Escolas precisam aprender a lidar com o discurso de ódio
Cultura da violência invadiu instituições de ensino e pode estar por trás de atentado realizado hoje em escola de SP
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Avança no Brasil uma chaga antes considerada distante de nosso ambiente escolar: crimes contra professores, funcionários e alunos. Pesquisa do Instituto Sou da Paz divulgada em novembro passado revelou que, nos últimos 20 anos, o país registrou 11 episódios de ataques com armas de fogo em instituições do Ensino Básico. Pelo menos outros cinco episódios de violência com outros tipos de arma, como facas, foram computados em levantamento da CNN Brasil.
O mais recente ocorreu na manhã desta segunda-feira (27), na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista. Um aluno de 13 anos atacou professoras e colegas com uma faca. A professora Elisabete Tenreiro , de 71 anos, morreu no ataque. Outras três crianças e dois docentes ficaram feridos. A tragédia poderia ser pior não fosse a habilidade de uma professora em imobilizar o jovem agressor.
O episódio expõe outro tema premente: como lidar com discursos de ódio no ambiente escolar. Isso porque, conforme informações de testemunhas, o adolescente agressor teria tecido comentários racistas contra um colega de classe na semana anterior, e os desdobramentos disso estariam por trás do crime.
Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) lamentou o crime, sem deixar de atentar para a possibilidade de uma relação entre o atentado e movimentos de extrema direita. Segundo a parlamentar, o atentado pode ter sido motivado por fóruns anônimos na internet.
“[Esse tipo de crime] não era muito comum no Brasil e infelizmente cresceu nos últimos anos, fomentado pelo ódio e pela violência”, disse. “É preciso investigar a deepweb como espaço de encontro para vozes violentas. Só que nesse caso não é só violento, é uma agressão que tira vidas. Uma brutalidade sem tamanho”, afirmou.
Fernanda acredita que é preciso uma postura mais ativa dentro das escolas e em movimentos sociais para combater esse tipo de violência.
“Nós ativistas e deputados precisamos fazer uma grande campanha a favor da escola pública, de combate ao ódio e à extrema direita para que vá enfrentando no tecido social mesmo a cultura da violência”, completou.
CPI Antifascista
A vereadora Mariana Conti que foi presidentada CPI Antifascista da Câmara de Vereadores de Campinas, também destacou o mesmo ponto.
“É urgente construirmos uma educação livre do ódio e da violência!”, disse, em suas redes sociais.
A CPI Antifascista identificou que as ideologias propagadas por grupos nazistas e fascistas – que tiveram expansão de 280% durante o governo Bolsonaro – exercem forte impressão entre os jovens, especialmente os brancos de classe média. As instituições de ensino precisam ser orientada sobre como agir nesses casos, além de ajudar a prevenir o aliciamento das mentes de jovens e adolescentes
“É necessário a existência de políticas pedagógicas que combatam os mais diferentes preconceitos, o revisionismo histórico em relação ao nazismo, à ditadura e à escravidão, além de políticas de reparação das vítimas”, disse Mariana Conti à época da divulgação do relatório da CPI. “Nosso objetivo é colaborar. A partir do diálogo com pesquisadores nós queremos apresentar no relatório traços gerais da presença dos grupos nazistas e fascistas na cidade de Campinas e, assim, colaborar com os trabalhos investigativos que cabem à Polícia Civil”.