Barbárie britânica na Jamaica – apoio à luta dos trabalhadores negros
Artigo de 1938.
Não posso crer que eu não esteja certo ao afirmar que o trabalhador das Índias Ocidentais nem sequer se parece remotamente com o trabalhador inglês. (Leonard Lyle, Presidente de Tate and Lyle Ltd. – De uma carta ao The Times, 10 de maio 1938).
Tate & Lyle, como devem saber todos os que compram açúcar, fazem uma fortuna a cada ano vendendo aos trabalhadores britânicos o açúcar cultivado pelos trabalhadores da Jamaica. Devem manter estas duas partes [trabalhadores britânicos e jamaicanos] divididas a qualquer custo. Portanto, com essa solene infâmia tão característica do capitalismo britânico, Lyle descobre que o trabalhador das Índias Ocidentais não se parece nem remotamente com o trabalhador inglês. O verdadeiro problema é, obviamente, que ele se parece demasiado com o trabalhador inglês na opinião do senhor Capitalista Lyle.
A Jamaica é a maior das ilhas britânicas das Índias Ocidentais, e tem uma população de quase um milhão de habitantes, em sua maioria negros. Os negros são descendentes de escravos dos que os capitalistas britânicos concordaram libertar há cem anos porque o trabalho escravo nas Índias Ocidentais já não compensava. Estes negros de hoje não têm outro idioma além do inglês, perderam o contato com a África, sua perspectiva é ocidental, e em algumas ilhas três quartos da população sabe ler e escrever. Mas a capital branca [Kingston] sempre dominou as ilhas e continua fazendo isso. O governo está em mãos dos brancos, locais e britânicos. Estes dão à classe média de cor bons empregos nos serviços civis, a fim de mantê-la calada. A constituição do governo outorga uma concessão de má vontade aqui e acolá, mas o Colonial Office[1] se encarrega de que o poder permaneça nas mãos do governo.
Sir Leonard Lyle dirá que é porque o trabalhador das Índias Ocidentais não se parece com os britânicos. Mas o motivo vai além do que isso, muito além.
Em 1929 veio a crise, e o capitalismo britânico encontrava-se esgotado. O que deveria ser feito? Não muito, mas ao menos poderiam espremer um pouco mais suas colônias. Em Ottawa decidiram manter os produtos japoneses baratos fora das colônias e fazer que estes negros, tão diferentes do trabalhador britânico, comprassem produtos de maior preço com salários menores. Os moradores das ilhas não tinham voz no assunto, evidentemente, sob a benevolente proteção da Grã-Bretanha. O resultado foi uma miséria generalizada. Logo veio a “recuperação”, ou seja, o desemprego se converteu em 1,5 milhão em lugar de 2,5 milhões. Mas os lucros aumentaram. O trabalhador das Índias Ocidentais pode ler e escrever. Podia ver os lucros subindo, mas ainda tinha que viver com um ou dois xelins[2] por dia. Além disso, em algumas das propriedades açucareiras, os trabalhadores ainda viviam nas choças há mais de cinquenta anos. Os trabalhadores sabem sobre os serviços sociais na Grã-Bretanha, subsídio de desemprego, por pequeno que seja, etc. Mas eles não possuem permissão para ter sindicatos. Exigiram melhores salários e melhores condições. Entretanto, os empregadores, como Leonard Lyle, pensavam que estes homens eram impertinentes. O resultado foi uma série de distúrbios contra os quais o Governo não duvidou em disparar, deter líderes, encarcerar e deportar agitadores. Mas a situação é tão má e os trabalhadores estão tão determinados que o Governo e os capitalistas veem que precisam fazer algumas concessões e gestos como algumas casas novas, etc. Permitiram sindicatos em Trinidad mas querem esses que sejam controlados pelo Governo.
O que os trabalhadores das Índias Ocidentais necessitam é uma mudança radical em todo o sistema de governo. Em 1897, uma comissão foi às Índias Ocidentais e recomendou que se desmembrassem as grandes propriedades e se estabelecessem os proprietários campesinos. O secretário era um jovem que em 1930 voltou a trabalhar em outra comissão, desta vez como presidente. Lord Olivier. Ele recomendou novamente que as propriedades não-econômicas fossem desmembradas. Mas não se fez nada. O governo está em mãos dos capitalistas e plantadores, os quais se preocupam por si mesmos e seus lucros. Sindicatos? Sufrágio masculino? Um governo eleito pelo povo? Impossível! Porque, diz Sir Leonard Lyle, o trabalhador das Índias Ocidentais é fundamentalmente diferente do trabalhador britânico.
Um movimento poderoso agora está em marcha em todas as ilhas. Os trabalhadores britânicos devem apoiá-lo. Uma vez que os trabalhadores das Índias Ocidentais têm seus direitos democráticos, podem e estão dispostos a lutar. A magnífica greve geral em Trinidad[3] demonstra que, igual à militância dos trabalhadores de Trinidad, Citrine e Transport House não tomam nenhuma iniciativa para ajudar a organizá-los. Os trabalhadores britânicos devem, em seus sindicatos, pressionar pelos direitos democráticos plenos para os trabalhadores das Índias Ocidentais. Tate e Lyle planejam abrir fábricas na Jamaica. Querem aproveitar a mão de obra que ainda não tem o direito de se proteger. Assim, o negro é usado contra o branco e Leonard Lyle busca envenenar a mente do trabalhador britânico contra os trabalhadores coloniais.
Em 23 de maio, os marinheiros estadunidenses no porto de Kingston, Jamaica, se negaram a reprimir nos estivadores negros e coletaram assinaturas em favor dos grevistas. Essa é a verdadeira solidariedade internacional. Os trabalhadores britânicos não ficarão para trás. Aqueles que desejem enviar uma resolução de protesto ao Gabinete Colonial, ou de solidariedade das Índias Ocidentais e uma assinatura, por pequena que seja, podem fazer isso através do escritório do Fight[4] ou através do Escritório Internacional do Serviço Africano de 129 Westbourne Grove, uma organização dedicada aos interesses da luta negra.
Fight, Vol. 1, No.3, Junho de 1938. pp.1-4. Tradução de Charles Rosa.
[1] Foi um ministério da Grã-Bretanha e depois do Reino Unido, criado pela primeira vez para fazer frente aos assuntos coloniais da América do Norte britânica, mas também para supervisionar o crescente número de colônias do Império Britânico.
[2] Moeda histórica do Reino Unido.
[3] Entre 1934 e 1939, eclodiram diversas rebeliões laborais nas colônias caribenhas do Reino Unido.
[4] Fight era o jornal do Marxist League, grupo trotskista integrado por CLR James.