A prisão de Bolsonaro está na ordem do dia
O genocida está prestes a ser detido e desmoralizado: abre-se uma luta política contra a extrema-direita, que demanda o debate sobre a tática complexa de unidade e independência.
Há uma forte expectativa no país inteiro acerca da prisão de Bolsonaro. O avanço das investigações indica que diversos caminhos levam a isso. Seria uma enorme vitória popular, digna de grandes comemorações. O genocida está prestes a ser detido e desmoralizado – há, inclusive, quem especule a possibilidade de fuga para outro país, a fim de evitar ser colocado atrás das grades.
Os fatos novos envolvem o depoimento do hacker Walter Delgatti, que confirmou à CPI do 8 de janeiro que foi contratado por Carla Zambelli e manteve contatos com Bolsonaro e com os militares do Exército responsáveis pela “auditoria” bolsonarista das urnas eletrônicas, além das revelações do novo advogado de Mauro Cid de que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro vendeu, nos Estados Unidos, um relógio Rolex cravejado de diamantes, recebido pelo ex-presidente, corroborando a enorme quantidade de provas recolhidas pela Polícia Federal.
Quando fechávamos este editorial, fatos novos – como a apreensão de celular de Renan, filho caçula de Bolsonaro, e a quebra do sigilo de Zambelli – fechavam o cerco. Acuado, o genocida responde “mandei e daí?” à revelação de que pediu ao empresário Meyer Nigri que espalhasse fake news que alimentassem seu golpismo. Abre-se uma nova perspectiva de disputa contra a extrema-direita, uma luta política que demanda o debate sobre a tática complexa de unidade e independência.
Nossas trincheiras
A partir da vitória eleitoral de Lula, apresentamos a necessidade de seguir a batalha contra a extrema-direita no terreno político e social. A ação fracassada de 8 de janeiro colocou ainda mais na defensiva os golpistas e o bolsonarismo.
A resistência da extrema-direita internacional segue expressando-se, por exemplo, na vitória de Javier Milei nas primárias argentinas e na liderança de Trump nas pesquisas de opinião estadunidenses. No entanto, subestimar ou superestimar a força de um inimigo é um erro crucial. É necessário aproveitar com todas as forças a defensiva de Bolsonaro, para desmoralizá-lo e impor sua prisão, o que seria um ponto de apoio para desmoralizar também seu programa e seu projeto. Os setores mais atrasados da direita estão em claro recuo, ainda que temporário. É preciso passar à ofensiva, entendendo as relações de força sociais e políticas.
CPI do MST: a montanha pariu um rato
Para entender a relação de forças política, é preciso analisar as iniciativas que a extrema-direita organizou para aumentar sua audiência e fortalecer a oposição de direita, buscando manter viva sua base mais ativa. O inimigo escolhido foi o MST e a partir dele, diversos movimentos sociais.
Em suas últimas sessões, já está claro que a CPI foi desmoralizada e agora agoniza, marcada pelo papel exemplar das parlamentares do PSOL, em especial de Sâmia Bomfim, durante os depoimentos e no enfrentamento ao bolsonarismo. Ao mesmo tempo, revelou-se um aumento do apoio ao MST e a seus métodos de luta, ampliando a consciência da importância da reforma agrária, da agroecologia e da luta coletiva dos movimentos sociais.
A direita ainda está buscando um novo caminho: Tarcísio enfrenta-se com o movimento de massas, buscando testar um giro mais reacionário, apoiando-se em Derriti para justificar a chacina do Guarujá e em iniciativas privatistas para a educação e para entregar estatais como a Sabesp, o Metrô e a CPTM. O movimento negro, por sua vez, saiu às ruas na última quinta-feira (24) para contestar mais esse crime bárbaro da PM paulista, outro episódio do largo genocídio contra o povo negro e pobre, somado a outras chacinas no Rio de Janeiro e Bahia e ao assassinato da líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico.
A luta contra a extrema-direita e os limites do governo
A postura que o governo Lula teve até agora foi insuficiente para lutar de fato contra a extrema-direita. Um exemplo dessas insuficientes revela-se na escolha de Cristiano Zanin para o STF: seus terríveis primeiros votos – contra a diferenciação de usuário e traficante de drogas na contramão da maioria formada, a favor da manutenção de prisões por furtos de valores irrisórios e da participação de juízes em casos de que participem cônjuges ou parentes advogados – foram celebrados por bolsonaristas e reforçam na corte uma visão elitista e conservadora, cujas principais vítimas são a juventude negra, pobre e periférica, vítima da barbárie policial e do encarceramento em massa.
A luta contra a extrema-direita deve ser feita sobretudo nas ruas, com pressão social e popular para conquistar maioria social e derrotar o bolsonarismo. Em nossa atuação, temos nos orientado por essa estratégia, combatendo a direita e enfrentando os racistas, como mostram Sâmia Bomfim e Luana Alves. Temos lutado pela construção de um projeto militante para enfrentar os fascistas e construir uma alternativa que evite que o desencanto seja capturado por falsos personagens “antissistêmicos”. Por isso, estamos defendendo um PSOL militante, independente e anticapitalista no VIII Congresso do partido. Conheça nossa tese!