As facções vestem terno – do caso do Banco Master ao Refit
A forma de combater a linha da extrema direita é fortalecer o embate contra o crime organizado, a partir de uma perspectiva realista: que mire os donos do poder, os bilionários como Vorcaro e Magro, suas intrínsecas relações com agentes públicos
Duas grandes operações da PF tiveram lugar nas últimas semanas. A primeira foi a que prendeu o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, em tentativa de fuga, após o colapso das operações do banco. Semanas mais tarde, outra operação, dessa vez mirando o dono do Refit, o bilionário brasileiro que vive em Miami, Ricardo Magro. Em ambos os casos, a combinação entre a sonegação de impostos, a lavagem de dinheiro e a relação íntima com círculos políticos poderosos. No mesmo período, Derrite, mandatado por Tarcisio Freitas, operou na câmara federal, não sem crises, a aprovação do projeto conhecido como “antifacções”. Para além do endurecimento de penas, o projeto debilita operações e prerrogativas da Polícia Federal, mirando contra os territórios e os pobres, reiterando a impunidade para os de cima.
A corrupção tirou dos cofres públicos, segundo um jornalista, mais de cem bilhões, se somados os últimos quatro escândalos- além de Master e Refit, o das Americanas e a recente operação “Carbono Oculto”.
O real problema do crime “organizado” e suas relações
A chacina promovida por Castro no Rio de Janeiro foi um ponto de inflexão no discurso e na prática da extrema direita. Em meio à defensiva do bolsonarismo pela prisão de Jair, a estratégia é “mudar a agenda”, respondendo como em outros países à lógica da crise social, mirando na “segurança pública”, com o argumento trumpista de “narcoterrorismo”. O projeto de Derrite é parte central dessa estratégia, com vistas à 2026, inclusive.
Os principais responsáveis e maiores beneficiários vivem longe das favelas. Nas operações que detiveram Vorcaro e Magro, o que mais chamou a atenção foi o tamanho da ostentação e suas fortunas: bens de luxo, carros importados e mansões.
Castro e o governador do DF, o golpista Ibaneis Rocha tiveram participação fundamental nas operações fraudulentas do Banco Master, como por exemplo a entrega de milhões da previdência do funcionalismo público fluminense.
Abalo sísmico no “mundo político”
A recorrência das operações da PF vai ligando os fios das verdadeiras máfias, como as relações das facções criminosas com a lavagem de dinheiro nos postos de gasolina, caso da Refit, gerando pânico em parlamentares e gestores públicos, sobretudo os ligados ao Centrão.
Aparecem na imprensa, além dos governadores, nomes fortes como Ciro Nogueira; ele foi o grande articulador das emendas que buscam anistiar devedores como Magro, sendo que foram organizados eventos públicos, com a presença de Claudio Castro, Hugo Motta, Dr Luizinho, Jaques Wagner, que comprovam a “céu aberto” essa relação. Relação que alcança a ministros do STF e mesmo o governo da Bahia.
Quando fechávamos esse editorial, o presidente da ALERJ, Rodrigo Bacellar, acabara de ser preso na operação “Unha e Carne”, acusado de facilitar informações para o deputado TH Jóias pudessem eliminar provas. TH Joias está acusado de envolvimento com tráfico de armas e relações com pesos pesados do Comando Vermelho. A operação da PF não poderia ser mais emblemática: no Rio e no Brasil, o crime e a política são “Unha e Carne”.
Combater os donos do poder do crime organizado
A proposta do Deputado Distrital Fábio Felix, de uma ampla CPI que investigue as relações entre o BRB e o Banco Master, está pendente de uma assinatura para ser instalada. É uma medida fundamental que pode inspirar outras.
Quanto ao presidente da Alerj, Bacellar deve ser preso e cassado, onde o PSOL deve lutar contra a impunidade que se costura dentro da casa para votar sua absolvição no começo da próxima semana.
A forma de combater a linha da extrema direita é fortalecer o embate contra o crime organizado, a partir de uma perspectiva realista: que mire os donos do poder, os bilionários como Vorcaro e Magro, suas intrínsecas relações com agentes públicos. Isso exige uma esquerda independente que possa denunciar os diferentes nexos da corrupção, atacando a camada dirigentes da facções que oprimem diariamente a vida de milhões de brasileiros.
Isso combinado com a luta por uma outra visão de segurança pública, mais ampla, que não seja voltada para a defesa dos grandes patrimônios, marcada pela lógica punitivista e pela letalidade, sim por uma visão comunitária e coletiva de segurança.