Pelé é eterno
34812254320_598bab7ff3_o

Pelé é eterno

Cada jogo era uma festa. Só depois fui tomar consciência que a imagem daquela Seleção e a de Pelé eram usadas pelos gorilas da Forças Armadas

Danilo Serafim 4 jan 2023, 09:54

Hoje, 2 de janeiro de 2023, no final de um cortejo que mobilizou milhares de pessoas vindas de todos os lugares do Brasil e de fora do país, foi sepultado Edson Arantes do Nascimento. Mas o Rei Pelé, esse ficará em nossos corações e mentes para sempre. Tornou-se imortal.

Tive a oportunidade de ver Pelé jogar, quando ainda tinha 10 anos, na Copa do Mundo de 1970. Meu pai adquiriu um televisor a cores. Um dos poucos aparelhos coloridos em minha cidade. E nossa casa ficou repleta de pessoas, de amigos das minhas irmãs mais velhas, a molecada do bairro. Era uma festa. 

Cada partida da Seleção era uma festa. Um evento. A partida que mais me marcou foi a semifinal entre Brasil e Uruguai. O ataque da esquadra brasileira era caçado em campo. O Uruguai abriu o placar. Gol de Cubilla. Um frango de Félix. O time uruguaio o tempo todo descendo a lenha na seleção brasileira.

Pelé era quem mais apanhava da zaga uruguaia. Já tinha sido pisoteado no chão pelo marcador oponente. Até que, num dado momento do segundo tempo, a nossa seleção tinha virado o jogo. Pelé levou a bola para a ponta esquerda do campo e, quando o zagueiro uruguaio tentou uma entrada desleal por trás, Pelé acertou uma cotovelada no beque da esquadra celeste, Dagoberto Fontes. Ele não sabia só apanhar, ele aprendeu a bater também. Na Copa de 1966, Pelé foi caçado em campo até sair quebrado no jogo contra Portugal, e o Brasil foi eliminado. 

Mas aquela cena da semifinal contra o Uruguai foi marcante para mim. Pelé fez dois lances geniais naquela partida. O chute de bate-pronto na reposição de bola do goleiro Mazurkiewicz e o drible de corpo sem tocar na bola, deixando o goleiro do Uruguai entortado vendo a redonda passando rente à trave esquerda. O jogo terminou 3 a 1 para o Brasil, com gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino. O Brasil estava na final contra a Itália.

Assim, eu cresci em um campo de futebol em casa. Nunca mais perdi uma partida do Santos, quando era transmitida pela TV. Assisti a todos os filmes sobre o craque: “Isto é Pelé” (1974) , “Pelé Eterno” (2004), e até mesmo “Os Trapalhões e o Rei do Futebol” (1986). 

Ainda não tinha a dimensão do que estava acontecendo naquele período. Os anos de chumbo da ditadura militar. Só depois fui tomar consciência que ao mesmo tempo em que vibrávamos com a Seleção, pessoas eram torturadas, mortas e assassinadas; e que a imagem daquela Seleção que tanto nos encantou, e a de Pelé em particular, era utilizada pelos gorilas da Forças Armadas.

Pelé na minha infância foi um herói. Na verdade havia três heróis: Pelé, Muhammad Ali e Martin Luther King Jr. (ainda não conhecia Malcolm X). Esses homens negros mudaram a minha história e a de tantas outras pessoas.

Pelé, o maior de todos! O homem que fez parar guerras para que o povo pudesse vê-lo em campo. O deus de ébano que encantou multidões em todo o planeta. Adeus, Edson Arantes do Nascimento. Descanse em paz. Pelé é eterno.


TV Movimento

Palestina livre: A luta dos jovens nos EUA contra o sionismo e o genocídio

A mobilização dos estudantes nos Estados Unidos, com os acampamentos pró-Palestina em dezenas de universidades expôs ao mundo a força da luta contra o sionismo em seu principal apoiador a nível internacional. Para refletir sobre esse movimento, o Espaço Antifascista e a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco realizam uma live na terça-feira, dia 14 de maio, a partir das 19h

Roberto Robaina entrevista Flávio Tavares sobre os 60 anos do golpe de 1º de abril

Entrevista de Roberto Robaina com o jornalista Flávio Tavares, preso e torturado pela ditadura militar brasileira, para a edição mensal da Revista Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 16 maio 2024

Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade

Para responder concretamente à crise, é necessário um amplo movimento que organize a luta pelas demandas urgentes do estado
Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 49
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”