Tática Eleitoral: um Plano B como Plano A para o PSOL-SC
As contradições dos arranjos locais planejados para levar o PSOL à chapa catarinense de Lula/Alckmin estão dadas. Entretanto, ainda há tempo para unificar o partido e construir uma alternativa socialista para Santa Catarina.
As expectativas sobre definições com a “janela partidária” (período legal no qual a mudança de legenda não acarreta na infidelidade partidária) foram frustradas. As composições em Santa Catarina, para a eleição próxima, permanecem com as direitas divididas e as “esquerdas” cada vez mais próximas de um, previsível, giro à direita. Os alinhamentos nacionais, em alguma medida confusos, colaboram para as indecisões locais: optará o lulismo por dois palanques no primeiro turno, sem condição de representação no segundo?; o bolsonarismo será fiel a uma única opção oficial?; as terceiras vias serão marginais, esperando um fenômeno de não polarização?; a esquerda socialista seguirá marcando passo e ficando à reboque das definições dos bastidores dos quais não sai convidados?
Os fatos têm dificultado aos otimistas do alinhamento à Lula/Alckmin as comemorações. Enquanto o fisiologismo estava operando, os “lulistas do PSOL” propagavam a construção de uma “Frente de Esquerda sem Golpistas”, mas os golpistas passaram a figurar dentre as mais novas e importantes aquisições dos seus “aliados”. Primeiramente, os golpistas assumidos: Dário Berger, senador eleito pelo PMDB, agora no PSB; e, Jorge Boeira, Deputado Federal pelo PP, agora no PDT. Segundamente, o bolsominion assumido: Gelson Merísio, derrotado no segundo turno para governador em 2018, ainda pelo PSD, com passagem meteórica pelo PSDB, onde figurou como pré-candidato a Governador, agora assumindo uma posição “democrática”. Logo, é dedutível a dificuldade para contemporizar tantas excrescências no projeto, em tese, plausível de unificar as oposições ao bolsonarismo em SC.
Percebamos que, quando um dos melhores quadros do PSOL-SC, tanto do ponto de vista da elaboração, quanto da representação parlamentar, precisa ser auto-lançado/autoproclamado como pré-candidato secundário na chapa majoritária da frente em construção de Décio Lima (PT), diz muito sobre a condição subalterna na qual está sendo jogado o partido. Certamente, o trauma do 7º Congresso do PSOL, especialmente o episódio de Chapecó, refratou a discussão comum entre os campos políticos e faltam contrapesos para impedir decisões exclusivamente pessoais, dentre figuras com legitimidade na base, mas que não devem ignorar a nova correlação de forças estabelecida no partido em SC.
Enquanto isso, a direita mais empedernida, representada pelo senador Jorginho Mello, tornou-se órfão da candidatura ao senado do “Véio da Havan” para capitalizar eleitoralmente o bolsonarismo, dito como majoritário, no nosso estado. O atual governador, Carlos Moisés (agora no Republicanos, mas eleito na onda bolsonarista pelo PSL), apostando no orçamento de 1000:1 (transferência do orçamento do estado de R$1 mil por habitante) para ganhar prefeitos da direita tradicional para o seu projeto e ampliar sua base eleitoral. Dentre os outros pré-candidatos das direitas estão os “ex”: o agora ex-prefeito de Jaraguá do Sul, milionário e recentemente revelado como investigado em um caso de pedofilia; o também agora ex-prefeito de Floripa, que já foi filiado em mais da metade das legendas de aluguel e da direita em SC, com recente derrota moral pela potência da greve das municipárias na capital; e, para finalizar os principias bichos desse zoológico, o ex-promotor de Blumenau, um “servidor-público-liberal” filiado ao “Novo”, tentando uma reedição do paladino/justiceiro.
