Manifestação indígena contra o marco temporal é reprimida em SP
Repressão policial atacou manifestantes guaranis que protestavam pacificamente próximos à terra indígena Jaraguá, na zona norte de São Paulo. Veja o vídeo
A manifestação realizada hoje pelo povo Guarani Mbya contra o Projeto de Lei 490 (que trata do chamado marco temporal das terras indígenas ) foi violentamente reprimida pela polícia militar na Rodovia dos Bandeirantes, próximo à terra indígena Jaraguá ocupada por esta comunidade. A ação violenta contra os manifestantes, incluindo idosos e crianças, contou com grande aparato policial e a intervenção até mesmo de um helicóptero.
Confira abaixo o vídeo da repressão e leia o manifesto construído pela povo Guarani Mbya sobre a luta contra o PL 490:
POVO GUARANI CONTRA VOTACAO PL490
Posicionamento do Povo Guarani Mbya TI JARAGUÁ frente a votação do PL490
Nosso povo, originário desse território, sofre violência desde a chegada dos colonizadores, em particular do bandeirante Afonso Sardinha, impulsionado pelo enriquecimento através da exploração de ouro, de recursos da natureza e escravizando nossos antepassados.
Desde então esse território ficou sob uma disputa de posse:
De um lado o Estado com ameaça de posse do território, sob alegação de área de sobreposição entre o parque e a Terra Indígena, conflitando interesses com a portaria declaratória da demarcação do nosso território (que faz limite com o Parque Estadual do Jaraguá).
Nosso território sagrado existe há muito tempo, ou seja, estamos aqui desde muito antes da chegada dos colonizadores, estamos aqui muito antes de uma regulamentação e criação das áreas de parque.
E do outro lado, o avanço da especulação imobiliária que cresce desenfreadamente e sem plenjamento, em loteamentos em áreas de mata, nascentes de rios, visando os interesses da propriedade privada.
Diante desse cenário de destruição e matança nos deparamos com a votação, em caráter de urgência, nesta terça-feira, dia 30.05, do PL 490, toda a força que o aparato do Estado investe a fragilizando a política indigenista e também expondo a comunidade à violência de uma reintegração de posse, legitimando a retirada forçada dos povos de seus territórios ancestrais, podendo causar ações violentas legitimadas por esses projetos de lei, emendas da constituição e pelo Marco Temporal.
Decidimos, junto ao nosso povo, anciãs e anciões, guerreiras e guerreiros que é necessária uma resposta frente estes enfrentamentos promovidos pela política de ódio, antiindigenista que atua na contramão de todos os estudos e indícios dos desastres, e causas causas do aquecimento global.
A Terra Indígena Jaraguá vai resistir e nós pedimos ao Estado Brasileiro, o juruá rekó (modo de vida e cultura do não indígena), que tenha sentimento e respeito pela nossa existência e não atue com violência contra nosso povo, nós queremos manifestar nosso rezo, nosso canto, nossa dança, nossa fé.Nós só queremos mostrar ao não indígena que somos os guardiões e as guardiãs do bioma Mata Atlântica, que chamamos “nheery”, resistimos e protegemos essa mata, o Cinturão Verde da Mata Atlântica, e todas os recursos da vida que a Mãe Natureza oferece.
Aguyjevete para todo povo de luta!