sou do mundo, sou Minas Gerais.
Sobre o falecimento de Lô Borges e o legado mineiro na musica popular brasileira
A partida do músico e compositor Lô Borges é uma perda e um marco, assim como sua existência o foi para a música popular brasileira. Uma semana de apreensão, infelizmente foi seguida dessa notícia, mas pra nós que aqui ficamos (seja em minas, na américa latina ou em qualquer canto do mundo) ficamos onde Lô deixou um legado musical de uma vida.
Para além dos feitos que nasceram na esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis em Belo Horizonte, Lô dedicou toda a vida à música, envolvendo artistas de várias gerações em suas colaborações e sempre compondo novos trabalhos para a sorte dos seus ouvintes. De Mercedes Sosa a Elis Regina, Lô Borges é sempre uma união de alto nível.
Em 2022, a última apresentação em concerto de Milton contou com a presença de Lô no palco com Beto Guedes, Wagner Tiso e Toninho Horta. Esse momento foi a prova que o legado desse encontro histórico venceu os limites do tempo. Eles apresentaram a canção Para Lennon e McCartney,que reverencia uma outra colaboração histórica que mudou o mundo pós guerra. Ao mesmo tempo que, ironicamente, nos lembra que aqui no continente onde Minas é o coração, temos nossos próprios cânones que nos bastam e tornam a vida, que é sempre mais dura do que doce, ainda mais doce.
É verdade que as novas gerações estão bem servidas também com Djonga, Marina Sena, Julia Guedes e outros artistas mineiros. Artistas que ouviram e ouvem, talvez mais em aplicativos do que em rádios, as músicas dos álbuns Clube da Esquina. Não por acaso a capa do álbum Heresia (2017) do Djonga tem a mesma composição da capa do álbum Clube da Esquina (1972): dois garotos sentados com uma interação desconfiada e espontânea com a câmera. Sei que anos depois descobriu-se a identidade dos garotos na fotos, mas me parece que sua principal importância é que são garotos ‘’quaisquer’’, desconhecidos. Assim como os mineiros são, ficam conhecidos sorrateiramente e abalam estruturas. Por isso, a totalidade do álbum e sua localização na música brasileira se combinam com a escolha estética da capa: antes de tudo, eram meninos desconhecidos em Minas em busca do seu canto. Agora são autores do maior álbum de música brasileira de todos os tempos.
Ouçam os mineiros!
Ouçam Clube da Esquina repetidas vezes!
Lô vive e viverá nesse encontro.