Enquanto isso (parte 2), a maioria estabelecida precariamente no PSOL-SC percebe a necessidade de um “Plano B” dado o insucesso no intento em coesionar localmente os setores com Lula/Alckmin. De outra ordem, as correntes e o coletivo que compõem o campo à esquerda no PSOL seguem em marcação de passo, restringindo a construção de uma candidatura à governadora ao cálculo de uma conferência eleitoral, esquecendo que repetirá a proporção do recente congresso. Ambos os campos, por mais traumático que tenha sido o 7º Congresso do PSOL, de forma muito forte em SC, não podem impedir nossa capacidade de fazer política. Precisamos estabelecer mínimas condições para construção unitária. O PTL (o campo PSOL de Todas as Lutas, que inclui os subcampos do PSOL Semente e PSOL Popular) tem obrigação de compreender o limite de sua própria tática, ao mesmo tempo que o setor à esquerda precisa ser menos refratário ao debate e fortalecer o partido, apesar da concepção errática que a condução majoritária pode repercutir, na nossa perspectiva.
É importante chamar à atenção para o cálculo, bem óbvio, do projeto Lula/Alckmin: não interessa eleitoralmente ao ex-presidente dois palanques em SC apenas no 1º turno. Dário e Décio, em chapas separadas, provavelmente serão eliminados de um segundo turno. Veja, isso é sobre o pragmatismo, não importa quais são os laços entre Décio e Lula, a cabeça de chapa ficará com quem virtualmente pode chegar no 2º turno, ou seja, é Dário, com o PT, com o PSB, com o PCdoB, e etcetera, inclusive com Merísio. Precisamos reconhecer os erros internos, parte a parte, para entender como podemos avançar nesse cenário funesto.
Resgatar a unidade no PSOL-SC pode significar termos a primeira cadeira na ALESC, um espaço para reverberar as pautas insurgentes, assim como contribuir para nacionalmente superarmos a cláusula de barreira na chapa de deputades federais. Talvez, esse debate sobre a legalidade do partido dentro do Estado burguês seja estranho para organizações que têm flertado com o esquerdismo/oportunismo, resumidos a aceitar uma direção sectária como quem constrói, por exemplo, o Pólo Socialista e “Revolucionário”, capitaneado pelo PSTU. Desculpe, mas não se constrói partido com um pé do lado de fora. O MES tem o PSOL enquanto partido estratégico, não meramente tático, ou temporário. Isso delimita muito como estabelecemos nossas relações orgânicas, de como se faz uma unidade para além das diferenças táticas.
Continuando sobre as diferenças táticas, a aprovação da federação do PSOL com a Rede é uma forma de nova batalha interna e ainda mais rasa. Localmente, pautamos para que o debate não ficasse restrito à direção executiva e que as forças políticas, mesmo que movidas por um sentimento de “ódio” à direção majoritária, tivessem condições de fazer o debate no Diretório Estadual. Ainda assim, o oportunismo (ainda sobre o pé do lado de fora) tem feito leituras acerca da posição que assumimos. Obviamente, as mesmas correntes políticas que se esquivaram do debate nacional fizeram o mesmo aqui, mas não fugimos à nossa posição de defender a legalidade do PSOL, ainda que custe acusações desmedidas de aliados de ontem. Mantemos a coerência e diálogo por um PSOL Independente e Anticapitalista.
De toda essa sopa, restam muitas dúvidas possíveis e imediatas, restringindo ao debate de tática eleitoral para o PSOL-SC: Qual é o Plano B do PTL? Seria possível a maioria colocada unificar o partido? Quem de fato são nossos aliados? Seria uma boa opção ser o PSOL mais Lulista que os Lulistas/Alckimistas? Como coesionar nosso partido, localmente, em torno de um projeto com tantos traumas? Podemos pensar uma proporcional para chegar na ALESC e ter uma cadeira para reverberar a luta? Nossa chapa de federais pode fazer além da cláusula de barreira?
Esse texto começa com perguntas e termina com perguntas, convidando à construção de uma síntese, ainda que a mínima possível, para sermos Partido e não partido. O plano A dos setores mais à esquerda do PSOL pode ser o plano B do outro setor. Não é demérito. É hora de subverter o óbvio.