por identidade de gênero, afirmando falsamente que os direitos das pessoas LGB seriam “ameaçados” pela presença das pessoas trans. Um discurso que invisibiliza e ataca os direitos que lutamos há anos para conquistar e garantir.
Esse movimento rapidamente ganhou a simpatia da mídia burguesa, que de forma oportunista tenta parecer que há um grande “racha” no movimento, pois representa os interesses da burguesia brasileira, que odeia as pessoas trans, travestis e não binárias, colocando-as na margem da sociedade, com empregos precarizados e barreiras no acesso à educação.
Essa narrativa, que parece nova, na verdade retoma táticas antigas de divisão e cooptação. A extrema direita tem se apropriado dessa pauta, utilizando discursos disfarçados de progressistas para infiltrar o antitransfeminismo e a transfobia em setores do próprio movimento LGBTQIA+. Trata-se de uma estratégia calculada: dividir para enfraquecer, moralizar para controlar e apagar para dominar.
Mas não nos enganemos. Essa é a mesma extrema direita que radicaliza seu discurso antitrans para cooptar pessoas para o seu campo político e econômico. É o mesmo campo que, representado por Donald Trump, tira orçamento do combate ao HIV/AIDS, refletindo no mundo inteiro, mesmo que vários países convivam com uma epidemia do vírus. É a mesma extrema direita que, representada por Milei, eliminou o Ministério das Mulheres, Gênero e Diversidade e dissolveu o Instituto Nacional contra a Discriminação, em um ataque direto às mulheres e às LGBTQIA+.
O projeto político por trás do “LGB sem T” não é emancipatório, é reacionário. Não enfrenta as estruturas que produzem opressão, mas tenta enquadrar corpos dissidentes dentro da norma capitalista. Ao negar a legitimidade das identidades trans e travestis, reforça as mesmas hierarquias de gênero e sexualidade que o movimento LGBTQIA+ historicamente combateu.
O movimento LGBTQIA+ precisa reafirmar que não há libertação possível sem a inclusão das pessoas trans e travestis. A luta contra a transfobia é inseparável da luta contra o racismo, o sexismo e o capitalismo, porque são sistemas entrelaçados no processo de exploração da classe trabalhadora e de manutenção das opressões.
A importância das pessoas travestis e transexuais remonta ao início do nosso movimento organizado. Nomes como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera estiveram na linha de frente da Revolta de Stonewall.
No Brasil, durante o início da epidemia de AIDS, enquanto nem mesmo o Estado brasileiro acolhia as pessoas vivendo com HIV, foi uma travesti que tomou a linha de frente do cuidado: Brenda Lee, com sua casa de acolhimento.
Por isso, qualquer tentativa de separar o “LGB” do “TQIAPN+” é mais do que uma divergência política, é uma ofensiva ideológica que tenta desmontar décadas de luta unificada de corpos dissidentes.
As LGBTs precisam compreender que nossa luta é, e continuará sendo, antissistêmica. Não há liberdade para alguns sem liberdade para todes.
LGB sem T é, e sempre será, transfobia.