Algumas palavras sobre a violência nas escolas e a tragédia ocorrida em Cambé
O militante da TLS Luciano Palagano comenta as mentiras do governador Ratinho Jr. sobre o ataque na escola do estado
Foto: Luciano Palagano / Facebook
O governador do Paraná, Ratinho Júnior, na ânsia de fazer campanha em cima da tragédia ocorrida na Escola Helena Kolody, no município de Cambé (PR), acabou divulgando duas informações falsas. Ele afirmou que o senhor que imobilizou o atirador é professor da escola em questão, e que teria passado por um treinamento ofertado pela SEED. Em uma única afirmação, temos duas mentiras! Mentiras divulgadas deliberadamente pelo chefe máximo do Executivo Paranaense, na ânsia, e na intenção de fazer propaganda política em cima de uma tragédia.
A primeira é que o senhor seria professor da escola, ele não é! Ele trabalha em uma clínica de fisioterapia que se localiza em frente à escola. A segunda mentira é sobre o tal curso! Esse curso não aconteceu na rede! Se algum curso foi feito, o mesmo aconteceu em algumas poucas unidades escolares, mas não na Rede Estadual de Ensino. E, sinceramente, um curso como este não seria nada mais e nada menos do que terceirizar a responsabilidade da segurança na escola para as suas potenciais vítimas: os educadores e os alunos.
Caro governador, como funcionário de escola, eu não quero um curso! Eu quero a garantia de que não estarei em perigo enquanto realizo o meu trabalho no ambiente escolar! E esta mesma garantia querem todos os educadores e estudantes do Paraná! Não queremos propaganda em cima da tragédia, queremos soluções! Mas soluções reais e não discursos falaciosos e soluções falsas como o tal botão do pânico no RCO! É preciso entender, e parece que o governo do Estado não tem essa capacidade, que a questão da violência nas escolas é bastante complexa. Não se pode afirmar que existe uma única causa.
O que enxergamos, quando fatos como estes ocorrem, é a consequência de uma somatória de fatores, que vai do bullying escolar, passando pelo extremismo propalado pela extrema-direita na sociedade que inclui movimentos de disseminação do ódio racial, misoginia, LGBTfobia e o ataque, cada vez mais frequente, à própria função docente. São fatores externos ao ambiente escolar que acabam por se encontrar no piso da escola, na sala de aula e, ali, são potencializados por situações internas como o bullying (que não existe só na escola).
E o próprio discurso apresentado como solução por determinados indivíduos, incluindo o próprio governador, como a militarização da educação, policiais no ambiente escolar, transformar as escolas em mini presídios… só colaboram para amplificar, mais ainda, a própria lógica da violência. Só se resolve a situação da violência nas escolas, ao se buscar resolver a situação da violência fora da escola, afinal, a escola não é um mundo isolado, mas está diretamente vinculada às contradições que existem no seu entorno. A diferença é que, no ambiente escolar, estas contradições se encontram e se amplificam mutuamente. E se a sociedade, e o governo, não levarem isso em conta em suas ações, em lugar de resolver, só irão amplificar mais ainda o problema.
Termino manifestando a minha solidariedade às famílias dos estudantes, e a toda comunidade escolar da Escola Helena Kolody, em Cambé (PR).
Luciano Egidio Palagano é Historiador, Agente Educacional II, Conselheiro Nacional na CNTE e Militante na TLS Sindical.