Luciana Genro: política de conciliação de classes impede unidade permanente da esquerda
A deputada estadual do PSOL gaúcho Luciana Genro foi entrevistada pelo jornalista Breno Altman.
Via Opera Mundi
A deputada estadual gaúcha Luciana Genro, fundadora e dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), afirmou em conversa com o jornalista Breno Altman, no programa 20 MINUTOS desta terça-feira (30/08), que a unidade permanente da esquerda, testada nas alianças formadas para a eleição de 2022, encontra obstáculo nos conflitos de classe acomodados dentro da coalizão atual em torno de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin.
“Para que essa unidade de fato seja permanente, é preciso dar respostas que vão além da política de conciliação de classes que o PT defende para governar”, afirma a candidata à reeleição para a assembleia gaúcha, que foi vencida na defesa de que o PSOL apresentasse candidatura própria à presidência e que atualmente está engajada na eleição de Lula.
“Se a gente se unir simplesmente chancelando o mesmo modelo político e econômico, o risco é que a extrema direita volte a crescer, mesmo que seja derrotada nas eleições agora”, argumenta.
Genro sustenta que o PSOL não deve integrar o governo caso Lula seja eleito, preservando uma independência que garantiria um canal livre de expressão de insatisfações pela esquerda, e não apenas pela extrema direita bolsonarista.
“Não tenho dúvida de que no momento atual seria necessário recuar e estar com Lula já, para que Bolsonaro não possa fazer a mudança no regime que deseja fazer. Estamos no risco de cerceamento de liberdades democráticas”, justifica a candidata presidencial pelo PSOL em 2014, que fez oposição ferrenha aos governos de Lula e Dilma Rousseff.
Sua corrente partidária, Movimento da Esquerda Socialista (MES), apregoa o não-alinhamento a um eventual governo Lula. “Achamos que o PSOL precisa manter sua independência para poder ser o desaguadouro de descontentamentos que venham a surgir com o governo, garantindo que esse descontentamento seja canalizado pela esquerda”, declara. Assim, os limites impostos pela amplitude da coalizão atual não seriam tensionados apenas pela extrema direita bolsonarista.
“As respostas que o lulismo dá não vão ser suficientes para que possamos derrotar a extrema direita não só eleitoralmente, mas também do ponto de vista social, nas ruas”, ela opina, mantendo a defesa das Jornadas de Junho de 2013. “Aquele movimento de massas surgiu como um levante da juventude por direitos, que depois acabou, sim, capturado pela direita, porque o governo não deu as respostas necessárias. Precisamos pensar como dar resposta àquelas demandas populares que encontraram na direita e no bolsonarismo um canal para se expressar, depois de tantos anos de governos de coalizão do PT com o MDB e a burguesia.”
Genro nega que seu grupo político tenha deixado de lutar contra o golpe em Dilma, em 2016. Diz que a divergência à época deu-se, inclusive no interior do próprio PSOL, pela proposta de convocação de novas eleições gerais, em vez da adesão ao “fica Dilma”. “Jamais qualquer um do MES expressou apoio ao impeachment”, observa.
Seu apoio à Operação Lava Jato, diz, baseou-se no princípio de “jamais ser conivente com corrupção” e passou a ser questionado por ela quando leu a primeira sentença do então juiz Sergio Moro contra Lula. “Ali ele demonstrou que queria pegar Lula a qualquer custo, e começou a ficar claro que havia uma intenção política por trás”, argumenta.
“Tive, sim, uma avaliação positiva, assim como Glenn Greenwald, que depois denunciou as manobras que vieram à tona com o hacker, e como a maioria do povo brasileiro, que estava vendo grandes vilões da política nacional serem presos, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e toda a cúpula do MDB do Rio de Janeiro”.
E completa: “Obviamente pudemos depois perceber que a corrupção que ocorreu foi utilizada para promover um golpe parlamentar, perseguir o petismo, encarcerar Lula e possibilitar que Bolsonaro fosse vitorioso.”
No estado natal da advogada e deputada, PT e PSOL protagonizam coalizão inédita, em que Edegar Pretto e Olívio Dutra, ambos do PT, concorrem a governador e senador, com Pedro Ruas, do PSOL, como vice de Pretto.
“Foi o melhor acordo que o PSOL conseguiu em nível nacional”, comemora. Dutra encabeça uma candidatura coletiva ao senado, com o compromisso de que os suplentes, Roberto Robaina, do PSOL, e Fátima Maria, do PT, assumam o cargo por quatro meses a cada ano. A psolista demarca diferença entre a coalizão nacional e a local: “Olívio tem brincado que Ruas é o Alckmin do Lula ao contrário. Aqui não temos setores da burguesia dando sustentação à candidatura de Edegar”.
Luciana Genro comentou na entrevista questões de política internacional sobre Chile, Colômbia, Venezuela e Cuba. “A vitória de Lula precisa ajudar esse processo, e não freá-lo”, afirma, referindo-se às mobilizações populares que levaram a esquerda ao poder no Chile e na Colômbia. E explicou também sua oposição ao governo russo de Vladimir Putin na guerra da Ucrânia: “É uma briga inter-imperialista. Não vejo que o imperialismo norte-americano ou russo mereça nosso apoio”.
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