Investigado e investigador: quem é o presidente da CPI do MST
Militar e bolsonarista, Tenente-Coronel Zucco é alvo de investigação da PF por apoio e patrocínio a atos golpistas
Foto: Câmara dos Deputados/Divulgação
Nesta terça-feira (23), deve ocorrer a primeira sessão da CPI do MST. O curioso é que os trabalhos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra inicia com o próprio presidente da comissão sendo investigado. A Polícia Federal (PF) apura se o deputado federal Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) seria um dos patrocinadores dos atos golpistas ocorridos no Rio Grande do Sul. A ordem foi expedida na última quarta-feira (17) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Conforme denúncia levada ao Ministério Público Federal (MPF), o parlamentar de extrema direita teria participação direta no bloqueio de estradas gaúchas e no incentivo aos vândalos que destruíram prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
O incentivo teria ocorrido por meio de postagens em redes sociais, após vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em outubro de 2022. Como as mensagens teriam sido feitas antes do início do mandato como deputado federal, a investigação foi aberta e iniciada no TRF-4, sendo remetida agora ao STF em respeito à prerrogativa de foro privilegiado.
Quem é
Militar conservador, Zucco é o que se pode chamar de “bolsonarista raiz”. Estreou na política nas eleições de 2018, quando foi eleito deputado estadual, por sugestão de Jair Bolsonaro (PL) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS) – chapa para a qual fez campanha e, mais tarde, trabalhou na equipe de transição do antigo governo.
Foi eleito deputado federal na última eleição e, recentemente, indicado pela oposição para presidir a CPI do MST, que pretende investigar um suposto aumento de invasões de terras no governo Lula. Sua indicação é fortemente questionada, em função de suas ligações com o agronegócio e com suas convicções contrárias à reforma agrária e movimentos que reivindicam redistribuição de latifúndios. Em seu livro, “Fazuéle: De volta à Cena do Crime”, Zucco afirma que “invasões de terra viraram rotina”, que o MST é “terrorista” e “grupo criminoso travestido de movimento social”.
O parlamentar ainda apresentou um projeto de lei que propõe a exclusão de integrantes do MST de programas sociais do governo federal, a proibição de nomeação ou contratação para cargos públicos, de forma direta ou indireta.
Zucco presidirá a CPI do MST tendo a seu lado parlamentares da mesma estirpe. Kim Kataguiri (União-SP) é o vice-presidente, enquanto o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, será o relator. Salles é investigado por crimes como corrupção, prevaricação e facilitação de contrabando por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro. Será sempre lembrado por defender “passar a boiada” no regramento ambiental a a “receber o MST a bala”.
O trabalho do trio será tentar criminalizar o MST e produzir uma cortina de fumaça para a CPMI dos Atos Golpistas, também prestes a começar no Congresso Nacional. Em entrevista à Revista Movimento, Sâmia Bomfim (PSOL-RS), a comissão será “uma oportunidade para expor o processo de grilagem de terras que hoje constituem latifúndios no Brasil; a existência de trabalho escravo no campo, e reforçar a importância da agricultura familiar e a produção de alimentos orgânicos.
“Eles querem construir uma narrativa de criminalização dos movimentos sociais para aglutinar suas bases e tentar tomar a dianteira da disputa política na sociedade, mas não há nenhum tipo de motivação. Eles mencionam algumas ocupações recentes que o Movimento Sem Terra fez, mas todas elas tiveram alguma justificativa política para terem acontecido. O MST e os movimentos sociais não têm nada a temer”, acredita.