Greve no metrô-SP: há esperança na luta!
Paralisação foi suspensa, mas categoria está mobilizada para a campanha salarial prevista para as próximas semanas
Foto: Metrô/CPTM
Acaba de terminar a greve dos metroviários da cidade de São Paulo. Foi um processo riquíssimo, após dois dias de mobilização, nos quais a categoria conseguiu torcer o braço da intransigência do governo Tarcisio.
A greve iniciou ontem, quinta (23/03), com uma adesão importante de toda a categoria. As principais reivindicações são o pagamento de direitos atrasados, além da ampliação do efetivo, com a contratação imediata de novos funcionários por meio de concurso, e a luta constante contra as tentativas de privatização.
Ao presenciar os primeiros piquetes do dia, no pátio e estação Jabaquara, pude notar a disposição de luta da vanguarda dos metroviários, em um clima de categoria moralizada e com a cabeça erguida.
O ponto alto foi a luta pela “catraca livre”, um método inovador que garantia o trabalho dos metroviários e o acesso gratuito da população ao metrô, durante todo um dia. Os operadores de trem estavam a postos para fazer o serviço funcionar, ganhando amplo apoio popular.
Depois de negociar e supostamente aceitar a liberação do acesso, a direção do Metrô e o governador Tarcísio manobram para impedir o funcionamento com as catracas abertas. A resposta da categoria, em assembleia, foi a de manutenção da greve. A manobra desastrada do governo indignou e uniu ainda mais os metroviários.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) recomendou a abertura de negociações, o pagamento do abono de R$ 2,5 mil por ano devido, cancelamento de qualquer punição aos grevistas, bem como o não desconto dos dias parados. Além disso, autuou o metrô em R$ 100 mil por “conduta antissindical”.
Tarcisio e o prefeito Ricardo Nunes decretaram ponto facultativo na quinta-feira, tentando impedir maiores prejuízos. E, no começo da manhã de hoje, tiveram de fazer uma contraproposta de pagamento de uma parcela de abono de R$ 2 mil para buscar uma negociação. A proposta foi aceita em assembleia, ainda que o resultado tenha sido apertado, mostrando uma ampla participação dos metroviários, com disposição de seguir a luta. Vale lembrar que o próximo “round” é a campanha salarial prevista para as próximas semanas, na qual o resultado da greve se mostra importante.
Houve um amplo apoio da população, motivado pela perspectiva da abertura das catracas e pela intransigência do governo. Esse endosso, quando se trata de uma greve no setor de transportes, é um dado qualitativo e decisivo para a vitória da paralisação. A “virada de chave” da tática da catraca aberta impõe um novo paradigma, bastante positivo para as lutas de metroviários em toda parte. Uma novidade importante.
O PSOL esteve impulsionando o apoio à greve com a presença de militantes e parlamentares, além de colocar suas mídias e redes sociais a serviço da vitória dos metroviários.
Há uma dimensão política fundamental na luta da categoria em São Paulo: o projeto privatista de Tarcisio sofre uma primeira derrota, com menos de cem dias de gestão. Isso é um impulso para outras lutas em curso, como a dos servidores da USP, dos funcionários da Sabesp, dando ânimo e autoconfiança para o conjunto da classe.
Seguimos insistindo que a derrota eleitoral de Bolsonaro abre uma Caixa de Pandora de demandas represadas nas categorias, sobretudo em São Paulo, onde governa a extrema direita; essa contradição vai seguir latente e o papel da esquerda militante é ser porta-voz e apoiadora dessas demandas, para que adquiram o alcance de maioria social.
A greve vitoriosa dos metroviários, com a inovadora tática de catraca aberta, reafirma a importância dessa condição.