Morte de trabalhadores queimados em Vinhedo é expressão de mundo do trabalho degenerado
Educadores da cidade paulista se solidarizam com as vítimas da explosão na indústria Adelbras.
Como trabalhadores da educação pública no município de Vinhedo, procuramos nos últimos anos conhecer e estreitar os laços de solidariedade e luta com outras trabalhadoras e trabalhadores da cidade.
Foi com muita tristeza que soubemos da explosão seguida de incêndio na indústria de adesivos Adelbras em Vinhedo na quarta-feira de 25 de janeiro de 2023. Um helicóptero e ambulâncias foram mobilizadas para socorrer as vítimas. Ao todo 12 trabalhadores sofreram queimaduras e precisaram de atendimento médico. Cinco deles em estado grave. Lamentavelmente, dois trabalhadores morreram nos dias seguintes em consequência das queimaduras causadas pelo fogo.
Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), revelam que entre 2012 e 2021 no Brasil, 22.954 trabalhadores perderam a vida em acidentes no trabalho.
As longas jornadas de trabalho, o ambiente tenso por conta da aceleração do ritmo de trabalho, a pressão pela redução de custos (incluindo itens e procedimentos relacionados à segurança), além do assédio moral e das ameaças de demissão (que constrangem os trabalhadores a não reclamarem de situações inadequadas às quais são expostos) são alguns dos instrumentos utilizados pelos patrões para nos controlar e desarticular a luta por melhores condições de trabalho e vida.
A OIT apontou que em 2016, quase 2 milhões de pessoas morreram de causas relacionadas ao trabalho. A investigação abarcou não só acidentes, mas também doenças associadas à condições laborais degradantes. Essa cifra assustadora nos mostra que como todos os grandes desafios da luta de classes, esse tema exige um olhar e uma postura internacionalista.
Recentemente autoridades do governo de extrema direita do Qatar tentaram esconder o verdadeiro número de trabalhadores imigrantes que morreram nas obras de construção das instalações para a realização da copa do mundo no país. Após pressão internacional, assumiram um número mais de dez vezes menor do que o número apontado pelo jornal inglês The Guardian (6.700 mortes). A estratégia de ocultar as mortes, mais do que omissão, é uma declaração de culpa.
É muito comum observarmos discursos em que as empresas se colocam como preocupadas e zelosas por seus trabalhadores, pois a “marca” de responsabilidade social é atualmente valorizada como estratégia de propaganda. No site da Adelbras, em que ocorreu o acidente em Vinhedo, vemos referências como de valorização do “lado humano dos processos” e de que “sem o talento e paixão de seus colaboradores não teria chegado tão longe”. Porém, esse discurso oficial é muito pouco condizente com o histórico da empresa de assédio, práticas antissindicais e acidentes com mutilação de trabalhadores.
A luta da classe trabalhadora é para que se mude radicalmente o sistema de produzir e distribuir a riqueza socialmente produzida. Como tarefa essencial para a construção desse horizonte, precisamos ampliar a conscientização sobre as condições degradantes em que o capitalismo lança aquelas mulheres e homens que trabalham assim como os tantos outros que nem mesmo têm a oportunidade de um trabalho regular. Precisamos combater os adoecimentos e mortes no trabalho, lembrando que esses problemas ocorrem fundamentalmente para que se mantenham e aumentem as taxas de exploração e lucro.
Virginia Baldan e Potiguara Lima são educadores na cidade de Vinhedo, membros do PSOL e do MES